A VISITA

Sua visita era infalível.

Assim se dava há muito tempo.

Faziam amor.

Jogavam xadrez.

Falavam de amenidades.

Contavam de suas infâncias.

Discutiam política.

Futebol, não.

Ela nunca entendera sua alegria quando seu time ganhava.

Chegava a sentir ciúme.

Ele também fazia suas cenas.

Olhava desconfiado frente ao silêncio as suas indagações sobre outro amor.

Depois, pedia desculpas.

Pedia que não o abandonasse.

Segredava haver enlouquecido num amor de vida passada.

Hipnotizado jurava ter sido um rico califa do Oriente Médio.

Ela sua escrava preferida.

Roubada por inimigos da corte.

Explicava-se o reencontro atual.

Ele escravo, aprisionado pelo prazer diário de sua presença.

Ela rica em sua beleza e ternura perene.

Sua presença era a única certeza na vida.

Por ele, conversariam o dia todo.

Mas, só era possível à noite.

Durante o dia os outros poderiam ouvir.

As paredes têm ouvido, escutava desde pequenino este conselho de sua mãe.

Não gostava de ficar falando com ela no jardim.

Já fora surpreendido e repreendido por colher uma rosa.

Ficou tão assustado que se feriu no espinho.

Desse dia em diante, ficavam apenas sentados no banco.

Trocando olhares apaixonados.

Às vezes, muito raramente, parece ouvi-la dizer que também o ama.

Sorri.

Quase todos ao seu redor também.

Alguns, mais desinibidos falam em voz alta.

Cantam.

Esconda-se! Alerta-a, levando o dedo à boca em sinal de silêncio.

Dá-lhe um abraço.

Pede que volte mais tarde.

A porta do quarto é aberta.

Um sino tilinta diversas vezes.

Põe-se automaticamente em pé.

Hora do café.

Junto com os outros dois internos de quarto segue em fila para o refeitório.

Não sem antes olhar para a parede onde está o retrato daquela o enlouqueceu de amor.

Pisca e joga um apaixonado beijo de bom dia.

À noite, tem certeza, ela voltará.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 07/01/2016
Reeditado em 07/01/2016
Código do texto: T5503325
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