A Morte è a Nossa Redenção.
A Morte é a Nossa Redenção.
Gama Gantois
Meu nome de batismo é Luis Alberto Nepomuceno. Sou natural daqui mesmo desta cidade de são Sebastião do Rio de Janeiro. A novidade do dia é que acabei de falecer, na minha mansão da Rua São Clemente. È muito engraçado á morte. Ela nada tem de dolorosa, muito pelo contrário, ela é linda, confortadora. Para dizer a verdade, nunca me senti tão bem na vida, epa, perdão, quero dizer na morte. Ou será vida? Afinal morri pra vida ou nasci pra morte? Sobre esse aspecto não sei o que dizer, ainda estou confuso, afinal sou defunto fresco. Falta-me experiência. Mas, eu chego lá. Mas, não importa. A verdade é que exalei o meu último suspiro exatamente ás 9h15 minutos do dia 31 de Dezembro de 1937. Creio que o Supremo Arquiteto do Universo, decretou a minha passagem por causa do meu romance tórrido com a prima Tereza. Prima Tereza é a esposa do meu primo irmão Paulo, o Paulinho, homem idiota, imbecil, que só quer saber da boemia. Amigo inseparável do copo, sai pela noite adentro em seresta, deixando o leito vazio e frio. Leito este que ocupo com grande habilidade, modéstia a parte.
Pois, bem. Estava eu fazendo uma visita à prima Tereza, quando o inesperado acontece. Ah,o maldito inesperado, porque teima sempre em prejudicar os amantes. Pois bem, como dizia. Estava lá refestelado quando o primo surge porta adentro. Foi ele entrar pela porta e eu sair pela janela. Acontece que chovia á cântaros. Imagine o quadro patético. Eu de ceroulas, todo molhado, correndo pela rua tentando ocultar o que teimava em aparecer. O resultado de toda essa brincadeira foi que peguei uma pneumonia galopante. Na manhã seguinte, ardia em febre. Dr. Piragibe, médico da família foi chamado ás pressas. Fiquei quinze dias de cama sem resultado. A cada dia piorava, até o dia de hoje quando desencarnei. Vocês que estão lendo essas linhas, sabem o que é morte? Pois, preparem seus corações, pois, vou desvendar o grande mistério.
Primeiro tem-se a impressão que estamos flutuando. Sentimos nosso corpo subir rumo ao infinito. Primeiramente lentamente, depois numa velocidade espantosa. Depois de alcançarmos uma altura descomunal, despencamos e vamos caindo vertiginosamente em direção ao solo. A sensação que se tem é de que vamos nos espatifar na terra. Mas, em vez de cairmos na terra, caímos dentro d'água. Vamos ao fundo. Falta-nos o ar. Queremos respirar e não podemos. Quando estamos entrando na faixa do desespero, chegamos à superfície. Nesse momento, passa por nós um filme que começa no útero até o dia do nosso desenlace. Vimos tudo com uma nitidez fantástica. Algumas ações realizadas durante a nossa vida, a gente se arrepende. Outras, não. Nisso nos encontramos montado num cavalo veloz que em disparada nos leva até uma ribanceira. de onde somos jogados. Nosso corpo vai caindo, caindo, caindo, até se esborrachar no chão. Mas, não sentimos nenhuma dor, porque nesse momento já não somos mais matérias. Somos espírito. Estamos leves, alados, podemos estar em qualquer lugar numa fração de segundo. Só então, percebemos que a nossa volta estão outros seres iguais nós. Uma luz muito branca ilumina o nosso caminho. Um bem estar toma conta de nós. A nossa felicidade é completa, pois finalmente estamos livres da casca a qual chamamos de corpo, responsável por todos os males que nos afligiram na terra.
Da chamada eternidade, assistimos tudo o que acontece no planeta. Bem, ainda não cheguei a este estágio, pois como disse anteriormente, ainda sou carne, perdão é à força do hábito, ainda sou espírito fresco.
A única coisa que não gostei foi ter perdido o amor de Tereza.Que mulher! Que mulher! Eu a vi em volta do meu caixão chorando copiosamente ao lado do seu marido bobão. Nesse momento é que percebemos quem realmente gostou da gente. Os cretinos se desnudam. Os hipócritas se tornam cristalinos.Concluímos que nunca tivemos amigos, só interesseiros.
Vi as coroas mentirosas que meus falsos amigos enviaram: Lá eles gravaram : "Saudades eternas, dos amigos Vianna, Oswaldo, Vítor".
Saudades eternas que safados. Estavam todos gargalhando da minha morte. Um dia vamos nos encontrar aqui, na terra da verdade. Mas, o barato é que assisti ao meu sepultamento. Nunca pensei que isto acontecesse.
Vi meu caixão baixar á sepultura. È emocionante. O caixão descendo lentamente rumo ao nada, e as pessoas chorando. Ali, não existe mais nada. O Luis Alberto Nepomuceno não está mais ali. Vocês que estão me lendo, ajudem a modificar esse ritual. Falem pra as pessoas não ficarem tristes, muito menos sentirem saudades. Que continuem a viver a vida da maneira que vinham vivendo. A morte é luz, é libertação, é o paraíso prometido. A morte é a nossa redenção.
Você não acredita em mim? Espere um pouco. Que viver verá, ou melhor, quem morrer verá!