Gracejo Noturno
Era noite, fria e silenciosa. Parecia deserta, mas o gracejo noturno se manifestou. Meus olhos pesados descobriram uma fina luz de vida. As cores se multiplicaram e se misturaram ao cinza e preto, apenas. Era diferente. Não sabia explicar o que acontecia. Mas uma certeza era iminente: eu não estava só.
A fina luz agora ganhava formas maiores e bem conhecidas; o visível, por fachos rascunhosos, se colocava a minha frente num rápido choque de pele, mas era um toque suave e ardente – de contato, subjetivamente, provocativo.
Por instantes não dimensionados - vi, ouvi e senti-o perto e até dentro de mim. Respirações ofegantes se misturavam naquele minuto. Não dava para saber o que mais pulsava, se os sinais vitais ou aquela situação, que nada parecia fazer sentido, mas tudo estava – inexplicavelmente – perfeito. O momento que se desenhava, refletia traços de um amanhecer da primavera, porém, era inverno.
IN-VER-NO!
A queda foi inevitável. O susto e a surpresa “esperada” reinventaram o despertar num movimento imediato e brusco do meu corpo; restara o salgado gosto do que não foi. Transpirava. O certo se revelava inexistente e a mórbida realidade vinha à tona: não amanhecera. Ainda era tarde. Tarde da noite.
(26-27/07/2011)