Areia
Caminhava pelo deserto extenuadamente. O deserto era tão vermelho quanto sangue e cada grão de areia espetava os dedos do seu pé descalço como o espinho de uma rosa. Sua língua, tão áspera quanto a pele de uma cobra coral, suplicaria por água, se tivesse forças para tal. No seu campo de visão apenas duas coisas: o belo pôr-do-sol e as intermináveis dunas do deserto rugô. Exaurido de todas suas forças, cedeu ao clamor de seus joelhos e desmoronou em si mesmo. Após sucessivos sonhos e pesadelos longínquos, acordou ainda mais cansado do que antes, sob o Céu, negro, brilhante e acolhedor. Rastejou com a ajuda das estrelas até que uma de suas mãos bateu num objeto, emitindo um som metálico que quebrou o serenidade da noite. Angustiadamente, começou a cavar ao redor do objeto com suas mãos ressecadas, para finalmente retirá-lo da areia. Ainda debruçado sobre a apimentada areia, ergueu o objeto contra a Lua e conseguiu distingui-lo:era uma lâmpada dourada. Intuitivamente, esfregou a lâmpada com a manga de sua blusa e uma fumaça roxa e brilhante começou a jorrar de sua ponta em contínuos movimentos ondulantes. Essa fumaça inicialmente difusa começou a se acumular deformadamente num ponto até tomar a forma de um gênio. O ser celestial então fitou o protagonista calmamente, apesar dos braços cruzados sobre o vigoroso corpo azul indicarem o contrário. Depois de uma eterna breve pausa, descruzou os braços e adotou um benevolente semblante. Espalmando a palma de suas mãos disse: "Lamento, mas você está sozinho nessa." Desmanchou-se no ar, deixando apenas uma fina camada de fumaça roxa aos ventos da noite. O protagonista voltou a caminhar extenuadamente pelo deserto.