O Tigre Vegetariano e as Lagartas Carnívoras
Nada saciava a fome daqueles perniciosos e impiedosos animais carnívoros, a devastação provocada por aquela nuvem de gafanhotos sem asas era horrenda. As tais bestas-feras sádicas não caçavam apenas para se alimentarem, mas também pelo prazer de matar. Suas bocarras dantescas escancaradas além de tudo tragarem servia para que se insultassem mutuamente e se gabassem. Nada vivo passava despercebido ante o faro dos humanos, aqueles tubarões do árido.
Mas curiosamente aqueles abutres esganados eram avessos aos vegetais. Talvez tenha sido por isso que eles derrubaram todas as árvores e calçaram toda relva. O único lugar naquela selva cinza de pedra onde ainda havia algo verde era chácara de Teçá, um temido mago.
Era óbvio, menos para aqueles tapurus, que, em breve não haveria mais o que se comer. Quando veio a escassez, e a fome tornara-se maior que o medo, e já pensavam em canibalizar seu próximo, os humanos invadiram a tal chácara e em poucos instantes devoraram porcos, galinhas, sapos e até lesmas.
Teçá, que no momento da invasão estava recolhido rezando, ficou furioso, mas não surpreso ao ver a devastação quase total de sua chácara, pois “as vozes” já tinham lhe avisado. Aparentemente não havia sobrado nada vivo ali, além dos vegetais, entretanto, “as vozes”, lhe guiaram até uma alface crespa, onde dentro, havia uma lagarta escondida. Após mastigá-la, Teçá soprou em direção aos vegetais que ao caírem secos no chão transformaram-se em lagartas carnívoras.
As lagartas infestaram a selva cinza de pedra, com seus maxilares cravejados de dentes afiados trucidavam os humanos ainda vivos, na tentativa de oferecer as lagartas outra opção alimentar, os humanos, em vão, replantaram tudo o que tinham desmatado anteriormente, mas a extinção deles foi inevitável. Depois de acabarem com eles, as lagartas carnívoras devoraram-se mutuamente.
Quando a erva verde replantada pelos humanos floresceu e cobriu a selva cinza de pedra, Teçá, o mago, transformou-se num tigre e comeu toda a erva daninha ali existente. À medida que ele as comia, em seu lugar, nasciam flores, que se metamorfoseavam em seres, não humanos, já que estes respeitavam o próximo e a natureza.