Diário de Thomas Black - parte 1
Sabe quando você é criança e ganha um presente numa caixa enorme com papel e laço colorido? Sabe aquela ansiedade misturada com alegria que logo aumenta com a satisfação de ver que o que você queria está lá dentro? Bem, foi exatamente essa a sensação que eu experimentei naquela noite de inverno. Minha infância foi diferente da de muitas crianças, pois sentir o sangue quente de um pequeno e inocente animal escorrer pelas minhas mãos até chegar e bater no piso gelado faziam meus olhos brilharem diabolicamente. Vocês devem estar se perguntando o porquê desse falatório todo.
Bom, meu nome é Thomas Black. Não sei muito sobre a minha família, o que sei é que nasci em uma família bem de vida, classe média alta, eu tinha tudo para ser feliz, tudo(!), menos atenção, compaixão, amor, ou todas aquelas coisas hipócritas que já vi crianças e adolescentes falando por aí. Meus pais brigavam todos os dias. Meu pai era um bêbado imundo que gastava seu dinheiro com prostitutas e que fazia questão de humilhar o filho “drogado” falando com todas as palavras o quanto se arrepende de ter deixado-o nascer. Minha mãe, por ser uma boa pessoa, sofria em silencio. Eles discutiam muito, às vezes eu ficava debaixo do cobertor ouvindo os gritos de minha mãe, os vidros quebrando e os xingamentos se esbarrando para todo o lado.
Minha irmã era uma vadia - uma de minhas qualidades é a sinceridade-. Quando completou seus dezesseis anos exigiu que meu pai fizesse seu quarto e um banheiro com acústica. Ninguém entendia ao certo o porquê. Deveria ser porque era rockeira e gostava de tocar guitarra. Pelo menos era isso que todos imaginavam. Mas minha percepção de acústica mudou no dia em que entrei no seu quarto só para mexer em suas coisas. Coisa que só uma criança faz. Ouvi passos e, com isso, corri para debaixo da cama. Era ela com um desconhecido. Fechou tudo e começaram a festa. Oh festa! Gemidos, gritos, puro masoquismo, sexo violento e rock muito alto. Nunca esperava aquilo da minha irmã, mas eu era uma criança e não esperava nada de ninguém, a não ser aquilo que eu não tinha. Ele era desconhecido, corpo moreno e atlético com uma barba bem desenhada. Sinceramente eu não sei como minha mãe não viu eles entrando. Minha irmã nem fazia questão de esconder e talvez minha mãe soubesse de tudo, não sei ao certo. De minha família só tenho minhas conclusões: pai bêbado, porém bem de vida, mãe histérica, porém frágil e irmã vadia, porém vadia.
Naquele clima que para a minha pessoa era tosco, escondido e encolhido embaixo da cama tentando que ninguém me notasse por lá, o ódio começou a ferver na minha cabeça. Mesmo não sendo muito ligado a ela, o que o garoto que pela impressão era de maior estava com minha irmã fazendo me deixou turbulento. Sai de lá e eles ficaram me olhando. O ódio a cada vez me dominava mais. Corri para a cozinha, onde peguei a primeira coisa que vi na gaveta: uma faca brilhante e afiada, o que fez com que meus olhos queimassem mais ainda.
Peguei-a e, correndo até o quarto, tirei aquele filho de uma puta de cima da minha irmã. Simplesmente passei a lamina da faca em seu pescoço e joguei seu corpo já sem vida sobre aquela prostituta. Ouvindo os gritos apavorados de minha irmã, peguei um cabo de vassoura e enfiei em suas nadegas, a fazendo cair desmaiada sobre a cama. Ainda não saciado de minha loucura, avistei a faca no chão, juntamente com o pescoço ensanguentado do maldito que eu acabara de matar, peguei a faca e me lancei contra minha irmã, dando fortes apunhaladas sobre sua barriga e seus peitos.
Com os olhos brilhando de pura satisfação, ouço a maçaneta da porta do quarto se abrindo, e vendo minha mãe ali, diante de mim com os seus olhos lacrimejando, avisto, então, a minha próxima vítima. Em relação ao desespero, vejo-a indo quarto a fora. Pego minha faca com os punhos cerrados e vou atrás dela. No alto da escada, a empurro rumo à morte.
A noite se tardava quando ouço a porta se abrindo e enfim o “capeta” do meu pai se aproximava. Seria o seu final. Ele estava como sempre: bêbado. Viu minha mãe morta ao chão e veio em minha direção tentando me dar golpes, mas no estado em que ele se encontrava eu só dei um golpe com minha faca em sua orelha, o qual lhe deixou inerte. Seu sangue escorria pelo chão e minha felicidade crescia minuto a minuto. Amarrei com uma corda os seus pés e suas mãos. Após isso o deixei preso a uma cadeira que era fixa ao chão. Sentia-me a pessoa mais poderosa do mundo. Meu pai estava totalmente imóvel frente a mim. Por toda dor que ele havia causado ao meu coração, resolvi deixá-lo sofrer ali mesmo e acabar com isso no dia seguinte.
Ao som da banda Brad Sucks eu adormeci e acordei com meu pai pedindo por socorro. Sentia-me a pessoa mais feliz do mundo, embora soubesse que aquilo teria que acabar. Peguei então um pequeno machado e comecei a cortar seus dedos do pé, um por um. Queria vê-lo sofrer. Fui largando álcool em cima do mesmo para ver o sofrimento sombrio dele, o que me trazia mais satisfação do que eu estava fazendo. Peguei por fim minha faca e dei um golpe em seu pescoço, fazendo com que ele ficasse já sem vida.
Dias se passaram. Eu segui com minha vida normal. Comia, bebia e dormia. Era por volta da meia noite quando ouvi a sirene da polícia chegar. Já sentiam falta da minha família. É claro que ninguém some por cinco dias. O cheiro tomava conta do ar, mas eu gostava. Era ruim, pois mostrava o que eles eram de verdade.
A cada segundo a sirene chegava mais e mais perto e eu sentia a glória vindo com ela. Sentei-me no chão, com minhas pernas cruzadas olhando a poça seca de sangue que se formava no chão. Não brilhava como antes...
Ouvi a porta abrindo e virei minha cabeça em sua direção. Vi uma policial gostosa me olhando apavorada. Soltei meu melhor sorriso, com as mãos sujas de sangue estiquei em sua direção. Senti um impulso em minhas costas e com isso cai no chão. Outro policial me algemou enquanto olhava para minha roupa ensanguentada. Mas isso era só o começo...