Estações

A Prima-Vera vinha cantarolando e saltitando sobre a verde relva de um lindo bosque. Seu vestido, radiante e singelo como o por do sol, esvoaça enquanto ela gira e desliza em um semidançar saltitante. O vento doce e suave lhe acaricia os cabelos dourados enquanto ela estica os delicados braços, de pele lisa da cor do marfim, para tocar os galhos baixos das arvores fazendo com que lindas e perfumadas flores desabrochem pelo bosque. Com delicadeza coloca uma bela flor atrás da orelha, quando se depara com o Verão.

Parado ali, encostado em uma arvore, forte, bonitão, um sorriso atrevido no rosto. Com um leve aceno de cabeça o Verão vira as costas e segue andando, imponente, poderoso. A passos fortes e decididos atravessa o bosque e sai em uma clareira. Os ventos úmidos carregados de presságio de tempestades bagunçam seu cabelo fazendo-os grudarem em sua testa suada e bronzeada. A grama geme a cada poderoso passo e a camisa impecavelmente branca gruda no suor de seu corpo. Limpando o suor da testa com as costas da mão ele viu Outono.

Sentado na varanda de sua cabana feita de toras de arvores, apreciando uma xícara de chá. Outono levantou cordialmente a xícara num breve cumprimento e tomou o chá num único gole. Um vento tépido balançava-lhe os cabelos já se agrisalhando. Com um longo suspiro dobrou cuidadosamente o jornal, retirou os óculos de aro grosso que combinavam com o grande casaco marrom e os depositou placidamente sobre a mesa de madeira bruta. A cadeira de balanço rangeu quando ele se levantou e foi para dentro, arrastando as aveludadas sandálias no assoalho. Debruçou-se preguiçosamente sobre o parapeito da janela e viu o Inverno.

Fazendo uma careta, Inverno, num gesto mal educado, chacoalhou o magro punho fechado no ar, de onde pendia em trapos a manga de seu grosso casaco de um cinza sujo e gasto. Deu as costas e foi andando, tremendo, curvado sobre uma bengala torta, resmungando coisas ininteligíveis e gesticulando com as mãozinhas magras. A barra do casaco se arrastando pelo chão esbranquiçado pelo começo da neve. Após um tempo de caminhada começou a sentir-se estranho, pois a neve começara a dar lugar a um extenso gramado e seu coração ameaçou até mesmo sentir uma pontada de calor quando vislumbrou ao longe, lá perto do bosque, uma moça com um lindo vestido, radiante como o Sol, e ouviu ainda baixinho um cantarolar...

Eduardo Portela
Enviado por Eduardo Portela em 28/05/2016
Código do texto: T5649603
Classificação de conteúdo: seguro