CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO PROCURANDO EU.

O que busco?

Nem eu mesmo sei, em uma jornada rumo ao infinito do finito de mim mesmo, assim sigo eu, momentos passageiros forjam momentos em que me seguem vida a fora.

São pensamentos transmutando em corpos que vagam de uma vida a outra se fundindo em múltiplas existências.

Me perco e me acho, quem sou eu, um individuo ou múltiplos, ao fim apenas um grão de areia nas praias cósmicas do próprio pluriverso.

Experiências que se renovam conforme o próprio tempo, o corpo se move carregando uma mente inerte, ou e uma mente acelerada em um corpo que resiste aos comandos mentais.

Assim a jornada segue o andarilho vaga na pluralidade da própria criação, onde a diferenciação permite sempre uma nova composição do próprio eu.

Por isso a busca por novos pontos de vista para a reinvenção de um eu cósmico, onde o desconhecer no que vem a ser para que se possa construir um vir a ser.

O andarilho sabe que existe uma anterioridade no vir a ser, ou melhor, a anterioridade do espírito ao próprio corpo nas multiformas do próprio eu.

De repente alguém grita.

Para ai moço.

O andarilho para repentinamente.

Um caminhão passa próximo ao seu corpo.

O bêbado sorri.

O andarilho percebe que se aquele homem não chamasse sua atenção ele seria atropelado.

O andarilho agradece e diz ao homem.

Se o senhor não tivesse gritado eu teria morrido, pois estava tão distraído em meus pensamentos que nem percebi a aproximação do veiculo.

O bêbado olha em direção ao andarilho e diz.

E assim mesmo moço, acontece comigo de vez em quando, mas bêbado da sorte.

E juntos seguem andando, o bêbado esta sujo, fede muito, uma mochila nas costas, uma bota surrada pelo tempo nos pés, suas unhas grandes e sujas, o ser na verdade parece um metamorfo.

O bêbado olha para o andarilho e diz.

Ta viajando longe moço, volta à mente para o corpo, pois se perder o corpo a mente de nada servira.

Acabara como eu, um corpo que vaga sem uma mente para guiá-lo, sou um zumbi, meu cérebro e apenas um órgão do corpo humano, muito pouco me serve, vivo apenas para beber.

O andarilho olha para o homem e diz.

Você sabe demais para um ser que não usa o cérebro.

O bêbado sorrindo diz ao andarilho.

Já usei demais moço.

Eu era psiquiatra, vivia para resolver conflitos nas mentes alheias, mas não cuidei da minha.

O andarilho em tom de seriedade pergunta ao homem, como assim.

O bêbado psiquiatra se vira ao andarilho e continua.

Eu tinha controle sobre os meus atos, ate que em um acidente automobilístico em uma viajem de ferias perdi minha mulher e meu filho, foi muito triste.

O andarilho se cala.

O bêbado olha em sua direção e diz.

Apos o velório eu sai andando, e desse dia em diante passei a morar na rua, não quero mais nada, minha existência não tem sentido.

O andarilho não sabe o que dizer.

O homem percebe, e diz ao andarilho.

Fique tranqüilo homem, a vida segue junta, mas os caminhos se dividem, aceitei o que aconteceu, mas não compreendo o por que.

Caro andarilho o sofrimento e necessário para que o ser encontre uma forma de tornar o peso da própria existência mais leve, pois somos incapazes de antever os problemas existenciais.

O existir altera a estrutura dos nossos interesses, pois em nossa mente estão gravados todos os acontecimentos, mesmo que o objeto do pensamento não esteja no mesmo local, ou a pessoa não esteja mais viva ela ainda estará La, na própria estrutura do pensamento.

Pois quando estou bêbado minha mente vaga, não consigo distinguir o real do imaginário, isso me mantém vivo, pois o presente e o passado e afetado pelo álcool e assim vivo em um mundo onde busco o que não existe mais.

O andarilho se confunde diante das explicações do bêbado, e não consegue entender em qual dos mundos aquele ser subsiste, se vive o presente real ou o passado imaginário.

E vê o bêbado como um ser que vive duas dimensões ao mesmo tempo, onde o passado e que o mantém vivo, e isto faz com que ele fuja do presente usando a bebida como forma de se alienar.

E assim o bêbado segue em seu raciocínio duplo.

Caro andarilho vivo tentando retificar minha realidade opressora, projeto meu futuro no passado e me afasto da realidade tóxica, onde o passado e a única saída que encontro para me manter vivo.

