A luz no bosque
Em algumas noites especiais, uma luz azulada acendia-se no bosque , para além do muro da velha casa. Sem coragem para ir ver de perto, ficava observando do alto da escada, trêmula, percorrida por calafrios.
Acabava voltando para o quarto, embora soubesse intuitivamente que a luz estava lá e era urgente permitir a sua atração.
Em uma noite de lua cheia, levantou-se, sem acender nenhuma luz da casa, abriu a porta e desceu as escadas. Abriu o portão de ferro e entrou no bosque.
A luz estava lá. O reflexo dela na névoa criava um efeito de cortina. Sentiu forte tontura e sentou-se no chão forrado de folhas secas. As árvores, a cortina azulada, tudo foi se apagando lentamente. Os ruídos dos insetos da noite diminuindo, até silenciarem por completo.
Quando acordou, deitada no chão de uma gruta, viu raios de sol entrando pela fenda da entrada. Olhou para fora e vislumbrou uma estranha cidade de edifícios brancos e retangulares espalhados na areia.
Saiu pela fenda e desceu por uma trilha com rastros que pareciam ser de animais. Talvez carneiros, ou cabras... Perambulou por ruas vazias. À medida que caminhava, sentia algo de familiar naquelas edificações aparentemente inabitadas. De repente tudo desapareceu. Restou o escuro e o sono. Na manhã seguinte, ( pelo menos de acordo com o tempo marcado pelos relógios e calendários ), acordou na sua cama, no mesmo quarto que ocupava há anos, sem espanto.
E sua vida seguiu a rotina de sempre, até a noite em que sentiu novamente a presença da luz no bosque de pinheiros. Não se levantou. Ficou na cama, por muito tempo acordada, até que adormeceu e sonhou.
Sonhou que estava num cômodo amplo, sem mobília, deitada sobre uma pele que exalava um cheiro forte e desconhecido. Por uma abertura quadrada, no teto , via duas luas brilhando num céu estrelado. Observando curiosa as duas luas gêmeas, voltou a dormir.
Na manhã seguinte, acordou no bosque, estendida sobre as folhas secas.
Depois desse dia, nunca mais pressentiu a chegada da luz, mas lembranças da cidade na areia, das noites com duas luas misturavam-se de tal forma ao seu monótono cotidiano que suas medidas de tempo se perderam por completo. Limpando o chão, arrumando, lavando, ocupada o dia todo, entrava algumas vezes em um estado de semiconsciência. O corpo trabalhando, enquanto uma parte de si vagava pelas ruas da cidade na areia.
Uma noite, quando todos na casa dormiam, ela sentiu que a chama se acendera no bosque mais uma vez.
No alto da escada, fascinada e trêmula, a mulher recebe o chamado. Desce, acaricia as pedras mornas da velha parede, invadida por uma ternura nova por essa casa que nunca amou. Vai ao bosque, abre uma brecha na cortina de luz, sabendo que dessa vez não regressará mais. Nunca mais.
Em algumas noites especiais, uma luz azulada acendia-se no bosque , para além do muro da velha casa. Sem coragem para ir ver de perto, ficava observando do alto da escada, trêmula, percorrida por calafrios.
Acabava voltando para o quarto, embora soubesse intuitivamente que a luz estava lá e era urgente permitir a sua atração.
Em uma noite de lua cheia, levantou-se, sem acender nenhuma luz da casa, abriu a porta e desceu as escadas. Abriu o portão de ferro e entrou no bosque.
A luz estava lá. O reflexo dela na névoa criava um efeito de cortina. Sentiu forte tontura e sentou-se no chão forrado de folhas secas. As árvores, a cortina azulada, tudo foi se apagando lentamente. Os ruídos dos insetos da noite diminuindo, até silenciarem por completo.
Quando acordou, deitada no chão de uma gruta, viu raios de sol entrando pela fenda da entrada. Olhou para fora e vislumbrou uma estranha cidade de edifícios brancos e retangulares espalhados na areia.
Saiu pela fenda e desceu por uma trilha com rastros que pareciam ser de animais. Talvez carneiros, ou cabras... Perambulou por ruas vazias. À medida que caminhava, sentia algo de familiar naquelas edificações aparentemente inabitadas. De repente tudo desapareceu. Restou o escuro e o sono. Na manhã seguinte, ( pelo menos de acordo com o tempo marcado pelos relógios e calendários ), acordou na sua cama, no mesmo quarto que ocupava há anos, sem espanto.
E sua vida seguiu a rotina de sempre, até a noite em que sentiu novamente a presença da luz no bosque de pinheiros. Não se levantou. Ficou na cama, por muito tempo acordada, até que adormeceu e sonhou.
Sonhou que estava num cômodo amplo, sem mobília, deitada sobre uma pele que exalava um cheiro forte e desconhecido. Por uma abertura quadrada, no teto , via duas luas brilhando num céu estrelado. Observando curiosa as duas luas gêmeas, voltou a dormir.
Na manhã seguinte, acordou no bosque, estendida sobre as folhas secas.
Depois desse dia, nunca mais pressentiu a chegada da luz, mas lembranças da cidade na areia, das noites com duas luas misturavam-se de tal forma ao seu monótono cotidiano que suas medidas de tempo se perderam por completo. Limpando o chão, arrumando, lavando, ocupada o dia todo, entrava algumas vezes em um estado de semiconsciência. O corpo trabalhando, enquanto uma parte de si vagava pelas ruas da cidade na areia.
Uma noite, quando todos na casa dormiam, ela sentiu que a chama se acendera no bosque mais uma vez.
No alto da escada, fascinada e trêmula, a mulher recebe o chamado. Desce, acaricia as pedras mornas da velha parede, invadida por uma ternura nova por essa casa que nunca amou. Vai ao bosque, abre uma brecha na cortina de luz, sabendo que dessa vez não regressará mais. Nunca mais.