O portão.
Liliel era um anjo que vivia no paraíso e tinha como responsabilidade cuidar do portão que existia entre o mundo dos humanos e os seres celestiais. Liliel era pura energia de luz, quando algum humano tentava fazer contato com o seu mundo, ele abria os portões e apresentava os caminhos pelos quais os seres humanos podiam escolher para viverem suas memórias, imaginações ou o caminho para o incerto. A isso, os humanos chamavam de meditação, viagem astral e morte.
Quando os humanos passavam pelo portão, só conseguiam visualizar um clarão forte que ofuscava sua visão, mas eles não sabiam que era Liliel, nem sequer podiam imaginar, pois para eles tudo começava quando visualizavam os diferentes caminhos: túneis, calçadas de pedras, cachoeiras, estradas com árvores ou a última imagem que estava diante dos seus olhos...
Enéria, era uma humana que adorava os conhecimentos acerca do misticismo, gostava muito de meditar, mas nessa hora ela não meditava só se lembrava de que estava fazendo algo importante e de repente viu um clarão, então buscou saber onde estava.
Ela estava novamente passando pela luz de Liliel, será que estava em alguma viagem astral? Não, ela sabia que àquela hora não era momento pra fazer fazer viagens astrais como gostava as vezes de tentar, então buscou se concentrar em seu corpo terrestre, ela tinha uma sensação de que algo a puxava para trás, tentava buscar as memórias de coisas recentes em sua mente.
E enfrentou a luz e tentou com tanta vontade que conseguiu sentir a energia de Liliel, foi muito estranho porque ela sentiu uma paz diferente, um descanso parecido com o que era costume após as meditações, essa luz pareceu ter um contato concreto firme com seu corpo e por mais que Enéria tentasse andar pra frente não conseguia, ela estava sendo puxada pra trás e a luz que a tocava não a deixava passar.
Liliel abriu os portões como costume e viu aquela coisa, aquilo que os humanos chamavam de mulher, ela já havia passado pelo portão várias vezes, porém desta vez ela trazia uma aura escura, cheia de medo e agonia. Liliel não podia deixa-la escolher algum caminho porque ela não estava preparada naquele dia, ele não sabia as razões disso, mas o fato é que a mulher não poderia escolher caminho nenhum. Então, Liliel pôs-se a sua frente, bastava deixa-la perdida e voltaria para o seu mundo, o anjo já havia feito isso infinitas vezes, mas como a mulher não voltou, Liliel teve de tocá-la, foi quando olhou em seus olhos, era a primeira vez que ele contemplava o rosto de um humano depois de ter visto a criação do homem, mas este rosto era diferente, era curioso, assustado, mas tinha uma luz que brilhava de forma diferente mesmo trazendo escuridão para a sua luz.
Ao tocar na mulher a energia de Liliel misturou-se com a aura que Enéria trazia e ele entendeu o que era o medo que essa mulher trazia e entendeu também que apesar do medo ela tinha esperanças e esse sentimento, os anjos não conheciam. E Liliel se apaixonou por esse sentimento, ele gostou muito de sentir e quis se tornar humano para viver com esse sentimento para toda a eternidade, mas ele lembrou que os humanos não viviam para sempre nos seus mundos, por isso, muitos deles passavam pelo portão para viverem com os seres celestiais.
Liliel então concluiu que essa esperança que a humana sentia era boa, mas somente os humanos precisavam senti-la para viverem sabendo que por mais difíceis que pudessem ser seus dias, era preciso acreditar que na vida terrena, nada é eterno e só no reino celestial, a eternidade será de glória. Uniu suas forças celestiais e empurrou a mulher para fora dos portões.
Enéria arregalou os olhos, sentia seu corpo endurecido e estava deitada, havia no quarto um médico, uma enfermeira e o anestesista. Ela estava durante a cesariana e havia tido uma queda de pressão, estava tão nervosa e preocupada para que tudo desse certo. Mas ao voltar desse clarão, sentia uma paz que não conseguia explicar. O médico disse que a hemorragia estava contida, ela e a criança ficariam muito bem, quis saber o nome do bebê, Enéria respondeu:
_ Élpis, ela será a personificação da esperança e da fé!