HISTÓRIAS PITORESCAS SOBRE AS FEIRAS DE LIVRO
Episódio 1
Acorda Menino!!!!
Eu cheguei meio que correndo, e em cima da hora, para o lançamento do meu livro cujo título é Amor e Álgebra, visto que estava dando uma entrevista sobre o assunto, onde o repórter perguntou:
- O que tem em comum “amor e álgebra”? e eu lhe disse:
- Tudo! Fazemos muitas manobras para viver um grande amor. E na álgebra se não tivermos amor aos cálculos matemáticos nada dará certo.
Fiz até um poema sobre o assunto, que está nas primeiras páginas:
AMOR E ÁLGEBRA
O amor acontece suavemente
Que nem precisa de cálculos
No entanto, para viver o dia a dia
São necessárias doses diárias de:
Paciência, companheirismo, entrega,
Concessão e disposição para que dê certo
Quanto à álgebra
É necessário um grande amor
Mas pela matemática, pelos cálculos,
Caso contrário não se chega a lugar algum
E quando misturamos os dois
É bom que a porta do quarto
Esteja bem fechada e que
Não haja ninguém na vizinhança
Porque vai ter muito barulho!
Mário Feijó
Metáforas à parte, deixemos a entrevista de lado porque o que mais me marcou naquela Feira do Livro de Porto Alegre foi que ao meu lado estava Luis Fernando Veríssimo, lado esquerdo, e Paulo Coelho, lado direito.
Luis Fernando parecia tão mais velhinho e acabado, mas também eu tinha ouvido que ele acabara de sair do hospital, muito doente. Pensei deve ser isto. Ele usava uma bengala e quase não enxergava. À sua frente, ninguém na fila. Da última vez que vi alguém se aproximando, ele foi logo esticando a caneta, pensando que ia dar autógrafo, mas a moça o chamou de Érico e queria saber onde ia acontecer um show ali na praça. E ele:
- Minha filha, eu não sou o Érico Veríssimo, este era meu pai e se você quer saber algo da feira, pergunte pra sua “Mãe” (meio bravo).
Do meu lado direito, ninguém menos que o mundialmente famoso Paulo Coelho de Sá. De Sá? Fiquei intrigado, mas estava escrito “de Sá”. Na frente dele havia umas dez pessoas, todas impacientes, pois ele nem lhes dava bolas. Batia o maior papo com o Raulzito (Raul Seixas, para os esquecidos).
Pensei comigo “isto deve ser um sonho”. A minha fila tinha umas duzentas pessoas. Perdia-se pela Praça da Alfândega, enquanto a de Paulo Coelho, era de dez pessoas. Imaginei que o escândalo sobre histórias que contam “à boca pequena” que ele clona histórias de outros autores e assina como suas deve ter afetado sua popularidade. Mas e o Érico, digo, Luis Fernando?
Bem voltemos à minha popularidade e ao público que me aguardava naquela feira.
Estava atarefadíssimo dando autógrafos quando ouvi uma barulheira escandalosa que se aproximava. Um ônibus estacionara e de dentro dele saiam meus colegas da AELN, com faixas e bandeiras. Na frente, Silvania, de biquíni e canga dançava e cantava, entoando marchinhas de carnaval. Atrás dela Ulda, Leda e Evanise. Maria de Lourdes escondia-se atrás de uma bandeira. Rodrigo, Artur e Delalves tocavam percussão.
Eu queria achar um buraco para me esconder enquanto pensava “isto não é sonho, mas um pesadelo”. Eles tinham feito uma excursão pra praia e na volta resolveram me prestigiar, mas àquela hora todos já estavam pra lá de Bagdá, tamanha era a corda com latinhas penduradas... Eles não imaginavam que aquilo estava sendo um desprestígio. Onde já se viu? Esta gente da terceira idade deve estar ficando louca. Tentei achar tudo normal, afinal de contas eu também não sou tão normal assim. Entrei na folia e os fãs também.
Afinal de contas eu tinha saído expulso do Big Brother por um escândalo, exatamente, o que deu origem à AMOR E ÁLGEBRA, mas isto me valera toda esta popularidade. Estavam todos querendo saber como é que se faz na prática a operação. Mas isto só lendo meu livro...
Era uma felicidade tão grande que não cabia em meu peito. Pensava “não importa a forma que eu arrumei para ter popularidade, agora sou lido, tenho fama”...
Nisto ouço um barulho de alguém batendo uma porta com força e ouço com nitidez a Ana Maria Braga dizendo “Acorda Menino”!!! era uma de minhas netas que tinha ligado a televisão pela manhã, no programa Mais Você. Acabei acordando frustrado... pode-se dizer.
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14.04.16
Na última reunião de nossa Academia foi sugerido que trouxéssemos uma história dentro do tema acima...