NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PONTE
 
De um lado da ponte
Para a outra ponta,
Confundiram-se os idiomas
Dos dois homens,
Enquanto um gritava: “Heil Hitler!”
O outro respondia: "Cumé seu nome?!"
Caminhavam em direção a se encontrarem,
Mas o homem de Hitler achou aquilo
Tudo muito esquisito quando percebeu
Que o outro homem metera sua mão
No bolso, imediatamente, mandou-o ficar
Parado e apontou sua Pistola Walther 38 – a P.38;
Mas o homem já na casa dos 60 anos não entendia
Nada daquilo que o alemão falava, tampouco
Ele, o alemão o compreendia; o velho continuou mexendo os
Bolsos e caminhando pela ponte, trajeto de sua
Fazenda que ficava há mais ou menos 20 quilômetros
De onde ele estava, mas perto do alemão uns
50 metros, que começou a ficar corado,
Desesperado, gritava e resmungava hitlerismos
Que não assustava aquele senhor taciturno
Que já estava acostumado com a truculência
De tanta guerra; o soldado não beirava os 25,
Chorava copiosamente, pois não se sentia um soldado
Digno do Reich, estava desgarrado de seu regimento,
Perdido; o sinhozinho, vira-se para o rapaz
E ele, pensando que seria seu fim, torna-se
Surpreso em saber que a única coisa que haviam
Naqueles bolsos de chita maltrados e esfarrapados,
Era o tabaco do fumo enrolado em corda que labutava
Em sair para lhe fazer um baseado; acabaram curtindo aquela
Noite minguante de estrelas até fazerem a cabeça; o alemão
Aflito, sem conseguir dormir, não pensava em outra
Coisa além do fato de que poderia ter matado aquele
Senhor tão humilde e inocente. Bem cedinho, lá
Pelas 04h30 da manhã, enquanto dormiam, homens
Misteriosos visitaram o local onde estavam instalados
E levaram o alemão, aplicando-lhe uma dose forte
De Pankuron para deixá-lo paralisado; deixaram comida,
Um cavalo, dinheiro e uma medalha de Honra ao Mérito
Pela captura do alemão, que para ele não significava droga nenhuma...
Saiu em busca do estrangeiro por todas as partes da região,
Montanhosa e rochosa, era muito densa e de muitas
Florestas; o homem do fumo – o caipira – passou
Uma semana procurando aquele homem gigante,
Que dias atrás teve a chance de matá-lo, mas não
Conseguiu. Certo dia, ao acordar ainda com pequenos
Traços de aurora, percebeu uma pequena movimentação
De abutres e outras aves do gênero num campo
Desterrado gigantesco, tipo um local de desova
De lixos e outros materiais nocivos, se aproximou,
Mas não gostou muito do que viu – não era apenas
Um corpo que se encontrava ali, mas pelo menos uma dezena,
Procurou pelo seu amigo e não encontrou, ficou aliviado;
Voltando para a floresta o seu alívio desfaleceu -
Deu de cara com o uniforme do amigo estendido numa árvore.
Como se fosse um mapa, de árvore em árvore, foi-se descobrindo
Pedaços dele; os membros superiores, costelas, espinha
Dorsal, membros inferiores, vísceras (o coração, pulmão, cérebro, olhos, estômago, baço, pâncreas, rim, fígado, intestinos - a pele foi,
Pelo que se percebe, escalpelada com ele ainda vivo -,
A bexiga, seu pênis e a bolsa escrotal enfiados dentro de sua
Boca cuja cabeça estava decapitada e exposta no lugar mais alto
Da copa de uma das árvores, era o fruto de uma Guerra? Ou
O instintivo mal existente determinista aos seres humanos?
Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 27/05/2017
Reeditado em 27/05/2017
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