NO DIA EM QUE MORRI
Morri em solidão, na tempestade. Uma chuvarada de sentimentos que se diluíram ao som de novas luzes, ainda com feridas por cicatrizar. Fim da estrada, uma leve chama a incinerar papéis invisíveis onde foram assinalados fatos marcantes da minha vida.
Acordei em novas cores, perdi pedaços, esqueci palavras, interrompi caminhadas. Ganhei novas roupagens, cabelos sedosos e brilho nos olhos. Era a renovação.
O sol do amanhecer chegou tímido, ouvi uma suave música com gosto de transição e me vi segurando a mão de um homem negro, de cerca de dois metros.Logo percebi que era um anjo, embora não tivesse asas. Olhei distante, vi mar e montanha e uma luz diferente iluminava dimensões ocultas da minha alma. Uma insaciável sede me consumia.
Logo à frente, um poço entre árvores, num enorme jardim. Sentado numa ponta, um homem de túnica branca, incrivelmente belo e de faces alvas e resplandecentes. Sem que eu pedisse, ofereceu-me uma moringa com água. Bebi-a avidamente e ele me ofereceu mais. Seus olhos eram singulares na expressão do mais puro amor e ternura. Delicadamente, avisou- me que morri, ou melhor, mudei de endereço, pois ali, a vida continuava. Explicou-me que não teria mais sede, estava começando um período de adaptação e na terra bebi a água da vida eterna. Logo veio à minha mente a mulher samaritana, a qual Jesus pediu água, no poço de Jacó...era ele! Era Jesus! Que emoção!
Muitas pessoas passavam por ali, umas mais apressadas, outras só passeando. Todas, porém, acenavam carinhosamente de longe, ou vinham e beijavam as mãos do Mestre. Crianças brincavam na relva com animaizinhos de estimação, pássaros cantavam no alto das árvores.
Mesmo extasiada por tão divina presença, dispersei-me em devaneios até que ouvi novamente a sua voz: “peça algo em meu nome ao Pai e serás atendida! –Respondi-lhe: “ah, meu amado Jesus! Eu perdoei meu marido pelo mal que me fez, mas não disse isso a ele, pois logo entrei em coma. Não quero que carregue essa culpa!” - Ele sorriu e me respondeu: “ainda hoje estarás com ele, mas não demores, pois aqui há muito a fazer e quero contar contigo, Marina.”
Num piscar de olhos estava diante de Giovani. Sentei-me ao seu lado, junto à mesa do café, mas ele não me via e nem ouvia. Olhei fixamente para a xícara que levava aos lábios. Ela desprendeu-se de seus dedos e começou a levitar, sem entornar o líquido. Olhei para o jarro de suco e aconteceu o mesmo. O homem se desesperou e gritou: “ é você! Eu sei que é você! Quer me punir! Quer me assombrar!”- Levantou-se desesperado e fitou o espelho, mas viu o meu rosto, não o dele. O pobre desmaiou. Puxa! Não consegui falar o que queria! Há muito tempo perdoei a sua traição. O perdão brotou do fundo do meu coração e o pobre vai ficar pensando que vim assombrá-lo por vingança!
Vi à minha frente um longo espaço de liberdade. Linhas sinuosas de reminiscências de tudo o que passei ao lado daquele homem se desfaziam como uma nuvem. Explorei rapidamente a minha passagem na existência, noturnas solidões nas madrugadas, feridas de frio, um cavalgar sem rédeas pelos campos da memória.Tudo me era indiferente! De nada tinha saudades ... nem mágoas!
Viajei na luz e vi-me novamente diante de Jesus. Ele pegou-me pela mão, sentou-se no gramado e deitei em seu colo. Expliquei-lhe que não consegui meu intento e, sem que entrasse em detalhes, ele me disse: “ Giovani não poderia te ouvir ,filha, pois é muito imaturo na fé, mas não te preocupes. Aparecerás em seus sonhos e poderás falar ,sem interrupções ou ataques de histeria. Ele entenderá e será uma pessoa melhor,pois lembrará dos teus exemplos.”
Meus sentimentos estavam ali, eternizados naquele sopro permanente de brisa. Jesus deu-me um longo abraço. Em seu olhar encontrei uma cumplicidade que jamais conheci em vida. Ali, com a cabeça em seu colo, acariciou- me os cabelos e vi entre lágrimas a grande dimensão do céu.
