Numa balada qualquer, numa noite qualquer, numa esquina qualquer:
- Oi... Tá tudo bem? Você parece meio...
- Deslocada. É, eu tô mesmo. Sabe aquela coisa de "Festa estranha com gente esquisita"? Pois é.
- Entendi... Bom, quer tomar alguma coisa?
- Quero, brigada.
Eles seguem pro bar, lá ele pede uma cerveja e pergunta o que ela vai querer:
- Vodka. Pura.
Ele se surpreendeu com a escolha. Uma garota como aquela, baixinha, loira dos olhos claros, não parecia ser como aquelas outras garotas fúteis que disputavam quem tinha o vestido menor, ou o salto mais alto.Na verdade ela não parecia pertencer aquela lugar, ela parece ter caído de paraquedas no lugar mais errado que podia ter no mundo. Ele ficou reparando nela, no jeito com que ela bebia a vodka como se fosse água, como ela olhava com um ar de desgosto pra todas aquelas pessoas, no olhar vazio que volta e meia se enchia d'agua. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos. Até que ela vira pra ele, num movimento rápido e repentino e fala:
- Me tira daqui.
Ele meio sem entender, um pouco pelo som alto, e também por ter sido do nada, pergunta:
- Oi?
-Me tira daqui. Agora. Por favor.
- Tá... Tá, claro. Vamos.
E ele pega ela pela mão, e sai da boate, meio sem entender direito e sem saber pra onde estava indo. Quando saíram daquela multidão de jovens excessivamente felizes, ele pode olhar melhor pra ela, que parecia ainda mais linda.
- Você não me disse seu nome.
- Verdade... É Alice. E o seu?
- Rubens. Bom Alice... Pra onde você quer ir?
- Não sei. Qualquer lugar que não tenha tanta gente e tanto barulho.
- Entendi... Acho que sei de um lugar. Vem, meu carro tá estacionado ali na frente.
Eles andaram um pouco e logo acharam o carro de Rubens. O trajeto até o lugar onde eles estavam indo foi feito todo em silêncio. Rubens estava curioso sobre Alice. Ele pensou que aquela seria mais uma noite normal, de ir para alguma boate, conhecer alguma menina sem graça pra passar a noite e voltaria sozinho pra casa, como sempre. Ele já nem se importava mais. Pouco tempo depois eles chegaram à porta de um edifício alto. Ele disse pra Alice que haviam chegado, e ela ficou um pouco receosa. Rubens se defendeu à tempo.
- Não, eu não tô te levando pro meu apartamento pra gente transar. Relaxa, não sou esse tipo de cara.
- Bom saber, eu fiquei um pouco assustada. Mas enfim, já que estamos aqui, pra onde você vai me levar?
- Calma, já chegamos lá.
Eles entraram no prédio, e subiram de elevador até o terraço. A vista lá de cima era incrível. Eles podiam ver boa parte da cidade, ainda acesa, ainda acordada. O vento soprava forte, e bagunçava o cabelo de Alice que ainda estava extasiada com a vista.
- Que lugar lindo! Você mora nesse prédio?
- Moro. Na verdade eu fico mais tempo aqui em cima do que no meu apartamento. Eu trabalho muito e quando tenho um tempinho pra descançar, um tempo pra mim, eu venho pra cá.
- É realmente lindo. E... Me desculpa. Ter te tirado de lá, te pedido pra me tirar de lá, na verdade...
- Não. Tudo bem. Eu também não gosto muito daquele lugar. Vou lá mais por falta de opção. Mas... Me conta sobre você. O que tava fazendo lá?
- Não sei... Eu tava cansada de ficar em casa. Cansada do meu quarto, da minha vida. Aí decidi fazer uma coisa que eu não faria normalmente. Sair para uma boate onde só teria mulheres fúteis e caras idiotas.
- Ei! Eu não sou idiota!
- É, você não é. Ainda bem que você apareceu. Eu tava quase ficando louca ali.
- Que bom que você apareceu pra tornar minha noite mais interessante.
Alice parecia extasiada com aquela vista, com aquela altura. Ela não parava de olhar lá pra baixo e sussurava coisas aleatórias que ele não entendeu. Ela começou a falar em voz alta, quase gritar.
- Aqui é tão alto! Tão aberto! A gente se sente tão livre, tão... Tão tranquilo! Sabe -nisso, ela olhou para Rubens e ele pode ver que ela estava chorando- quando eu pedi pra você me tirar "daqui", eu não estava só falando da boate. Eu estava falando de mim. Me tira daqui! Me tira de dentro de mim! Me deixa ser outra pessoa!
Ele ficou assustado. Alice estava com um olhar vidrado, assustador.
-Calma... Alice, vem cá, fica calma, do que você está falando?
