A BRANCA É PARA CASAR, A PRETA É PARA F...

“A branca é para casar, a preta é para foder”. *

Com esse rifão os colonizadores consagraram o segregacionismo racial e banalizaram o amor nas terras brasileiras.

A famigerada sentença que se transformou em cultura decorrente no Brasil foi implantada pelos europeus que não aceitavam a junção étnica com grupos que eles tinham como inferiores. Essa cultura ganhou vida, estendeu-se pela Republica e entrou sem pedir licença no moderno século XX. Suas raízes, entretanto, adentram pelo tenro sec. XXI. E ninguém é capaz de prever até quando se manterá excluindo criaturas humanas e impondo regras para o que seriam as mais privativas relações.

Portanto, a máxima segregacionista decreta que AMAR SE TORNA DIFERENTE DE FAZER AMOR, criando, assim, uma hierarquia nas relações íntimas. Estabelece que o ato de amar é superior a comer, copular, transar trepar e foder, cujos vocábulos são considerados chulos e desprezíveis, não só na semântica como na prática.

Robson desejou Milena. Seus impulsos lascivos foram acionados ao botar os olhos sobre as nádegas proeminentes e reboliças da mulata. A moça de pele arroxeada e lábios carnudos conduziram o sentido do rapaz a um feliz devaneio. Era uma moça simpática e de traços faciais bem delineados. Mas ela não atraiu o rapaz por esses atributos. Os quadris avantajados, as coxas polpudas e os glúteos salientes era o que aguçava seu interesse. Desejou comê-la. E ponto final. Jurou para si e para seus amigos que transaria “com aquela mulata gostosa”.” As negras são fogosas, boas para trepar”.

A primeira tentativa falhou. Numa cantada direta ele a convidou a um motel. A sentença colonial martelava em sua cabeça: “A preta é pra foder”.

Mas a decepção veio logo porque Milena recusou ao insinuante convite.

Porém Robson continuou a cortejá-la. O primeiro beijo só aconteceu depois de muitas investidas e quando o rapaz, de pele branca e família “nobre,” se deu conta já tinha sido seduzido pela beleza e pelo comportamento da moça.

Dentro de poucos meses eles estavam apaixonados. Casaram-se e deram origem a uma nação de criaturas miscigenadas e genuinamente humanas. Eram plúmbeos, de um colorido esplêndido, educados e dotados de sentimento.

*Reeditado com pequenas alterações.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 12/06/2017
Código do texto: T6025330
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