O andarilho balança a cabeça, discordando do homem, em seguida lhe diz.

Meu caro, o corpo vive em transformação constante, os dias se passando são um ser se esvaindo, no tempo ou nele mesmo.

A mente como o espírito nunca esta completa, as transformações mentais são cíclicas, pontos de vista se alteram, você se tornou um prisioneiro de si mesmo, em uma prisão sem muro.

Tente manter o domínio de si mesmo, tente se conectar a realidade deste mundo, busque cuidar de si mesmo reexamine sua consciência domine suas representações mentais.

Lute pela vida, ser escravo de si mesmo e a mais pesada de todas as servidões, não se isole do mundo ao contrario busque nele ferramentas de ligação que conectem a carne ao espírito.

A vida e uma obra inacabada mude a cadeia de representações psíquicas recrie seus caminhos, de uma nova direção a própria existência, o seu sentimento de culpa e fonte permanente de sofrimento.

A culpa possui um caráter inibidor e patológico, pois ela gasta grande quantidade de energia psíquica para manter a Constancia de seu sofrimento, você se acha merecedor de uma punição se infringindo a um castigo cruel e tirânico que ira te induzir a atitudes autopunitivas.

Saiba meu caro isso te levara a depressão, aos transtornos de ansiedade, sua alma esta enferma, por isso levante-se e se reconstitua recrie-se, pois o tempo não voltara.

O bêbado sente o corpo pesado, incapaz de caminhar e reconstruir sua existência as palavras do andarilho mexeram com seu ego.

E diz ao andarilho.

Meu amigo, todos se sentem culpados por algo, isso faz parte da própria existência humana, mas minha culpa vem de um erro irreparável onde senti uma perca tão grande que nem minha própria existência seria capaz de conter meu vácuo existencial.

Pois me falta sentido, a vida se tornou uma somatória de tempo que segue em fluxo continuo, quando me deito o sono não vem e eu passo a criar cenas que sei que jamais acontecerão.

Fico sempre preso entre o real e o imaginário, pois para quem não sabe aonde vai qualquer caminho serve.

O andarilho sempre ouve as pessoas em busca de conexões de ligações atemporais, pois as situações acontecem em um tempo continuo, e somente na fragmentação temporal e que podemos tentar entender o que acontece.

Se pudéssemos ter uma dualidade temporal poderíamos antever quais conseqüências que podem diminuir as atitudes erradas, seria como se existisse um portal de tempo volátil.

Pois os erros de hoje podem ser os acertos do amanhã, e vice e versa os acertos do hoje serem os erros do amanhã, pois a grande preocupação do ser esta em esconder quem somos por medo de sermos excluídos.

Vivemos em um mundo imaginário, onde nossas decisões são tomadas em vista de perspectivas e não do concreto, nos tornamos frutos de uma arvore que nos mesmos plantamos.

Ou seja, meu caro.

Você se julga culpado por algo que aconteceu sem que você tivesse culpa, mas o peso maior em sua vida não esta em como aconteceu os fatos e sim em como você lidou com os acontecimentos, você se martiriza por algo que aconteceu culposamente, não teria como prever o acidente.

Creio que sua fuga da realidade se deu por repercussão social, o medo que você teve de encarar as pessoas, o momento seguinte ao enterro te desencorajou de encarar a própria e fatídica realidade que te esperava.

O bêbado agora sente seus pensamentos flutuarem, pois enquanto os corpos desciam para a cova muita coisa se passou em sua mente, a culpa o impediu de encarar as pessoas.

A vergonha o impediu de dar continuidade a sua existência.

O andarilho percebe a confusão que causou na mente do pobre homem, mas quando uma pessoa esta em crise consigo mesmo necessita de um choque mental para redirecionar seus pensamentos.

O menos importante no momento de se tomar uma decisão e o que os outros irão pensar e em como irão te julgar, não seja desleal consigo mesmo, volte a sua vida e encare o que tiver pela frente.

Pois agora você tem a consciência de que o mundo não tem o dever de perdoar, e sim as pessoas e que tem que tentar entender o que aconteceu, fatalidades mudam vidas inteiras.

Mas quantas fatalidades você mesmo poderia ter impedido que acontecessem na vida de outras pessoas, divida a razão e a emoção, posicione-se diante de si mesmo.

O bêbado sente que voltou a pensar apos a semente lançada em sua mente pelo andarilho.

