REFLEXÃO DE UM MORIBUNDO
Hoje amanheci assim: gélido, estático, bem vestido e até maquiado. Sempre fiz questão de ter espaço. Parece que essa não é maior preocupação deles nesse momento!
Um cubículo apertado. Meio à penumbra. Uma vela aqui e acolá! Música sacra ao fundo.
Há tempos não parava para observar as pessoas ou mesmo estar atentas ao que elas diziam.
Minha mente não é capaz de compreender porque estou nessa situação, mas ao mesmo tempo me permite perceber o tempo presente com muita perspicácia.
Parece que meus sentidos estão ampliados. Não que sinta mais sensível, mas a visão e audição me permite ver e ouvir coisas dantes impossíveis.
Estou ouvindo um soluço frenético no recinto. Sussurros quase inaudíveis. Não queira nem saber o que estão dizendo de mim.
Reconheço a maioria das pessoas que se fazem presente, não que seja muitas; há outras que não me lembro delas. Amigos? Colegas? Familiares? Conhecidos? Não sei como classificá-las nesse momento.
Sei que poucas me passam a sensação de terem sido importantes pra mim. Algumas delas nunca me estenderam a mão.
Hummm! Olha aquela ali! Lembro que fui eu que lhe neguei algo não muito importante pra mim. Pra ela naquele momento significaria a superação... Triste!
O Facebook está cortando na alta, até selfie já fizeram comigo!
Não gostei muito, meu sorriso está meio forçado!
Virei noticia de grupos de wattsap. Muitas histórias. Pouco legado!
Nem mesmo as pessoas com quem estive todos os dias refletem na alma a intensidade da minha ausência. Percebo agora que também não fui intenso com elas!
Essas últimas horas parece um eternidade sem fim!
Não há mais esperança!
Não há mais volta somente solidão!