Refugiado

Entrei num país estranho como refugiado. Começaria alí uma vida nova. Não sei do que fugia, só sei que fugia. Fui recepcionado em um hotel de luxo, onde um banquete era servido à pessoas distintas, muito ricas e sem rostos. Na entrada, meus pertences, que se constituiam de uma mochila lateral tipo fotografo (a mesma que uso na vida consciente) contendo as Obras padrão Sud, bloco de anotações, e canetas, foram deixados aos cuidados de simpaticos serviçais, também sem rostos... Lá fora a neve acumulava-se aos montes, o frio era intenso e da janela, procurava na escuridão alvacenta, um lugar propicio para passar a noite, sabendo que não tinha um pila no bolso e que logo a recepção terminaria, não poderia hospedar-me ali.

Ao sair, o frio era de expressão. ausentei-me do ambiente aconchegante e cheguei a portaria, onde haviam três indivíduos, rostos enrugados, barbas emaranhadas oscilando entre o grisalho e o amarelado, dentes podres e cabelos amarrados, desgrenhados e fedidos, começaram a rosnar ordens em tom ameaçador, se dizendo guardas alfandegários. Na sala sombria, fui reaver minha mochila para dar o fora, já que era um simples imigrante, se ilegal, não consigo lembrar e de pequenos reservatórios, semelhante a "residencias necropolitanas" ou tumbas, bem pequenas, começaram a tirar objetos, mostrando-me... a chuva que agora escorria pelas paredes, inundava as caixas de pedras, ensopando livros, papeis, telefones celulares... Sobre uma lapide quadrangular repousava uma pilha de bíblias e livros de Mórmon esfarrapados, molhados... mais abaixo, outros símbolos religiosos, como crucifixos e outros estavam jogados e enferrujados. Um dos personagens horríveis gritou que naquele país não entraria nenhuma missão estrangeira e portar materiais de culto era uma afronta a "religião oficial"

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Algumas horas depois despertei, era 10h03 da manhã.

Fiquei relembrando a nitidez de cada cena, de cada personagem e da multidão de ricos sem rostos...

Não... aquilo não foi um simples pesadelo.