Guerreiro amarelo (03)
Quando ouvi o grito de guerra do líder, todo meu copo se retesou, segurei a lança com toda força de minha mão e urrei com toda horda. Os vermelhos estavam distraídos, ajudando suas mulheres nas tarefas da aldeia, e corri na direção deles. As mulheres e crianças vermelhas correram para proteger-se, e os homens vermelhos correram para pegar suas lanças e defender-se. Esforcei-me para correr ainda mais rápido, porque desejava matá-los antes que eles se armassem. Alcancei o primeiro quando ele estendia o braço para pegar uma borduna, e cravei minha lança nas suas costas. Senti seu estremecimento de morte através do lenho da minha arma. Arranquei a lança, daquele corpo, para imediatamente matar outro, mas a ponta de pedra ficou dentro dele, e o que eu tinha agora era apenas uma vara comprida nas mãos.
Um vermelho veio na minha direção, com a lança apontada contra meu peito, e usei a vara para desviá-la. Entrei em luta corporal, e sentia o cheiro diferente de sua pelagem ruiva. Tirei uma lasca de madeira afiada que levava na cintura e enfiei no pescoço do homem. Desta vez não senti o estremecimento da morte nele. Ele apenas desmaiou e sangrou. Levantei-me de olhei ao redor, em busca de mais vermelhos para matar. A luta era prazerosa como uma caçada. Os movimentos das minhas pernas e braços eram como uma dança ao redor e um fogueira. Sentia-me leve como um macaco pulando nas copas das árvores.
Lutei até sentir uma ponta rasgando minha carne nas costas, e por alguns instantes perdi a consciência. Depois vi meu corpo caído no meio da batalha, e guerreiros por todos os lados, vermelhos e amarelos, cada qual em seu esforço máximo pela sobrevivência. Vi o líder amarelo matar o último guerreiro vermelho. Eles agora nunca mais matariam a caça de nosso território. O líder amarelo urrou em sinal de vitória, e seus homens o acompanharam. Queria urrar também, mas a voz não saía de meu peito. Vi a aldeia sendo saqueada e queimada. Pouco tempo depois, estavam todos a caminho de volta à caverna, e os corpos dos mortos lá ficaram, para as viúvas fazerem deles o que bem quisessem.
Não voltei à caverna com meus companheiros. Fiquei por ali. Uma mulher de pelagem vermelha entrou na aldeia destruída, ajoelhou-se ao lado de um corpo e começou a chorar e soluçar. Ao lado daquele vermelho estava o meu corpo. A mulher cuspiu nele, levantou-se, tomou uma pedra e começou a bater na cabeça do meu corpo, esmagando-a, com ódio. O sangue respingava no seu colo e no seu rosto Mulher estúpida! Eu não sentia nada.
Eram tempos de guerrear.
(G. Vendrami)