FANTA UVA

Durante a eternidade daquele instante, a cara rajada da jararaca parecia estranhar o meu olhar contemplativo. De fato, apesar de estarem todos ali na minha frente e eu me pusesse a observá-los admirado, nem mesmo aquela visão dos cinco mafagafos, amafagafados e postos dentro do ninho, me fazia crer.

Não é nada fácil articular ideias sustentadas apenas por hipóteses em um mundo pragmático, mas vá lá: a propósito de mafagafos, sabe-se apenas de ouvir dizer que a arara loira subiu a ladeira. Porém, tem-se menos certeza ainda de que a arara loira falará. Pra mim, o que rola mesmo é o seguinte: as araras loiras são, na verdade, papagaios gays que não querem dar pinta.

A cara da jararaca continuava rajada, mas depois da visão aloprada dos mafagafos e das araras, a minha atenção voltou-se para a seguinte cena: três tigres que comiam em um prato de trigo com mais dois outros tigres... espera, aí, esqueça os três mais dois; eram cinco tigres e fim de papo!

A cara rajada da jararaca... ah esse estigma recorrente! — mais do que nunca —, continuava me sacando, mas eis que, em um rápido rapto, um lépido rato raptou três ratos sem deixar rastros — degringolei finalmente! Meu sublingual! Meu sublingual! Meu reino por meu sublingual! — gritei pra dentro de mim, tentando administrar a minha própria crise.

Depois de ter aquela situação sob controle, decidi que nunca mais iria escrever uma linha sequer tomando Fanta Uva. Confesso que tem sido difícil.

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 08/10/2016
Reeditado em 18/02/2017
Código do texto: T5785722
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