Labirinto
A professora sentada na cadeira da frente, de costas para ela, usava uma malha de lã de estampas geométricas.
Lembrou-se que pela manhã, à mesa do café,ouvira um comentário do menino,leitor e fã de mitologia. Ele dissera: " Só o homem meio-touro conhecia a saída". Assim, ele, apenas uma criança, expressara a sua crença masculina sobre como sair de labirintos. Talvez fosse agora a vez dela, da mulher meio-aranha ,( possuidora do visgo nas patas e do truque da fragmose), mostrar as suas habilidades no emaranhado caminho dos fios .
Nas metrópoles modernas, há setas e indicações em todos lugares;orientando as complexas entradas e saídas, nas estações de metrô, de trem , nos terminais de ônibus. No entanto,( voluntariamente, por acaso ou por fatalidade ), perder-se e caminhar em círculos, ou mesmo em sentido inverso ao desejado é sempre possível. Mesmo porque dormimos e sonhamos. E aí as placas e setas tornam-se inúteis.
A reunião pedagógica dos professores do noturno transcorria monótona. A Diretora, andando de um lado para o outro,falava sobre Piaget. Parava de vez em quando para rabiscar detalhes do seu discurso na velha lousa. As suas palavras escorregavam, sem eco,na sala estranha assim vazia de alunos.Nas paredes pichadas a lápis e caneta, coisas que não tivera tempo para ler até então: palavrões, críticas,frases incompletas....Pela porta aberta viu uma desconhecida atravessar duas vezes o pátio silencioso e vazio.Observou a professora da cadeira da frente, a sua malha de estampas geométricas... Observou os outros colegas. Todos sonolentos, parecendo entediados. A noite era fria. A sala mal iluminada. Através da janelas, só se via o escuro. A horta, atrás da escola, estava invisível. Os sapos não coaxavam. Lá em cima, na ponta do aclive do terreno, algumas luzes das casas vizinhas. Começou a chover. Os pingos escorriam nas vidraças empoeiradas. As estampas foram crescendo e engoliram tudo.
Inicialmente vagou por corredores vermelhos, onde o piso era quente como terra em dia de muito sol.Estaria descalça?Ouvia uma música suave. Quem estaria tocando? Virou à direita, à esquerda, várias vezes. Encontrou uma saída que ia dar num corredor escuro . Teve receio de entrar, mas os seus pés doíam com o aumento crescente do calor. Era preciso sair.
Sugada , através de um túnel,jogada pra cima e pra baixo, caiu de costas. Afundou e emergiu várias vezes numa massa mole.Depois, foi erguida como se fosse um boneco flácido. Uma voz interna ordenava: "Olhe-se no espelho!"Abriu os olhos. Na parede do corredor, os espelhos mostravam uma mulher de longos cabelos e olhos curiosos de criança.
Observou que ,junto aos pés das carteiras, acumulara-se a lama trazida, nos dias anteriores, pelos sapatos dos alunos. A Diretora ainda dissertava, rabiscando na lousa. Alguns colegas cochilavam, no fundo da sala.
Todas as ações nos corredores vermelhos virariam poeira brilhante. Ultrapassados os limites do sonho, escoando-se pelo funil, sobraria apenas a sua falsa aparência de barro e pó.
A professora sentada na cadeira da frente, de costas para ela, usava uma malha de lã de estampas geométricas.
Lembrou-se que pela manhã, à mesa do café,ouvira um comentário do menino,leitor e fã de mitologia. Ele dissera: " Só o homem meio-touro conhecia a saída". Assim, ele, apenas uma criança, expressara a sua crença masculina sobre como sair de labirintos. Talvez fosse agora a vez dela, da mulher meio-aranha ,( possuidora do visgo nas patas e do truque da fragmose), mostrar as suas habilidades no emaranhado caminho dos fios .
Nas metrópoles modernas, há setas e indicações em todos lugares;orientando as complexas entradas e saídas, nas estações de metrô, de trem , nos terminais de ônibus. No entanto,( voluntariamente, por acaso ou por fatalidade ), perder-se e caminhar em círculos, ou mesmo em sentido inverso ao desejado é sempre possível. Mesmo porque dormimos e sonhamos. E aí as placas e setas tornam-se inúteis.
A reunião pedagógica dos professores do noturno transcorria monótona. A Diretora, andando de um lado para o outro,falava sobre Piaget. Parava de vez em quando para rabiscar detalhes do seu discurso na velha lousa. As suas palavras escorregavam, sem eco,na sala estranha assim vazia de alunos.Nas paredes pichadas a lápis e caneta, coisas que não tivera tempo para ler até então: palavrões, críticas,frases incompletas....Pela porta aberta viu uma desconhecida atravessar duas vezes o pátio silencioso e vazio.Observou a professora da cadeira da frente, a sua malha de estampas geométricas... Observou os outros colegas. Todos sonolentos, parecendo entediados. A noite era fria. A sala mal iluminada. Através da janelas, só se via o escuro. A horta, atrás da escola, estava invisível. Os sapos não coaxavam. Lá em cima, na ponta do aclive do terreno, algumas luzes das casas vizinhas. Começou a chover. Os pingos escorriam nas vidraças empoeiradas. As estampas foram crescendo e engoliram tudo.
Inicialmente vagou por corredores vermelhos, onde o piso era quente como terra em dia de muito sol.Estaria descalça?Ouvia uma música suave. Quem estaria tocando? Virou à direita, à esquerda, várias vezes. Encontrou uma saída que ia dar num corredor escuro . Teve receio de entrar, mas os seus pés doíam com o aumento crescente do calor. Era preciso sair.
Sugada , através de um túnel,jogada pra cima e pra baixo, caiu de costas. Afundou e emergiu várias vezes numa massa mole.Depois, foi erguida como se fosse um boneco flácido. Uma voz interna ordenava: "Olhe-se no espelho!"Abriu os olhos. Na parede do corredor, os espelhos mostravam uma mulher de longos cabelos e olhos curiosos de criança.
Observou que ,junto aos pés das carteiras, acumulara-se a lama trazida, nos dias anteriores, pelos sapatos dos alunos. A Diretora ainda dissertava, rabiscando na lousa. Alguns colegas cochilavam, no fundo da sala.
Todas as ações nos corredores vermelhos virariam poeira brilhante. Ultrapassados os limites do sonho, escoando-se pelo funil, sobraria apenas a sua falsa aparência de barro e pó.