Um caminho (levemente inspirado em Kafka)

Um caminho, é tudo que eu via pela minha frente, não sei como havia parado ali, nem há quanto tempo andava, só sei que precisava caminhar, parado não podia ficar, uma densa névoa cobria a estrada onde estava, há pouco conseguia divisar árvores ao meu lado, agora não via mais nada, precisava andar com calma sem afobação, com aquela névoa não dava para se arriscar, como possa parecer não estava nem um pouco apavorado, nada me assusta neste mundo que eu não possa resolver sem sustos e com tranquilidade, mas há muito que eu andava, por isso parei para descansar, sentei-me próximo a um mourão da cerca que ladeava a estrada, adormeci rapidamente, a vontade era férrea em continuar, mas as leis do corpo imperam sobre a razão.

Quando despertei logo após, vi que tudo estava claro, a névoa havia desaparecido, deixando no seu lugar, um mundo onde nunca estive, pus me em marcha novamente, confiante que tudo aquilo acabaria, mas assim que voltei a andar, a bruma como estivesse à minha espreita, recomeçou intermitente, fina a princípio, mal enxergava à frente, mas nada me deteria, aumentei o passo, caminhei por horas, respirando aquela névoa gelada, que parecia entorpecer os sentidos. Em algum ponto aquela estrada daria, um vilarejo, talvez um cidade, mas tudo parecia não ter fim. Em um certo ponto a estrada se bifurcava, o destino talvez estivesse me dando uma escolha, bastasse fazer a opção certa, escolhi o caminho à minha esquerda, voltei a andar rápido, a névoa parecia querer estar se dissipando, quando acabou por fim já havia anoitecido, mas continuei com minhas passadas largas, estava prostrado, mas tinha que prosseguir, o terreno naquele ponto era arenoso, deixando muito mais penosa minha jornada. Há quanto tempo andava? Não saberia responder, mas em algum lugar aquela estrada iria dar, mas onde?

Enquanto andava percebia o caminho se estreitar cada vez mais, já sentia a vegetação a me roçar, talvez a trilha levaria a uma propriedade, já divisava um ponto opaco de luz que ia aumentando à medida que prosseguia, e se fosse um covil de ladrões? Pensei. Mas eu tinha que arriscar, tinha que procurar uma explicação p/ aquele pesadelo, mas chegou um ponto em que a luz parecia diminuir de intensidade, comecei a correr desesperado, não podia deixar essa oportunidade escapar, mas era tarde, apagou, tudo virou um imenso breu. Comecei a chorar desesperadamente, desde a morte do meu pai que não chorava, não conseguia conter as lágrimas, comecei a gritar como um louco, até ficar exausto, mas nada adiantava, tudo era silêncio, uma noite que pareceria durar eternamente, mas não durou, adormeci e quando acordei no dia seguinte, encontrei-me num clarão em forma de círculo feito no meio da mata, do meio dele saíam oito trilhos, parecia um sol emitindo raios, ao acaso escolhi um dos trilhos, andei muito por toda a manhã, só vim a descansar quando o sol já estava muito alto, mas tinha que prosseguir, continuei a andar com mais afinco, aí então eu percebi que chegava novamente a um círculo, só que de diâmetro menor de onde se bifurcava em três caminhos, escolhi novamente por acaso uma trilha, pus-me novamente em marcha, com calma, sem pressa, depois de muito andar, cheguei novamente ao que parecia ser o último círculo, este dividia-se em 2 caminhos, escolhi o que estava à minha direita, percorri sem medo, estava confiante, chegaria em casa, mas o caminho naquele ponto era íngreme, aladeirado, bom, pensei, pelo menos do alto, poderei ver com mais facilidade tudo que estiver ao meu redor, já havia escurecido, decidi porém continuar a andar até onde pudesse, cheguei no alto do que parecia ser um morro, empoleirei-me no cume de uma árvore a fim de ver melhor e notei que a estrada que havia tomado iria dar em uma luz muito branca, era a salvação ...

Depressa cheguei lá e só então vi que tudo havia chegado ao fim, daquele ponto em diante, partiam dezenas de caminhos por todas as direções da mata, minha vida seria de escolhas para sempre, eternamente confinado estava neste mundo.

NÁSSER AVLIS
Enviado por NÁSSER AVLIS em 03/12/2017
Código do texto: T6189286
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