A missão de Sir Alex

A MISSÃO DE SIR ALEX
Miguel Carqueija




Não falta muito para o crepúsculo e Sir Alex Brioso, impaciente, esporeia a sua cavalgadura. A seu lado Muso, o fiel escudeiro, procura acompanhar o ritmo do seu amo.
— Tenha calma, senhor! Não devemos cansar em demasia os nossos cavalos...
— A princesa não pode esperar, meu nobre amigo. Quando penso em que aquela delicada dama se encontra prisioneira de um infame dragão...
— Por isso mesmo, senhor, devemos poupar as nossas forças, tendo em vista o que iremos enfrentar...
— No fundo você tem razão, Muso. É tolice nos cansarmos antes mesmo do início da luta. Mas... todavia, o tempo urge!
Ao longe entre as névoas avista-se enfim o castelo guardado pelo dragão Rufino. Sir Alex imagina a gentil princesa Ariana acorrentada na parede, à espera do Cavaleiro Negro, o cruel Vernon, que a sequestrou e a deixou sob a guarda do terrível dragão. Alex está irritado, presa de um grande desejo de lutar. Muso, percebendo isso, trata de acalmá-lo:
— Tenha calma, meu senhor! Derrotar esses malditos dragões exige técnica e muito sangue frio! Não podemos ficar nervosos!
— QUEM ESTÁ NERVOSO? — berra Sir Alex em resposta.
Curiosamente, a ponte levadiça estava estendida. Seria uma cilada? Sem precisar recorrer a nenhum truque, Sir Alex e Muso atravessaram a ponte sobre o fosso e penetraram no castelo, cujas enormes portas encontravam-se abertas. Muso espirrou ruidosamente:
— Essa maldita névoa está me dando alergia! Não se enxerga quase nada...
— Silêncio! Ouça!
Ao longe podia-se ouvir o grito angustiado de uma mulher, pedindo socorro. Alex indicou uma escadaria mal entrevista em meio ao fog:
— Vamos!
Tendo desmontado dos cavalos, subiram correndo os degraus. Sir Alex, espada já desembainhada, chegou ofegante ao topo e viu-se num imenso salão, cheio de estátuas de elefantes. Ora, por que estátuas de elefantes? Que estranha decoração!
Avistou Ariana, com sua túnica cor-de-rosa, presa em cadeias na parede oposta.
— Venha, meu cavaleiro! — gritou a donzela. — Me salve dessa besta horrorosa!
Sir Alex precipitou-se para libertá-la mas nesse momento o dragão Rufino, enorme e cheio de bexigas em seu rosto colérico, apareceu não se sabe de onde e avançou sobre o cavaleiro, cuspindo fogo. Sir Alex defendeu-se como pôde, usando o escudo, e gritou:
— Venha, Muso! Me ajude a conter essa fera! Que bicho feio, horroroso! Ainda por cima tem bobs nos cabelos...
— Au! Au!
Sir Alex voltou o olhar, espantado. O Muso tinha latido? Ora essa, por que o Muso latiria?
Então ele já não estava de pé, mas deitado numa cama, com o Muso — indiscutivelmente um cachorro — lambendo-lhe a cara; diga-se de passagem, de forma muito gentil e educada.
— Ei, Muso! Pare com isso!
— Fui eu quem mandou ele subir na cama. Acorde, homem! Você tem sono muito pesado! Vai perder a hora de novo, já são sete horas!
— Meu Deus! É hoje que o Vernon me despede!
Não era mais o herói e cavalheiro Sir Alex Brioso, mas o cidadão Pacífico da Silva, um homem absolutamente comum e normal. Deu um beijo muito a contragosto na esposa, que parecia estar mais bexiguenta do que nunca. Se procurasse bem, pensou Alex melancolicamente, talvez até encontrasse escamas de dragão.
E Rufina não estava de bom humor (nenhuma novidade):
— Vai lá tomar logo o seu banho, que a Ariane tem que entrar aqui para a faxina. Despache-se, homem!
— Ariane... mas ela...
— Sim, o que tem ela?
— Nada, não. Vou lá tomar banho, tenho que correr!
Quase perguntara: “Mas ela já foi solta das correntes?”
E lá se foi o pobre Pacífico da Silva preparar-se para mais um dia de trabalho medíocre e subserviente no escritório do Cavaleiro Negro... perdão, o Dr. Vernon.



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