FANTA UVA
Durante a eternidade daquele instante, a cara rajada da jararaca parecia estranhar o meu olhar contemplativo. De fato, apesar de estarem todos ali na minha frente e eu me pusesse a observá-los admirado, nem mesmo aquela visão dos cinco mafagafos, amafagafados e postos dentro do ninho, me fazia crer.
Não é nada fácil articular ideias sustentadas apenas por hipóteses em um mundo pragmático, mas vá lá: a propósito de mafagafos, sabe-se apenas de ouvir dizer que a arara loira subiu a ladeira. Porém, tem-se menos certeza ainda de que a arara loira falará. Pra mim, o que rola mesmo é o seguinte: as araras loiras são, na verdade, papagaios gays que não querem dar pinta.
A cara da jararaca continuava rajada, mas depois da visão aloprada dos mafagafos e das araras, a minha atenção voltou-se para a seguinte cena: três tigres que comiam em um prato de trigo com mais dois outros tigres... espera, aí, esqueça os três mais dois; eram cinco tigres e fim de papo!
A cara rajada da jararaca... ah esse estigma recorrente! — mais do que nunca —, continuava me sacando, mas eis que, em um rápido rapto, um lépido rato raptou três ratos sem deixar rastros — degringolei finalmente! Meu sublingual! Meu sublingual! Meu reino por meu sublingual! — gritei pra dentro de mim, tentando administrar a minha própria crise.
Depois de ter aquela situação sob controle, decidi que nunca mais iria escrever uma linha sequer tomando Fanta Uva. Confesso que tem sido difícil.