- Eu tô falando de mim! Eu não aguento mais ser eu! Não aguento mais ser tudo que eu sou. Não aguento não conseguir ser como todo mundo.
- Mas... Você não é como todo mundo! E isso é bom. É ótimo. Você é diferente de todas aquelas garotas idiotas que estavam naquele lugar.
- Mas eu não quero mais ser isso. Não quero mais ser eu. Não quero mais estar aqui.
E se sentou na mureta, com os pés para fora, soltos no ar.
- Sabe? Eu poderia voar. É, eu poderia mesmo. Voaria pra bem longe de tudo que me deixa mal. Voaria pra sempre.
Nisso, ficou em pé sobre a mureta. Rubens estava sem saber o que fazer. Aquela garota tinha começado a falar coisas sem sentido e agora estava falando sobre voar, no alto de um prédio. Ele tentou interferir:
- Alice, sai daí, é perigoso, você pode acabar caindo. Vem, desce, vamos sair daqui.
- Não! Eu não quero sair! Eu quero voar. Quero deixar de ser eu. Quero sair daqui!
Falando isso, ela se jogou. Se jogou com um sorriso no rosto como se tivesse esperado a vida toda pra fazer aquilo. Como se tivesse esperando por aquela oportunidade o tempo todo. Ele sentiu seu mundo cair. Ele levou uma garota que tinha acabado de conhecer pro alto de um prédio, e ela simplesmente se jogou. Ela se jogou. E ele estava lá, sem saber o que fazer. De repente, ele escuta um barulho. É o despertador. Rubens levanta assustado, ainda abalado pelo pesadelo que teve. Era tudo tão real... Mas não passou de um sonho e ele não tinha muito tempo ou se atrasaria pro trabalho, e ainda tinha que passar na livraria antes. Depois de tomar uma banho rápido e um café nada saudável, ele sai apressado, pega seu carro na garagem e vai à livraria. Pega rapidamente o livro que foi comprar e se dirige à fila, que não estava tão grande. De relance ele pode ver a balconista, e... Ele a conhecia. De algum lugar. Aquela voz... Aquele cabelo... Aqueles olhos... Não, não podia ser. Sua vez chegou e ele teve certeza. Eram os mesmo olhos claros e vazios, o mesmo cabelo loiro e solto, o mesmo rosto, as mesmas feições. Ela era idêntica à...
- Bom dia senhor, posso ajudá-lo?
E no crachá, o nome dela, Alice.
- Oi... Tá tudo bem? Você parece meio...
- Deslocada. É, eu tô mesmo. Sabe aquela coisa de "Festa estranha com gente esquisita"? Pois é.
- Entendi... Bom, quer tomar alguma coisa?
- Quero, brigada.
Eles seguem pro bar, lá ele pede uma cerveja e pergunta o que ela vai querer:
- Vodka. Pura.
Ele se surpreendeu com a escolha. Uma garota como aquela, baixinha, loira dos olhos claros, não parecia ser como aquelas outras garotas fúteis que disputavam quem tinha o vestido menor, ou o salto mais alto.Na verdade ela não parecia pertencer aquela lugar, ela parece ter caído de paraquedas no lugar mais errado que podia ter no mundo. Ele ficou reparando nela, no jeito com que ela bebia a vodka como se fosse água, como ela olhava com um ar de desgosto pra todas aquelas pessoas, no olhar vazio que volta e meia se enchia d'agua. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos. Até que ela vira pra ele, num movimento rápido e repentino e fala:
- Me tira daqui.
Ele meio sem entender, um pouco pelo som alto, e também por ter sido do nada, pergunta:
- Oi?
-Me tira daqui. Agora. Por favor.
- Tá... Tá, claro. Vamos.
E ele pega ela pela mão, e sai da boate, meio sem entender direito e sem saber pra onde estava indo. Quando saíram daquela multidão de jovens excessivamente felizes, ele pode olhar melhor pra ela, que parecia ainda mais linda.
- Você não me disse seu nome.
- Verdade... É Alice. E o seu?
- Rubens. Bom Alice... Pra onde você quer ir?
- Não sei. Qualquer lugar que não tenha tanta gente e tanto barulho.
- Entendi... Acho que sei de um lugar. Vem, meu carro tá estacionado ali na frente.
Eles andaram um pouco e logo acharam o carro de Rubens. O trajeto até o lugar onde eles estavam indo foi feito todo em silêncio. Rubens estava curioso sobre Alice. Ele pensou que aquela seria mais uma noite normal, de ir para alguma boate, conhecer alguma menina sem graça pra passar a noite e voltaria sozinho pra casa, como sempre. Ele já nem se importava mais. Pouco tempo depois eles chegaram à porta de um edifício alto. Ele disse pra Alice que haviam chegado, e ela ficou um pouco receosa. Rubens se defendeu à tempo.
