DE PROFUNDIS
DE PROFUNDIS
Despertada pelo pesadelo,
As sensações do sonho, vívidas, persistem,
Excitam seus sentidos,
Mantendo-a insone.
Aguça os ouvidos,
Ouve os ruídos comuns
Da casa sossegada:
O gume do vento penetrando as frestas;
O estalar do madeiramento;
O lento mourejar da água nos canos.
Percebe a expressão dos corpos adormecidos:
Respiros, exalações, rilhar de dentes,
O rumor de pés inquietos roçando o algodão dos lençóis.
Como o sono não vem, levanta-se, caminha,
Abre a porta, sai...
A noite escura acolhe o vaguear indolente
De seus pés descalços na grama úmida,
No saibro áspero, no chão descoberto.
Detém-se à beira do espelho d’água:
Busca ver os nenúfares brancos
Antevistos no sonho...
Só há negror na liquidez do lago,
Ausentes o luar e estrelas distantes.
O pavor a acomete; revive o macabro pesadelo:
Relembra os corpos mantidos sob a água,
Sujeitos à força de seus braços e de suas mãos vigorosas,
Até se entregarem à finitude, exaustos de lutar.
E, como no sonho os vê deslizando, lado a lado,
Olhos escancarados, membros lassos,
Agitados pela voragem das águas, dançando,
Uma fantástica pavana, o balé dos afogados.
Aterrorizada quer fugir, retornar aonde
Vivas, dormem as vítimas do seu sonho,
A despeito de suas visões subjetivas,
A salvo de suas emoções calcinadas pelo medo.
O céu se tinge com as cores da madrugada, o dia amanhece.
O nevoeiro se extingue. O espelho d’agua palpita,
Verde, azulado, salpicado de nenúfares.
Luzes se acendem na casa. Ouvem-se rumores...
Abrem-se portas, soam vozes, risos, tinidos de louças;
O ar se enche com os cheiros da manhã;
A vida pujante recomeça.
Ainda presa aos algozes do tormento,
Detém-se indecisa...
Olhos alegres a espreitam das janelas;
Leves passos se aproximam; mãos a afagam,
Lábios ardentes buscam os seus, é estreitada num abraço,
Embora, tudo isso não logre desperta-la da angustia que a imobiliza.
DE PROFUNDIS
Despertada pelo pesadelo,
As sensações do sonho, vívidas, persistem,
Excitam seus sentidos,
Mantendo-a insone.
Aguça os ouvidos,
Ouve os ruídos comuns
Da casa sossegada:
O gume do vento penetrando as frestas;
O estalar do madeiramento;
O lento mourejar da água nos canos.
Percebe a expressão dos corpos adormecidos:
Respiros, exalações, rilhar de dentes,
O rumor de pés inquietos roçando o algodão dos lençóis.
Como o sono não vem, levanta-se, caminha,
Abre a porta, sai...
A noite escura acolhe o vaguear indolente
De seus pés descalços na grama húmida,
No saibro áspero, no chão descoberto.
Detém-se à beira do espelho d’água:
Busca ver os nenúfares brancos
Antevistos no sonho...
Só há negror na liquidez do lago,
Ausentes o luar e estrelas distantes.
O pavor a acomete; revive o macabro pesadelo:
Relembra os corpos mantidos sob a água,
Sujeitos à força de seus braços e de suas mãos vigorosas,
Até se entregarem à finitude, exaustos de lutar.
E, como no sonho os vê deslizando, lado a lado,
Olhos escancarados, membros lassos,
Agitados pela voragem das águas, dançando,
Uma fantástica pavana, o balé dos afogados.
Aterrorizada quer fugir, retornar aonde
Vivas, dormem as vítimas do seu sonho,
A despeito de suas visões subjetivas,
A salvo de suas emoções calcinadas pelo medo.
O céu se tinge com as cores da madrugada, o dia amanhece.
O nevoeiro se extingue. O espelho d’agua palpita,
Verde, azulado, salpicado de nenúfares.
Luzes se acendem na casa. Ouvem-se rumores...
Abrem-se portas, soam vozes, risos, tinidos de louças;
O ar se enche com os cheiros da manhã;
A vida pujante recomeça.
Ainda presa aos algozes do tormento,
Detém-se indecisa...
Olhos alegres a espreitam das janelas;
Leves passos se aproximam; mãos a afagam,
Lábios ardentes buscam os seus, é estreitada num abraço,
Embora, tudo isso não logre desperta-la da angustia que a imobiliza.
uas emoções calcinadas pelo pavor