O SULTÃO NEGRO

O SULTÃO NEGRO

BETO MACHADO

Havia, no céu matutino, nuvens assustadoras. Os órgãos de previsões meteorológicas não anunciaram nenhuma precipitação pluviométrica, para aquele período, naquela região. A despeito da situação climática não havia nenhum motivo para adiamento da festa de confraternização dos empregados de uma grande importadora, visto que as estruturas do sítio alugado eram favoráveis.

Os portões do SÍTIO FLORES BELAS, enfeitado com motivos Natalinos, se abririam às onze horas da manhã, para a entrada dos convidados.

A partir da marcação da data e o local da festa começaram a “pipocar”, aqui e ali, “bolsas de apostas” entre amigos e o foco era se ZULU levaria seu “harém” à festa.

É de conhecimento público, inclusive as mulheres do seu convívio, que ZULU tem sete “esposas’. Essas se conhecem e se respeitam por determinação do SULTÃO NEGRO.

Da festa do ano anterior o “bem apanhado” negro não participou, por estar internado numa clínica particular, duelando com uma sorrateira e oportunista pneumonia que o deixara “de molho” durante todo o mês de dezembro de 2015. Não pôde nem provar da rabanada, “divinamente” produzida por dona Maria Helena, sua mãezinha. Essa rabanada é disputada por toda a imensa prole da qual ela é a ascendente mais longeva. Nenhum parente ou amigo íntimo da família admite passar as festas de fim de ano sem se deliciar com as guloseimas mais concorridas do bairro onde mora dona Leninha, como é conhecida.

A rigorosidade da dieta imposta pela nutricionista da clínica tirou ZULU do sério. Pediu formalmente para ir embora pra casa, antes mesmo que os médicos vislumbrassem o fim daquela moléstia. O paciente mais impaciente da clínica vociferava todos os dias que a supressão de alimentos essenciais ao seu metabolismo não passava de uma “eutanásia” disfarçada, não autorizada por ele. Dizia que pior que a pneumonia era o risco de morrer por inanição. Sua solicitação formal de alta só não foi atendida por conta da intervenção de um parente de uma das sete “esposas”, militante da área médica, com influência no CRM. Mesmo contrariado ZULU teve que ficar até o final do tratamento.

---- Esses “merda” tão querendo mandar na minha vida... Na minha vida mando eu.

Lenitivos para manter seu humor e seu astral só quem levava era dona Leninha, nas visitas. As esposas, uma a cada dia, serviam mais de pára-raios, absorvendo seu descontentamento por permanecer ali, como um inútil. Os amigos e colegas de trabalho, que o visitavam eram poupados dos xingamentos aturados pelos enfermeiros, pessoal de apoio e as sete “esposas”

As duas abas do portão do SÍTIO FLORES BELAS foram escancaradas e, em cada lado, um casal de recepcionistas recebe, cumprimenta, confere as exigências do convite e encaminha os convidados.

Repentinamente forma-se um enorme fila de táxis uber Black, a partir do portão do sítio. Era ZULU e sua “tropa”. Ele desce do primeiro carro, impecavelmente vestido em uma bermuda social, camiseta pólo e um mocassim reluzente... Libera o motorista e sinaliza para o segundo se aproximar... As atenções dos que já estavam do lado de dentro se voltaram para o portão... A operação “desembarque” levou uns vinte minutos

Não demorou muito para que os “miúdos”, irmãos pater sanguíneos se misturassem e copiassem, involuntariamente, o entrosamento observado no convívio entre suas mães e seu pai comum.

ZULU pediu permissão ao “staff” do “Buffet” para juntar, a seu modo, as mesas reservadas por ele. O novo desenho formou um semi-círculo, e mais uma cadeira colocada a uma distância que permita ZULU observar todos os seus de um único ponto. É o que os economistas chamariam de “ponto dentro da curva”.

O clima enganou a todos, pela manhã. Aí, os raios do sol engoliram as nuvens negras matutinas, e logo a alegria voltou a reinar sob as formas de praias e piscinas, pra deleite dos cariocas.

A piscina infantil do Sítio, a essa altura, já atingia a sua quase total capacidade, visto que as crianças só saiam de lá depois de muita insistência de seus responsáveis, que alegavam hora de comer alguma coisa. Já os marmanjos queriam mesmo era “molhar a palavra” com cerveja gelada e ou whisky com gelo.

A chaminé da pomposa churrasqueira anunciava: “HABEMUS CARNE”... À beira do campo de futebol society se reuniam uns abnegados pelo esporte bretão para começar uma pelada... Outros preferiam assistir aos ensaios e passagem de som de uma banda de música popular contratada pela empresa, para embalar a galera... Mais famílias chegando...

Alguns colegas de trabalho de ZULU, depois de uns tragos de whisky, se lembraram das apostas.

--- Aí, Paulinho, ganhei!!!!!!

---É inacreditável... O cara é “pica”, parceiro. Perdi mas pago com o maior prazer.

O diálogo se referia ao múltiplo casamento de ZULU, que a partir daquela festa recebeu a alcunha de “O SULTÃO NEGRO”.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 21/12/2016
Reeditado em 21/12/2016
Código do texto: T5859219
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