O PADRE E O CARPINTEIRO
“ A traição dos clérigos começou no dia em que um deles representou um anjo com asas; é com as mãos que se sobe ao céu,” Pawels e Bergier ─ O Despertar dos Mágicos
“Nem todo o que me diz, Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas o que faz a vontade do meu Pai,,”- Mateus, 7:21.
Dois indivíduos morreram no mesmo dia, praticamente na mesma hora. Por consequência chegaram á porta do céu á mesma hora. Enquanto esperaram na porta da alfândega celeste para serem atendidos, São Pedro, o inspetor-chefe daquela repartição, consultou os passaportes dos dois e viu que um era um carpinteiro que passara a vida trabalhando em construções civis. Era um homem simples que começara a trabalhar muito cedo, jamais prejudicara ninguém, era pacífico e boa praça, nunca se negara a ajudar quem dele precisasse. Em sua ficha estava escrito também que ele criara uma bela família e realizara importantes serviços em sua comunidade, oferecendo muitas horas de seu tempo livre para ajudar as pessoas necessitadas. Nunca fora muito de ir á missas e o máximo que sabia de religião era rezar o padre-nosso e a ave-maria nas ocasiões propícias, principalmente nos funerais e nos casamentos.
São Pedro deu um cândido sorriso para ele e foi logo carimbando o seu passaporte sem fazer quaisquer perguntas.
─ Pelo visto você foi um bom homem. Seja benvindo ao céu, meu filho. Estamos precisando de carpinteiros aqui ─ disse São Pedro, pegando o enorme molho de chaves que tinha na mão, para abrir a porta do céu para ele.
─ Entre e receba a recompensa a que você fez jus pelas obras que realizou em vida ─ disse o Santo Apóstolo ao carpinteiro.
Em seguida passou a examinar a ficha do outro. Viu que se tratava de um padre. Durante a vida toda, ele fora um sujeito muito rígido em questões de moral e ferrenho defensor da ortodoxia religiosa. Rezava cerca de vinte padres-nossos e trinta aves- maria por dia, além dos atos de contrição e outras litanias próprias da profissão. Na ficha dele estava escrito que ele fora um religioso ortodoxo que levava a ferro e fogo a sua crença de que só a fé a oração podiam salvar uma alma. Sua paróquia não realizara muitas obras de caridade, mas nenhuma outra era tão zelosa no cumprimento da liturgia e dos sacramentos exigidos pela Igreja.
São Pedro olhou para ele com orgulho e satisfação. “Eis aí um dos nossos”, pensou consigo mesmo. “Um verdadeiro batalhador pela nossa causa, um ferrenho defensor da Igreja que eu fundei.”
─ Seja benvindo ao nosso reino, meu filho. Estou feliz por recebê-lo entre nós. Pessoas como você enobrecem a criação divina ─ disse São Pedro ao padre.
Escolheu uma das chaves do enorme molho que tinha nas mãos, abriu uma das portas laterais da alfândega e mandou o padre entrar por ela. Quando ele se viu lá dentro, imediatamente dois esbeltos querubins o tomaram pelos braços e tiraram sua batina, vestindo-o, sem seguida, com uma magnífica e vistosa túnica, branca como lírios em sua mais perfeita floração. Depois colocaram em volta de sua cabeça uma linda e vistosa auréola, tão luminosa e colorida, que pareciam as órbitas de um elétron, girando em volta do seu núcleo..
O padre não cabia em si de contente. Olhou, em um espelho, a sua nova aparência e deu um longo suspiro de felicidade. Toda a sua vida de fé e rigidez na liturgia da religião havia dado seus frutos. Ele era, finalmente, um santo. Valera a pena sua dedicação á fé e sua crença doutrina da Igreja que abraçara. Nunca duvidara que Deus recompensa aqueles que lhe são fiéis.
Ao voltar á presença de São Pedro, o santo apóstolo o olhou de alto a baixo e soltou um assobio de admiração.
─ Ótimo, meu filho! Você está perfeito. Está lindo. Agora ─ disse ele abrindo um enorme mapa cheio de desenhos de igrejas ─ pode escolher a sua igreja e começar a fazer o seu trabalho.
─ Desculpe, meu Santo Apóstolo ─ disse o Padre. ─ Eu não entendi. Se eu aogora sou um santo, não deveria ir para o céu?
─ Ah!. Eu estou mesmo ficando velho ─ disse São Pedro. ─ Esqueci de explicar para você que os santos não moram no céu. Eles são os guardiões da obra de Deus. Por isso vivem nos altares e nichos das igrejas, ouvindo as súplicas dos fiéis, ajudando-os em suas dificuldades, e zelando para que eles não tomem caminhos errados, que os levem á perdição.
─ Mas meu Santo Apóstolo, isso não é injusto? Que adianta então virar santo? Rezei a minha vida toda, nunca deixei de cumprir os sacramentos exigidos pela vivi uma vida inteira na mais pura castidade, e agora vou ter que trabalhar eternamente? Isso não é uma inversão de valores? Porque aquele carpinteiro que estava na minha frente foi direto para o céu, ele que nem religião tem, e eu, que vivi como um anjo, sem pecado, vou ter que continuar vivendo e trabalhando na terra para ajudar esses ingratos? ─ choramingou o padre.
─ Ah! Isso é outra coisa que precisava ser bem explicada ─ disse São Pedro. ─ É que ninguém sobe ao céu com asas, mas sim com as mãos. Por isso o Senhor deu mãos aos homens em vez de asas. Cada um escolhe a sua forma de recompensa. Você escolheu a sua. Agora, vá para a sua igreja, meu filho, vá...
