Entrevista
- Você, de blusa rasgada, como foi a sua morte?
O rapaz de pele apodrecida endireitou-se na cadeira.
- Assassinato. Um cara veio me assaltar e eu reagi, mas acho que ele não curtiu muito isso. Levei cinco tiros. Três no peito e dois na cabeça. – respondeu.
- Entendi. E você? – disse o entrevistador, dirigindo-se ao rapaz da cadeira ao lado, que estava distraído espantando as moscas que voavam a sua volta.
- Eu? – perguntou, notando que todos na sala estavam olhando para ele - Ah, sim. Fui esfaqueado. Minha mulher me pegou no flagra com duas novinhas. E aí, já viu né...
- Ok – respondeu, enquanto fazia algumas anotações – E você da ponta, como foi que você morreu?
O rapaz usava roupas sociais e estava com gel no cabelo.
- Bem, na verdade eu nem cheguei a morrer. Tropecei na escada de casa e bati a cabeça. Estou em coma há uns três dias. Eu vim porque descobri que meu pai é chefe desta divisão e ele me disse que eu...
- Seu pai é Geraldo Foller? – perguntou o entrevistador, surpreso.
- Sim, ele mesmo. Por que?
- Ele falou comigo hoje cedo. – virou-se para os outros dois - Vocês estão dispensados, já podem ir.
O baleado, indignado, questionou o homem que os entrevistava.
- Mas ele nem está morto!
- Isso não interessa. – respondeu, e se virou para o filho do chefe - Meu rapaz, seu pai me falou muito bem de você. Está contratado. Vai começar assustando uma família de paulistas, e vamos lhe pagar o triplo do salário.
O entrevistador apertou a mão do rapaz, dando seu melhor sorriso, que foi prontamente retribuído. Os outros dois saíram pela porta, e o esfaqueado comentou baixinho com o outro:
- Até aqui?
Curta minha página no Facebook: https://www.facebook.com/tiagomenezes87/