E faz uma reflexão sobre sua forma de pensar e sua forma de agir, gerando duas forças internas, opostas e incompatíveis, dividindo um ser em dois, que ao final a emoção passa a dominar a razão.

O andarilho percebe a encruzilhada existencial que colocou o desconhecido, e continua a lhe expor seu pensamento sobre sua vida.

Meu caro você fracassou quando se viu paralisado pelo medo, e você como fuga voltou contra si mesmo, identifique onde ocorreu sua falha em encarar a realidade e reconduza sua vida ao presente.

Veja como pode se corrigir apóie se em si mesmo, reescreva sua historia partindo de um novo ponto de partida.

Eleve se sobre si mesmo, crie mecanismos de enfrentamento sobre si mesmo, não vá à busca de respostas evasivas que nunca vieram nesse tempo em que você passou vagando pelo mundo e dentro de si mesmo.

Entenda que as respostas você mesmo ira criar ao mudar de atitude existencial, não transforme o gato em leão, faça o contrario transforme o leão em gato.

O bêbado sorri, e diz ao andarilho.

Meu caro tudo que você me diz eu sempre tentei fazer com que os outros entendessem, invertemos nossos papeis existenciais, você se tornou um psicanalista.

O andarilho sorri, e assim o clima se torna prazeroso, o bêbado agora parece estar sóbrio, mas não do álcool e sim da própria vida.

O bêbado olha para o andarilho e lhe diz.

Meu caro escreva um livro de autoajuda que você se Dara bem.

O andarilho lhe responde.

Não meu caro, autoajuda não vem em livros, vem de dentro de você, pois auto quer dizer por si só.

O que e necessário e que a pessoa reflita sobre sua própria vida e recrie-se a cada dia, absorvendo os problemas e dando um novo tempero a sua existência, transformando o azedo em doce como em uma limonada.

O bêbado sente-se feliz com o senso critico e a falta de vaidade do andarilho.

E em seguida diz ao andarilho.

Meu caro sua experiência vem dos multiplanos existenciais, guiados por portões dimensionais abertos nas fendas do tempo, sinto que essa conversa ja pode ter acontecido no passado, e que você esta revivendo os acontecimentos para se conectar a outro tempo.

O andarilho sorri, e diz ao homem.

A vida para mim também e uma incógnita, só busco pelo conhecimento na faculdade da vida, sou o laboratório de mim mesmo, meu aprendizado segue o fluxo cósmico da história humana.

Não faço juízo existencial de nem um tipo de ser, pois sei que tudo muda, e são os momentos que ditam a formação da historia do pluriverso, sou apenas um ser que vaga.

O porquê nem mesmo eu sou capaz de te dizer, mas esta e minha missão, a busca continua na condensação do conhecimento, minha alegria esta em servir, necessito me sentir útil na evolução de todas as formas de vida do cosmo.

As paginas que escrevo no livro da vida não são apenas para o hoje, elas transcendem minha própria existência, e irão caminhar por múltiplas existências, servindo como um caminho opcional da própria espécie.

Ate que chegue um dia em que os mundos se alinhem e as existências se conectem, formando uma sociedade cósmica universal, e nesse dia não teremos nem governo e nem justiça, seremos uma sociedade completa em nos mesmos.

Por isso meu amigo, vim te resgatar, para que você possa contribuir para a criação de uma nova estrutura mental intelectiva, pois sei que você ainda tem muito com que contribuir para a evolução cósmica.

O bêbado desaba em prantos frente ao andarilho.

E diz ao viajante das múltiplas dimensões do pluriverso existencial.

Caro andarilho, não sei quem e você, mas entendo a mensagem que quer difundir, percebo que a própria criação cria mecanismos de proteção do próprio sistema, e se hoje você vaga através do pensamento chegara um dia em que o mundo saberá o sentido da sua existência.

Que sua preocupação e com os seres deste plano que estão cegos diante do mundo da matéria, e que um dia entenderão a metafísica existencial.

O andarilho se cala diante do comentário de um bêbado, mas que sua visão de mundo já esta transformada frente aos propósitos existenciais.

O andarilho sente que sua missão com aquele ser esta completa, e que sua jornada segue rumo ao desconhecido em busca de novas situações que possam servir de exemplo ao progresso da humanidade.

Os dois sem dizerem nada se abraçam, e dois novos caminhos se abrem, e cada um segue o seu, com entendimentos transformados e objetivos renovados.

E a luz divina amparando dois seres que tem seus papeis marcados na historia da evolução humana.

O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.

Paulo César de Castro Gomes.

Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária superior pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)