O Homem e o Abismo: Capitulo 1 “O Despertar”
Quando ele acordou estava deitado entre as folhas secas, estavam frias e molhadas, a umidade podia ser sentida na respiração. Ele levantou-se lentamente observando a paisagem que era tão diferente de tudo que já havia visto, mas ao mesmo tempo tão familiar. Era uma floresta escura e uma neblina fina limitava a visão. As árvores eram baixas e não muito densas, não havia muito espeças entre elas a não ser o necessário para se caminhar. As copas das árvores se misturavam formando o que parecia ser uma gigantesca árvore, talvez as raízes também fossem assim.
De pé, ele olhou ao redor, não podia deixar de se sentir nostálgico, do tipo de nostalgia que sabemos que é familiar, porém, não lembramos, como se fosse além de nossa existência. A familiaridade fez com que ele se sentisse em casa pela primeira vez em muito tempo. Ajoelhou-se e cavou, primeiro retirou as folhas, descobrindo uma camada de terra de cor preta que também foi retirada dando lugar a areia banca, o buraco logo foi tomado por água, e mais uma vez ele se sentiu mas em casa do que nunca antes.
Com as mãos sujas ele pensou sobre o por que havia cavado a terra, como se tivesse a necessidade de provar a realidade daquele lugar, como se pudesse achar algo por baixo das folhas. Lavou as mãos na água que agora estava cristalina, e sentiu que não havia nada além de água a baixo das folhas.
Sentia frio, mas não era físico, era algo fantasmagórico, como se nada pudesse aquecê-lo. Mas ele não estava como medo, ele de alguma forma sabia que ali não havia nem um mal, ele resolveu caminhar e tentar descobri onde esteva, mesmo com a visão limitada, era fácil caminhar entre as árvores daquele lugar, as folhas e galhos das árvores ficavam em sua maioria alguns centímetros a cima de sua cabeça, e no solo só havia folhas secas. Mesmo com a facilidade para se deslocar ele não sabia o que procurar e imaginava que não haveria nada para ser encontrado.
Questionou-se sobre que lugar era aquele, e por que era tão familiar, e no esforço de se lembrar percebeu que havia esquecido de onde vinha, e com isso percebeu que já não lembrava do próprio nome ou da família eu de qualquer coisa antes de acordar sobre as folhas. Mas sabia ele que quado acordou era alguém, e deixou de ser alguém quando se fez uma pergunta. Ele simplesmente se esqueceu, no desespero tateou os bolsos, onde em um dos bolsos da jeans preta encontrou uma foto. A foto o acalmou novamente, era uma mulher, familiar porém, desconhecida.
Ele sentia-se inexistente, perdera as lembranças e com elas sua existência. Mesmo sem lembranças sabia que aquele lugar mesmo familiar era desconhecido, e pensou que o único motivo de ter acordado com suas lembranças era saber disso. Percebeu então que o lugar substituiu suas lembranças, como se tudo aquilo fosse uma nova vida, uma nova realidade e uma nova existência.
Não era um sonho, sabia que não podia ser, mas também não queria acreditar que era real, talvez ninguém acreditaria. Ele continuou andando pela floresta que já parecia sem fim e o fato das árvores perecerem todas iguais não ajudava em sua localização. Mesmo sabendo que estava, ele não conseguia se sentir perdido, era como se tivesse onde deveria estar. Ele parou, olhou para o chão repleto de folhas e se sentou lentamente sobre elas.
A foto deveria estar em sua mão, ele a sentia, mas ela não estava. A chave do desespero foi perdida e ele chorou. Não havia mas nada, restara a penas o rosto de uma mulher em sua memória visto em uma noite escura. Ele chorou por não saber quem ela era, ele era, onde estava e porquê estava. Ele chorou por achar que não mas existia, por não lembar de ninguém em sua vida que talvez pudesse sentir sua falta. Ele chorou porquê estava com medo, o medo que ainda não sentira, agora o atacou como se uma lança acertasse seu coração. Ele chorou porquê sofria, sofria por sua inexistência e desimportância. Ele chorou por horas e sentia que choraria ainda mais. Encolhido com a cabeça entre os braços que estavam cruzados e apoiados nos joelhos, ele se deixou cair e quis dormir até que a noite desse lugar ao dia. Não havia céu, só folhas e galhos sem fim. E também não havia dia.