Os Anjos estavam mesmo ali

Os momentos especiais devem serem documentados, se possível ditados num diário, só assim eles são relatados perfeitos e duradouros. Só que eu não fiz um diário, algumas lembranças só nas minhas lembranças. Mesmo assim tentarei repô-las, o nosso cérebro computador perfeito reserva um lugar em que as memórias ficam ali. É tudo um mistério mesmo!

Dos meus 3 irmãos mais velhos que faleceram tive contato com eles quando ainda estavam aqui neste mundo dos mortais. Contatos relevantes que cabe muita reflexão, não que eu não acho relevante os outros contatos com os outros irmãos mais novos falecidos, esses 3 irmão mais velhos parece que existiu algo interessante na nossa convivência.

Afonso o primeiro irmão que partiu com 69 anos. Poeta que me inspirou na empreitada em escrever, nos seus cadernos de poesias escritas à mão, ele foi nas alturas quando prontifiquei em passar para um livro auxiliado pelo meu computador. Seu sonho seria um livro de poesias editado em alguma editora, mas não foi possível, seu consolo era o livro que consegui encadernar, ali estava poesias incrivelmente belas, admiradas por todos que gostam dessa arte maravilhosa.

Viúvo com certos problemas de saúde, tinha dificuldade em sair de casa, e com uma filha excepcional precisava de seus cuidados na vida diária. Meu irmão nos momentos de crises me telefonava:

--- Lourenço, preciso de você aqui.

Em mais ou menos uns quarenta minutos eu chegava e dizia: vamos para o hospital, meu irmão!

Chegava no Hospital de São Lourenço. Nossa! Que maravilha, o atendimento era excepcional, meu irmão não podia pagar, ficava na enfermaria. Médicos, enfermeiros todos dedicavam em cuidar, até os outros funcionários tinham algo de especial.

Meu irmão melhorava, mas passava algum tempo voltava para hospitalizar, ele não sentia pavor até que gostava porque aliviava suas dores, não tinha medo da morte, só preocupava quando na sua falta como ficaria sua filha. Mal sabia ele que agora ela continua também bem amparada pelo outro filho.

Francisco, o outro irmão falecido, curiosamente também falece aos 69 anos. O gênio incontestável, o cara de cérebro privilegiado, o músico que no seu violão quem tivesse perto maravilhava, o cara que tinha o dom convencer nas suas palestras. Um câncer insensível aparece no seu estômago, talvez já estivesse lá a algum tempo, mas Francisco apesar de todo seu saber passava longe dos médicos e relutava em deixar de fumar. Um dia estava lá ele hospitalizado. Uma noite eu lhe fiz companhia. Ele calmo, não deixava de falar de suas reflexões sobre a vida. De repente na troca de medicamentos injetados na veia, uma enfermeira acompanhada e outro enfermeiro não conseguem achar a veia, só sei que o negócio estava difícil, um deles diz:

--- Ah! Jesus, faça com que a gente consiga! Naquele exato momento conseguem o intento. Eu só pensei:

---- Meu, Deus, são anjos mesmo!!!

Fabiano, o outro irmão falecido parte para a terra do Criador com seus 78 anos. Esse partiu recentemente. (tá vendo a necessidade de um diário? Eu poderia relatar as horas, os dias, os anos de cada um deles!) Não é eu ser suspeito, mas foi o outro gênio carismático. Além dos muitos conhecimentos em construção, tinha o dom de parlamentar, ditar suas convicções conseguia até convencer nas suas conversas, seu carisma se estendia até na sua ânsia em ajudar, quem precisasse. O amor este sentimento que é maior do que tudo, ele possuía de sobra. O meu primeiro livro antes de ir para a editora mostrei para ele, de imediato disse:

--- Muito bom, Lourenço, este seu livro com o nome de - AMOR SEM FIM – está excelente. Acreditei porque sabia que meu irmão era autêntico. Depois o livro publicado e encadernado por mim mesmo com o nome de – SABEDORIA- ele falou:

--- Nossa! Esse está melhor ainda. Novamente acreditei.

Ultimamente as doenças o perturbava quase que constantemente. A corrida era constante de seus filhos com ele ao maravilhoso Hospital de São Lourenço. Foi aquela luta, ia voltava pra casa, passava uns dias voltava novamente.

Poucos dias antes dele falecer eu tive o privilégio de passar várias horas com ele no hospital. Parecia que estava bem, apesar de não poder levantar da cama, até alguns alimentos precisava de ajuda.

O período que teve hospitalizado novamente eu concluí o verdadeiro valor dos médicos, enfermeiros e funcionários em geral. Se tivesse necessidade de dar nota daria mil vezes mil. É incontável o valor do amor quando o ser humano possui.

Eu quando estava no hospital só pensava e repensava:

--- Os anjos realmente estão aqui...

25/09/2016