O QUE O VENTO TRÁS

Larry Fisher caminhava pela praia, eram umas 8 horas da manhã, fazia um frio horrível a maioria das pessoas ainda estavam dormindo, exceto por algumas lojas que começavam a serem abertas, uns trabalhadores reformando o asfalto danificado, e outras pessoas recolhendo o lixo da praia deixado pelos banhistas ou mesmo trazidos pelo vento. “Trazido pelo vento” outro termo irrelevante que nos faz parar para pensar...

Era fácil perceber o queixo de Larry tremer, ele andava cabisbaixo, bem poucas vezes levantava a cabeça, ora para dar bom dia para as pessoas que passavam por ela, ora para ver se o sol ia sair de trás daquelas nuvens. Larry acabara d completar vinte anos, mal acabara de conquistar seu primeiro emprego como jornalista, ele tinha que acordar todos os dias as seis da manhã, naquele sábado ele estava de folga caminhava para tentar refletir para tentar esquecer o que viu três noites atrás.

Depois de uma lenta e dolorosa caminhada, ele finalmente chegou a um restaurante, de quinta categoria diga-se de passagem, a garçonete era bem atraente mas extremamente depravada, as cadeiras eram velhas e tinham um cheiro horrendo de mofo, aquele café frio aquele bolo de milho que parecia ter mais uma semana, tudo aquilo não importou absolutamente nada.

Enquanto Larry olhava para sua xícara cheia de um liquido de gosto horrível, era um pecado chamar aquilo de café, ela ouvia vozes de quem não sabe a hora de parar...

-Então eles foram parar mesmo no necrotério?

-Nego vai sofrer hoje...

-Um deles era tão jovem, como pode...?

-Esses cara merecero mermo...

Larry saiu e pagou a conta, mais uma palavra sobre o que tinha acontecido e ele iria bater em alguém. Ele saiu e contemplou o sol, embora tímido, ele finalmente aparecera.

Caminhando pela calçada, Larry observava todos ao redor, alguns com medo, outros curiosos, a vida estava seguindo com normalidade para todos, exceto para Larry, aquela coisa, aquilo levou seus amigos, aquilo quase levou sua sanidade, aquilo só não o matou por que não quis, alguém pode ter dito que eles mereceram, mas quem não comete besteiras quando é jovem?

Aquela maldita matéria que ele nunca vai ler na vida, escrever aquela... aquela nota de suicídio, era assim que ele chamava, foi a coisa mais difícil que ele já fez na vida. A troco de fama e fortuna? Seus amigos se foram, nada mais importa, Larry só não está chorando agora porque suas lágrimas não vão traze-los de volta, algumas coisas nunca voltam.

A ida até sua casa pareceu interminável, como aquela noite fria de quinta, ele revirou papeis, tomou refrigerante, comeu barras e barras de chocolate, e evitava a todo custo passar em frente a sua velha máquina de escrever, mas se quisesse ter dinheiro naquela semana ele teria de terminar sua matéria, foi terrível, foi agonizante, mas em fim estava concluída.

Meses se passaram após o incidente, Larry estava outra vez na mesma praia, dessa vez estava quente, o sol estava brilhando forte, ele enfim voltou a sorrir e andar de cabeça erguida, embora pesadelos com aquela noite ainda o atormentassem ele enfim voltou a escrever com mais calma, ele já estava voltando para casa, quando o vento trouxe uma folha de jornal que veio voando na direção de Larry e prendeu em sua perna, ele a pegou e leu, mas soltou-a quase que instantaneamente, e então saiu correndo da praia ele queria chegar logo em casa e esquecer, simplesmente esquecer...

Existem coisas além de nossa capacidade, as quais jamais deveríamos nos atrever a se quer pensar em fazer, mas mesmo assim a curiosidade e a ganância humana sempre nos fazem querer ir além das fronteiras, foi realmente difícil para Larry, para todos na cidade, mas pior para Larry. O que lhe causou tanto terror? Uma coisa que o vento trouxe, uma matéria completa digna de um Nobel de literatura, coisa para ficar registrada na história para sempre, uma matéria de jornal com o título:

UM REAL CASO DE POSSESSÃO DEMONÍACA POR LARRY FISHER!

iran souza
Enviado por iran souza em 29/01/2016
Código do texto: T5527647
Classificação de conteúdo: seguro