SALA DE ESPERA

Sala de espera

Eu já havia passado por situações semelhantes, mas aquela superava as anteriores, pela expectativa geradora de uma nova emoção, pelos protagonistas da cena e pela análise das circunstâncias, que me permiti fazer. Devíamos estar ali uns quatro ou cinco homens, todos pais de família, irmanados na mesma aflição, na mesma pressa e com a mesma angústia. É engraçado como esses momentos de espera e incerteza têm a capacidade de unir as pessoas, de gerar solidariedade, levando-as a uma identificação, a uma abertura de coração. “É o primeiro ?” Perguntou alguém. “Sim, foi a resposta, e como muito sacrifício...” “É, atalhou um terceiro, com essa vida cara como está, é impossível se pensar em ir adiante...” “Pois o meu é o quinto, e esses momentos sempre me angustiam muito”. O nervosismo era geral. Um fumava um cigarro atrás do outro. Outro, bem jovem, caminhava nervosamente pela sala, causando um mal estar geral. Eu sabia que ia demorar o tempo que fosse necessário, independente de minha pressa ou preocupação. Enquanto aqui o ambiente era de tensão, lá dentro, pelos ruídos característicos, notava-se grande atividade, com os profissionais entrando e saindo, alheios a nossos olhares apreensivos. “Imaginem, disse um, quebrando o sepulcral silêncio, isto é coisa para enlouquecer qualquer um! De um lado, para nós a incerteza do diagnóstico e do desfecho, e do outro a certeza de uma considerável conta a pagar, mesmo que as coisas corram dentro da mais absoluta normalidade. “Ora, brincou um deles, isso não é problema. Se a despesa for muito alta, paga-se com cheque especial”. Um que se mantivera calado, resolveu falar: “O pior são as complicações... já vivi um caso assim: estava tudo bem, mas na hora “H” deu uma complicação daquelas...” Nisso a porta se abriu. Apareceu um especialista. Em seu uniforme e em suas mãos notava-se marcas do nobre serviço que estava fazendo. Chamou um dos que estavam ali e informou-lhe que havia complicações, e que a coisa ia demorar, e não havia previsão de horário. O companheiro de espera deixou-se afundar na poltrona, colocou a cabeça entre as mãos e quedou-se imóvel e silencioso. O especialista olhou para mim, deu um sorriso e informou: “O seu já está pronto!” Quase gritei de contentamento quando abriu-se a grande porta, e por ela saiu meu automóvel, devidamente lavado e consertado.

Antônio Mesquita Galvão