A morte do mágico húngaro.
Naquele dia o que mais queria era sossego.
Mas bastou amanhecer para que toda onda de coisas ruins começassem a me acompanhar.
Era um dia de folga da rotina semanal de trabalho. Mas trabalho foi o que não me faltou naquele dia.
Começou logo cedo, quando fui acordado por um coelho imenso que apareceu na minha cama. Ele me olhava como se eu fosse uma cenoura.
De que cartola ele saiu? Pensei.
Tentei saltar da cama mas não consegui. Foi quando pude perceber que realmente eu era uma cenoura.
Comecei a entender então o olhar daquele coelho sobre mim.
Em pouco tempo seria devorado
Passado o susto do coelho já que ele, pouco antes de me devorar, foi recolocado na cartola de onde saiu, (por um mágico húngaro que se apresentava na cidade) pude voltar à minha condição de humano, ligar o rádio e ouvir as notícias do dia.
E que notícias......
Dizia o noticiarista que a agência espacial europeia em conjunto com a NASA anunciava que em poucas horas o sol deixaria de brilhar.
O dia viraria noite e a noite sempre me atormenta.
Meu Deus......
Passado o eclipse solar retomei minha leitura de o livro tibetano dos mortos.
Depois de cuidar de algumas tarefas domésticas fui fazer uma caminhada.
De tênis e moleton saí pelas ruas do bairro como sai o réu absolvido do tribunal.
-Extra, extra, extra. Berrava um pequeno jornaleiro. - mágico húngaro devorado por coelho que fugiu da cartola.
Seria o mesmo coelho que queria me devorar pela manhã?
Achei melhor parar de caminhar e entrar num estabelecimento qualquer e beber um suco.
Suco de fruta cítrica sempre me faz bem.
Em goles longos bebia o suco e pensava naquele coelho.
- O senhor viu o que aconteceu com o mágico húngaro? Perguntou-me o atendente por detrás do balcão.
- Foi devorado pelo coelho que saiu da cartola. Fiquei sabendo.
- E o senhor ouviu o que ele declarou ao ser preso pelas autoridades policiais?
- Não!
- Disse que fez aquilo pois não aguentava mais essa vida de cartola. Vivendo sempre apertado e puxado pelas orelhas. Convocou todos os coelhos de cartola a fazerem a mesma coisa. Devoraria quantas pessoas fossem necessárias até que o mundo percebesse e acabasse de vez com essa mágica da cartola.
Fiquei tão assustado como daquela vez na aula de matemática quando o professor disse que existia, sim, raiz quadrada de números negativos mas só no campo complexo.
Sem entender o que estava acontecendo naquele dia, voltei a caminhar pelas ruas do bairro e estranhamente senti uma vontade enorme de comer cenoura.......