- Não, eu não tô te levando pro meu apartamento pra gente transar. Relaxa, não sou esse tipo de cara.
- Bom saber, eu fiquei um pouco assustada. Mas enfim, já que estamos aqui, pra onde você vai me levar?
- Calma, já chegamos lá.
Eles entraram no prédio, e subiram de elevador até o terraço. A vista lá de cima era incrível. Eles podiam ver boa parte da cidade, ainda acesa, ainda acordada. O vento soprava forte, e bagunçava o cabelo de Alice que ainda estava extasiada com a vista.
- Que lugar lindo! Você mora nesse prédio?
- Moro. Na verdade eu fico mais tempo aqui em cima do que no meu apartamento. Eu trabalho muito e quando tenho um tempinho pra descançar, um tempo pra mim, eu venho pra cá.
- É realmente lindo. E... Me desculpa. Ter te tirado de lá, te pedido pra me tirar de lá, na verdade...
- Não. Tudo bem. Eu também não gosto muito daquele lugar. Vou lá mais por falta de opção. Mas... Me conta sobre você. O que tava fazendo lá?
- Não sei... Eu tava cansada de ficar em casa. Cansada do meu quarto, da minha vida. Aí decidi fazer uma coisa que eu não faria normalmente. Sair para uma boate onde só teria mulheres fúteis e caras idiotas.
- Ei! Eu não sou idiota!
- É, você não é. Ainda bem que você apareceu. Eu tava quase ficando louca ali.
- Que bom que você apareceu pra tornar minha noite mais interessante.
Alice parecia extasiada com aquela vista, com aquela altura. Ela não parava de olhar lá pra baixo e sussurava coisas aleatórias que ele não entendeu. Ela começou a falar em voz alta, quase gritar.
- Aqui é tão alto! Tão aberto! A gente se sente tão livre, tão... Tão tranquilo! Sabe -nisso, ela olhou para Rubens e ele pode ver que ela estava chorando- quando eu pedi pra você me tirar "daqui", eu não estava só falando da boate. Eu estava falando de mim. Me tira daqui! Me tira de dentro de mim! Me deixa ser outra pessoa!
Ele ficou assustado. Alice estava com um olhar vidrado, assustador.
-Calma... Alice, vem cá, fica calma, do que você está falando?
- Eu tô falando de mim! Eu não aguento mais ser eu! Não aguento mais ser tudo que eu sou. Não aguento não conseguir ser como todo mundo.
- Mas... Você não é como todo mundo! E isso é bom. É ótimo. Você é diferente de todas aquelas garotas idiotas que estavam naquele lugar.
- Mas eu não quero mais ser isso. Não quero mais ser eu. Não quero mais estar aqui.
E se sentou na mureta, com os pés para fora, soltos no ar.
- Sabe? Eu poderia voar. É, eu poderia mesmo. Voaria pra bem longe de tudo que me deixa mal. Voaria pra sempre.
Nisso, ficou em pé sobre a mureta. Rubens estava sem saber o que fazer. Aquela garota tinha começado a falar coisas sem sentido e agora estava falando sobre voar, no alto de um prédio. Ele tentou interferir:
- Alice, sai daí, é perigoso, você pode acabar caindo. Vem, desce, vamos sair daqui.
- Não! Eu não quero sair! Eu quero voar. Quero deixar de ser eu. Quero sair daqui!
Falando isso, ela se jogou. Se jogou com um sorriso no rosto como se tivesse esperado a vida toda pra fazer aquilo. Como se tivesse esperando por aquela oportunidade o tempo todo. Ele sentiu seu mundo cair. Ele levou uma garota que tinha acabado de conhecer pro alto de um prédio, e ela simplesmente se jogou. Ela se jogou. E ele estava lá, sem saber o que fazer. De repente, ele escuta um barulho. É o despertador. Rubens levanta assustado, ainda abalado pelo pesadelo que teve. Era tudo tão real... Mas não passou de um sonho e ele não tinha muito tempo ou se atrasaria pro trabalho, e ainda tinha que passar na livraria antes. Depois de tomar uma banho rápido e um café nada saudável, ele sai apressado, pega seu carro na garagem e vai à livraria. Pega rapidamente o livro que foi comprar e se dirige à fila, que não estava tão grande. De relance ele pode ver a balconista, e... Ele a conhecia. De algum lugar. Aquela voz... Aquele cabelo... Aqueles olhos... Não, não podia ser. Sua vez chegou e ele teve certeza. Eram os mesmo olhos claros e vazios, o mesmo cabelo loiro e solto, o mesmo rosto, as mesmas feições. Ela era idêntica à...
- Bom dia senhor, posso ajudá-lo?
E no crachá, o nome dela, Alice.