Estamos ricos!

Não é minha a expressão. Só a impressão. E a vi registrada por duas vezes, de fontes independentes. No segundo caso, surge na obra de Bartolomeu Campos Queirós, escritor papagaiense que teve uma boa passagem por Pitangui, quando - não sei agora se na obra Indez, ou se no Ler, Escrever e Fazer Conta de Cabeça - narra a sua estupefata reação, ainda guri, à nomeação...e recusa, do irmão mais velho, o José, para trabalhar no Banco do Brasil, em Xavantes, Goiás.

Em duas palavras, portanto, Bartolomeu resumiu o sentimento antecipatório de toda a família: o José tava na trilha certa da riqueza, graças à intercessão de um ofídio de Abreu, político paraminense a quem toda a gente recorria. E depois da amargar muita espera, ansiedade, vinha aquele telegrama para tirar a família do drama.

Só que o José não quis saber daquela benesse. Amedrontado quiçá de se afastar do núcleo familiar, do futebol domingueiro, das missas do Padre Grevi...E o pai ficou com aquela cara amarrotada diante do benfeitor...e da modorra da vida pela frente...

Quanto ao ..."estamos ricos" - de novo, ouvi-o por vez primeira da boca do mano Beu. Eu tinha meus 20 pra 21 anos, e ele com seus dezessete, não se conteve quando, apenas chegado de BH, onde estudava e pelejava, eu trouxe aos meus pais a notícia redentora: o Colégio Municipal de Contagem iria admitir-me como professor de inglês - e de francês, posteriormente ,- com um salário bruto de 950 mil cruzeiros, ou cruzeiros novos, já não me recorda a moeda. Mas a cifra era essa.

O bondoso e inesquecível Tio Messias, porteiro da referida instituição, havia pedido por mim...e o diretor, um Padre Carlos, nem ao menos exigiu que eu me confessasse para participar daquele ágape do Senhor...O que faria por quase um quinquênio - até meados de 1974, com o estabelecimento da Lei de Newton no ensino contageense.

E parecia uma fortuna aquela grana: equivalia a pelo menos três mínimos da época. Mais que a soma de papai e mamãe juntos na fapa, já com dezenas de anos empregados.

Vai ver que, como Bartolomeu, razão tinha Beu. Eu fui que fiz má aplicação, num Fusquinha de ocasião, ...ao invés, quem sabe, dum Simca Tufão...!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/11/2016
Reeditado em 31/08/2021
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