A Entrevista
Sinto a fadiga corroer-me por completo, pois depois do que aconteceu ontem, ainda não entendo como posso estar vivo.
Dia anterior: 6h52min
Tomo meu banho, coloco terno e gravata, olho-me no espelho e me acho apresentável, pois hoje participaria de uma entrevista de emprego de uma empresa não muito prestigiada nos arredores da cidade, mas cujo salário seria muito bom.
8h11min
Chego cedo, pois a entrevista seria às oito e meia, sento-me e aguardo ansiosamente, ao meu redor cerca de oito homens também esperavam por aquela vaga, todos se encaravam, fuzilavam-se, havia uma tensão no ar.
8h43min
Pelo visto a empresa não era pontual e seu atraso deixava meus concorrentes cada vez mais eufóricos, alguns ofegavam alto demais, bufavam e um até gritou:
– se vão nos massacrar, AO MENOS COMECEM LOGO COM ISSO.
Não entendi o que ele quis dizer até então.
9h13min
Todos se alfinetavam, soltavam vários impropérios e eu não entendia o porquê daquilo tudo, uma hora a entrevista iria começar, estava calmo no meu canto, contra a parede com medo daqueles ogros com sede por sangue.
9h31min
A porta se abre e um homem com seus cinquenta e poucos anos sai por ela
– desculpem a demora, logo a disputa irar começar, entrem e escolham suas armas.
Do que diabos ele estava falando, que armas? Que disputa? Seria a entrevista?
Todos os oito pareciam entender ao que ele se referia, levantam-se e se dirigem logo atrás do homem em uma fila indiana, todos mais calmos por fora, mas com uma fúria em seus olhares.
Mesmo sem entender sigo logo atrás do oitavo candidato e quando vejo a sala me espanto.
Era enorme por dentro e havia uma espécie de centro de luta antiga com areia em seu meio e ao redor assentos protegidos por uma grade, e um local para armas logo na ponta, havia espadas pequenas, medias e grandes, adagas, montantes, alfanjes, sabres, machados, bestas, clavas de vários modelos, havia todo tipo de arma e em meio aquilo tudo com o medo engasgado em minha garganta criei coragem e perguntei – o que está acontecendo aqui?
Todos me olham confusos um dos candidatos olhou-me de canto e disse – você não viu? Na proposta de emprego constava: lute por sua vaga, o único que permanecer de pé ira trabalhar aqui!
Todos me observam concordando com a sentença dele, eu não entedia aquilo, quando fui atrás de um emprego apenas vi o numero da empresa, liguei e eles disseram que eu comparecesse aqui as oito e meia, nada de luta, somente uma entrevista, se bem que... Não especificaram uma entrevista, mas como eu poderia adivinhar?
- eu quero sair – sentencio.
O homem que nos guiou até o centro de luta, coloca-se a minha frente e diz – você não pode mas desistir jovem, você entrou na arena, agora você só sairá se for o vencedor.
- NÃO, NÃO, NÃO – COMEÇO A GRITAR.
- DEIXEM-ME SAIR DAQUI – CONTINUO.
Ele apenas se põe frente à porta, enquanto os outros candidatos escolhem suas armas.
- acho bom você escolher logo sua arma meu filho – ele diz calmamente.
Isso não podia ser real, eu acordo e penso que conseguirei um emprego, mas ao invés disso conseguirei minha morte!
Saio de meu transe quando vejo todos os oito posicionados em um circulo, um grandão que mais parecia um gladiador se encontrava com um machado de duas laminas em mãos, outro com uma alabarda, outro com uma falcione que me assustou até a alma.
Por todos os lados eles se encontravam com armas, bestas e espadas, mas quando me aproximo do armário de armas, uma me chama a atenção, uma corrente com cravos.
Uma arma farpada de logo alcance que lhe dar uma grande margem de ameaça contra o adversário, já havia a visto em filmes e quem as usava sempre se dava bem, pegando a com cuidado torço para ter a mesma sorte.
Olho para os lados e vejo que ninguém presta atenção em mim, vejo uma pequena adaga perto de um grande machado dentro do armário de armas, ninguém notaria sua falta, pego-a e a escondo no cós de minha calça, talvez ela fosse útil mais tarde.
Posiciono-me ao redor dos oito, fechando o circulo, esperando aquela inevitável luta começar.
10h03min
Com quatro jurados sentados olhando-nos cuidadosamente da área protegida, um deles levanta e grita – QUE A DISPUTA COMECE!
Todos se olham como touros diante de seu montador, vejo que o gladiador já encontrará seu alvo, um homem de cabelos escuros, que aparentava ser mais velho que ele.
Diante de mim o cara que me mostrou mais cedo o que era tudo isso, pareceu-me ver como sua primeira vítima.
Ele se encontrava com uma espada longa e tentava me perfurar, enquanto eu seguro minha corrente, equilibro-a e a balanço tirando facilmente a espada e sua mão de suas mãos, ele parece assustado diante de sua morte, pois não tinha mais arma alguma. – VÁ – eu grito para que ele se retire.
- VOCÊ NÃO ENTENDE? NINGUÉM SAIRÁ DAQUI VIVO! – ele grita assustado.
Olho para os lados e vejo que ele falava a verdade, gladiador já tirara sua primeira vida.
É viver ou morrer, digo a mim mesmo, o encaro, seu olhar assustado e seu braço sanguinolento ficariam para sempre em minha memória, vejo sua espada caída ao chão, pego-a e a cravo em seu peito pondo um fim a sua vida.
Olho ao redor e só sobravam quatro, gladiador, eu, e outros dois, os três lutavam entre si e eu os observava sem me meter.
Sinto olhos me observando, olho para trás e vejo um homem com arco e flechas, vejo o disparar e sinto algo perfurar minha perna, de imediato nada sinto, mas quando puxo a para fora e vejo o sangue jorrar, caio de joelhos no chão, vejo que ele mirava agora em meu peito, mas nada conseguia fazer, olho para os lados e vejo que outros dois já haviam morrido e gladiador não se encontrava em lugar nenhum, olho novamente para frente e o flecheiro jaz morto no chão e diante de mim, gladiador.
- era com você que eu queria lutar... – ele diz ofegante.
- P-Pôr quê?...- gaguejo.
- pois é o mais fraco de todos, e os mais fracos deixamos por último.
Ele ergue o machado para cima e diz – mas por último... Tenho perguntado isso para todos que matei, qual é o seu nome guerreiro?
- SUA MORTE – GRITO.
- o que? – ele diz rindo.
Isso é o destino para todos que se acham de mais e se tornam descuidados, eles são superados, deslizo por debaixo de suas pernas, minha estrutura pequena permitiu-me isto, tiro a adaga rapidamente de minhas calças e a enfio no meio de suas costas.
- MORRA – grito eufórico.
Ele cai de joelhos no chão e sibila suas ultimas palavras – P-Parabéns... Você conseguiu o emprego.