Morri em solidão, na tempestade. Uma chuvarada de sentimentos que se diluíram ao som de novas luzes, ainda com feridas por cicatrizar. Fim da estrada, uma leve chama a incinerar papéis invisíveis onde foram assinalados fatos marcantes da minha vida.
Acordei em novas cores, perdi pedaços, esqueci palavras, interrompi caminhadas. Ganhei novas roupagens, cabelos sedosos e brilho nos olhos. Era a renovação.
O sol do amanhecer chegou tímido, ouvi uma suave música com gosto de transição e me vi segurando a mão de um homem negro, de cerca de dois metros.Logo percebi que era um anjo, embora não tivesse asas. Olhei distante, vi mar e montanha e uma luz diferente iluminava dimensões ocultas da minha alma. Uma insaciável sede me consumia.
Logo à frente, um poço entre árvores, num enorme jardim. Sentado numa ponta, um homem de túnica branca, incrivelmente belo e de faces alvas e resplandecentes. Sem que eu pedisse, ofereceu-me uma moringa com água. Bebi-a avidamente e ele me ofereceu mais. Seus olhos eram singulares na expressão do mais puro amor e ternura. Delicadamente, avisou- me que morri, ou melhor, mudei de endereço, pois ali, a vida continuava. Explicou-me que não teria mais sede, estava começando um período de adaptação e na terra bebi a água da vida eterna. Logo veio à minha mente a mulher samaritana, a qual Jesus pediu água, no poço de Jacó...era ele! Era Jesus! Que emoção!
Muitas pessoas passavam por ali, umas mais apressadas, outras só passeando. Todas, porém, acenavam carinhosamente de longe, ou vinham e beijavam as mãos do Mestre. Crianças brincavam na relva com animaizinhos de estimação, pássaros cantavam no alto das árvores.
Mesmo extasiada por tão divina presença, dispersei-me em devaneios até que ouvi novamente a sua voz: “peça algo em meu nome ao Pai e serás atendida! –Respondi-lhe: “ah, meu amado Jesus! Eu perdoei meu marido pelo mal que me fez, mas não disse isso a ele, pois logo entrei em coma. Não quero que carregue essa culpa!” - Ele sorriu e me respondeu: “ainda hoje estarás com ele, mas não demores, pois aqui há muito a fazer e quero contar contigo, Marina.”
Num piscar de olhos estava diante de Giovani. Sentei-me ao seu lado, junto à mesa do café, mas ele não me via e nem ouvia. Olhei fixamente para a xícara que levava aos lábios. Ela desprendeu-se de seus dedos e começou a levitar, sem entornar o líquido. Olhei para o jarro de suco e aconteceu o mesmo. O homem se desesperou e gritou: “ é você! Eu sei que é você! Quer me punir! Quer me assombrar!”- Levantou-se desesperado e fitou o espelho, mas viu o meu rosto, não o dele. O pobre desmaiou. Puxa! Não consegui falar o que queria! Há muito tempo perdoei a sua traição. O perdão brotou do fundo do meu coração e o pobre vai ficar pensando que vim assombrá-lo por vingança!
Vi à minha frente um longo espaço de liberdade. Linhas sinuosas de reminiscências de tudo o que passei ao lado daquele homem se desfaziam como uma nuvem. Explorei rapidamente a minha passagem na existência, noturnas solidões nas madrugadas, feridas de frio, um cavalgar sem rédeas pelos campos da memória.Tudo me era indiferente! De nada tinha saudades ... nem mágoas!
Viajei na luz e vi-me novamente diante de Jesus. Ele pegou-me pela mão, sentou-se no gramado e deitei em seu colo. Expliquei-lhe que não consegui meu intento e, sem que entrasse em detalhes, ele me disse: “ Giovani não poderia te ouvir ,filha, pois é muito imaturo na fé, mas não te preocupes. Aparecerás em seus sonhos e poderás falar ,sem interrupções ou ataques de histeria. Ele entenderá e será uma pessoa melhor,pois lembrará dos teus exemplos.”
Meus sentimentos estavam ali, eternizados naquele sopro permanente de brisa. Jesus deu-me um longo abraço. Em seu olhar encontrei uma cumplicidade que jamais conheci em vida. Ali, com a cabeça em seu colo, acariciou- me os cabelos e vi entre lágrimas a grande dimensão do céu.