Ataraxia

Em teus olhos, um poço abissal na escuridão do vazio,

minha própria coroa de espinhos,

onde fez-se carente,

na utopia da minha pequena fração existente.

Sentei-me ao verde luar em soturno monte,

eia que como Lótus - digo - Ninfa e Sátira,

aterra-se pelo ádito de forma ardente,

rubra e de laço quente.

Doçura encarnada,

que diante da Utopia,

sutilmente dizia: Ataraxia!

Como poderia de forma apagada,

a filha em Arcádia nascida,

ser fruto da destruição serializada?

Em contrasto pareces moldada - disse eu;

Mas nobre e tão pouco ousada.

Eia que naquela noite voraz,

disse algo ais que jamais imaginei capaz;

Ainda solene e lento,

mas sem pausar em nenhum momento:

Serena és, criatura de luz,

que minha alma seduz,

em presença delicada e fugaz,

onde ainda forte me conduz.

Urdiam atípicos terrores em mente sais,

acompanhado de estranhos desejos ao cálice dos ancestrais;

Será esse o Dúbio destino final?

Afugentado na misteriosa noite infinita em sonhos tais,

aquela que me carrega ao Libido dos Umbrais;

Maldita seja noite sem fim,

sem tardar vinda em paz profunda ao meu ais,

batendo mais e mais.

Doçura encarnada,

que diante da Utopia,

sutilmente dizia: Ataraxia!

Mórbida rosa em mundo inferior,

digo, vida adjacente de beleza crua,

em pandemônio repugnante,

morrendo em segredo e mesmo assim radiante.

Profetisa em retiros sepulcrais,

essa que chorava em véus aos anjos infernais,

misteriosa ficava, como a Lótus em que seu pescoço carregava.

Dize-me que outrora orava aos demônios que negrejas,

utopia ou ataraxia, dize-me o que quer que sejas.

Por toda aquela noite se resumiu,

a misteriosa noite de sonhos tais,

abaixo do verde luar em linhas funerais.

Foi em soturno monte onde tudo ocorreu,

neste quarto onde o horror fez-se presente,

horror e assombro profundo de lares triunfais.

Rebeldes corações entregues,

tristonhas almas em soturno monte,

onde os ecos infernais mergulharam no silêncio;

Quão insano me tornei abnegado de sentimentos?

Não houve aparte,

na criação rítmica da escuridão de um pensar,

um choro entrecortado, inumano, digo...

Vinda da garganta dos condenados,

ao fundo dos meus umbrais,

onde em meus pensamentos tais,

o estridente som tornava-se a minha fiel agonia.

Ao desejo da doçura encarnada,

que diante da Utopia,

sutilmente dizia: Ataraxia!

William Cleize
Enviado por William Cleize em 24/02/2016
Reeditado em 25/02/2016
Código do texto: T5553345
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.