“ A traição dos clérigos começou no dia em que um deles representou um anjo com asas; é com as mãos que se sobe ao céu,” Pawels e Bergier ─ O Despertar dos Mágicos
“Nem todo o que me diz, Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas o que faz a vontade do meu Pai,,”- Mateus, 7:21.
Dois indivíduos morreram no mesmo dia, praticamente na mesma hora. Por consequência chegaram á porta do céu á mesma hora. Enquanto esperaram na porta da alfândega celeste para serem atendidos, São Pedro, o inspetor-chefe daquela repartição, consultou os passaportes dos dois e viu que um era um carpinteiro que passara a vida trabalhando em construções civis. Era um homem simples que começara a trabalhar muito cedo, jamais prejudicara ninguém, era pacífico e boa praça, nunca se negara a ajudar quem dele precisasse. Em sua ficha estava escrito também que ele criara uma bela família e realizara importantes serviços em sua comunidade, oferecendo muitas horas de seu tempo livre para ajudar as pessoas necessitadas. Nunca fora muito de ir á missas e o máximo que sabia de religião era rezar o padre-nosso e a ave-maria nas ocasiões propícias, principalmente nos funerais e nos casamentos.
São Pedro deu um cândido sorriso para ele e foi logo carimbando o seu passaporte sem fazer quaisquer perguntas.
─ Pelo visto você foi um bom homem. Seja benvindo ao céu, meu filho. Estamos precisando de carpinteiros aqui ─ disse São Pedro, pegando o enorme molho de chaves que tinha na mão, para abrir a porta do céu para ele.
─ Entre e receba a recompensa a que você fez jus pelas obras que realizou em vida ─ disse o Santo Apóstolo ao carpinteiro.
Em seguida passou a examinar a ficha do outro. Viu que se tratava de um padre. Durante a vida toda, ele fora um sujeito muito rígido em questões de moral e ferrenho defensor da ortodoxia religiosa. Rezava cerca de vinte padres-nossos e trinta aves- maria por dia, além dos atos de contrição e outras litanias próprias da profissão. Na ficha dele estava escrito que ele fora um religioso ortodoxo que levava a ferro e fogo a sua crença de que só a fé a oração podiam salvar uma alma. Sua paróquia não realizara muitas obras de caridade, mas nenhuma outra era tão zelosa no cumprimento da liturgia e dos sacramentos exigidos pela Igreja.
São Pedro olhou para ele com orgulho e satisfação. “Eis aí um dos nossos”, pensou consigo mesmo. “Um verdadeiro batalhador pela nossa causa, um ferrenho defensor da Igreja que eu fundei.”
─ Seja benvindo ao nosso reino, meu filho. Estou feliz por recebê-lo entre nós. Pessoas como você enobrecem a criação divina ─ disse São Pedro ao padre.
Escolheu uma das chaves do enorme molho que tinha nas mãos, abriu uma das portas laterais da alfândega e mandou o padre entrar por ela. Quando ele se viu lá dentro, imediatamente dois esbeltos querubins o tomaram pelos braços e tiraram sua batina, vestindo-o, sem seguida, com uma magnífica e vistosa túnica, branca como lírios em sua mais perfeita floração. Depois colocaram em volta de sua cabeça uma linda e vistosa auréola, tão luminosa e colorida, que pareciam as órbitas de um elétron, girando em volta do seu núcleo..
O padre não cabia em si de contente. Olhou, em um espelho, a sua nova aparência e deu um longo suspiro de felicidade. Toda a sua vida de fé e rigidez na liturgia da religião havia dado seus frutos. Ele era, finalmente, um santo. Valera a pena sua dedicação á fé e sua crença doutrina da Igreja que abraçara. Nunca duvidara que Deus recompensa aqueles que lhe são fiéis.
Ao voltar á presença de São Pedro, o santo apóstolo o olhou de alto a baixo e soltou um assobio de admiração.
─ Ótimo, meu filho! Você está perfeito. Está lindo. Agora ─ disse ele abrindo um enorme mapa cheio de desenhos de igrejas ─ pode escolher a sua igreja e começar a fazer o seu trabalho.
─ Desculpe, meu Santo Apóstolo ─ disse o Padre. ─ Eu não entendi. Se eu aogora sou um santo, não deveria ir para o céu?
─ Ah!. Eu estou mesmo ficando velho ─ disse São Pedro. ─ Esqueci de explicar para você que os santos não moram no céu. Eles são os guardiões da obra de Deus. Por isso vivem nos altares e nichos das igrejas, ouvindo as súplicas dos fiéis, ajudando-os em suas dificuldades, e zelando para que eles não tomem caminhos errados, que os levem á perdição.
─ Mas meu Santo Apóstolo, isso não é injusto? Que adianta então virar santo? Rezei a minha vida toda, nunca deixei de cumprir os sacramentos exigidos pela vivi uma vida inteira na mais pura castidade, e agora vou ter que trabalhar eternamente? Isso não é uma inversão de valores? Porque aquele carpinteiro que estava na minha frente foi direto para o céu, ele que nem religião tem, e eu, que vivi como um anjo, sem pecado, vou ter que continuar vivendo e trabalhando na terra para ajudar esses ingratos? ─ choramingou o padre.
─ Ah! Isso é outra coisa que precisava ser bem explicada ─ disse São Pedro. ─ É que ninguém sobe ao céu com asas, mas sim com as mãos. Por isso o Senhor deu mãos aos homens em vez de asas. Cada um escolhe a sua forma de recompensa. Você escolheu a sua. Agora, vá para a sua igreja, meu filho, vá...