PSICO-BRAIN

Estava empilhado sobre o balcão as notas de dez e vinte que tinha proposto gastar aquela noite. Pedi uma cerveja. O bloco de notas; maldito bloco de notas que me faz lembrar todas as vezes na sua vastidão branca e vazia que preciso tomar rumo, preciso continuar, seguir adiante, e então eu escrevo o que o bloco me faz pensar. E naquela pilha de papeizinhos eu me desgastava, e outra cerveja, e eu escrevia, e outra cerveja.

Por assim dizer começava eu a ilusionar em meu psico-brain, e quando percebia que o álcool circulava em minhas veias usava da significativa energia e odor de bêbado para questionar a garçonete o que tanto ela arrumava as garrafas expostas na estante.

- Não sei, apenas as arrumo, é meu trabalho.

- Com certeza, mas acredito que você já tenha arrumado o suficiente, por que com certeza você já está a quase meia hora tentando endireita-las. São os rótulos? Você quer alinhá-los?

A garota olhou, e ficou ali, me encarando. Olhei se havia algum atrativo atrás de mim, mas com certeza aquele tipo de garota não se interessaria pela porta do banheiro masculino.

- O que você quer? – perguntou ela.

- Já fiz meu pedido, você já me serviu. Olhe.

O copo estava sob o balcão, a bebida quase esgotara, ela apanhou a garrafa de uísque e serviu mais uma dose.

- Ok, agora vou voltar a arrumar as garrafas, você bebe a sua bebida e não diz mais nada.

Ela voltou a arrumar as bebidas e então tornei a escrever no bloco.

“Alinhe as garrafas” escrevi.

A porta do bar se escancarou e na soleira um homem de chapéu estranho e roupa esquisita olhava de cara feia para todos que ali estavam presentes. É claro que os jovens de hoje em dia não se intimidam, logo um rapaz levantou-se. Seus amigos levantaram em seguida.

- Não queremos confusão – disse o homem com a voz grave e rouca.

Amassou o cigarro na mão antes de adentrar por completo o estabelecimento e o lançou para fora.

Mas como podia um homem sozinho responder por uma legião?