Lugar Favorito no Mundo
Em meus sonhos fui convidado a conhecer o lugar favorito em todo o mundo. Ao chegar minha anfitriã estava lá sentada sobre a areia com o olhar costumeiro preso no infinito, parecia estar sobre as nuvens. Era quase uma pintura impressionista, um Renoir talvez.
Ao caminhar em sua direção, ao pisar na areia fofa, meus pés afundaram fazendo meus dedos sumirem para depois saltarem para fora arremessando minúsculos cristais a cada pisada. É, realmente lembravam as nuvens. Ainda havia o crepúsculo como lençol sobre o dia e lá no horizonte o sol despontava um tom alaranjado. Entendi o silêncio, e fui chegando sorrateiro, cauteloso para não atrapalhar a atenção solta no tempo e aprisionada na imagem. Como duas amêndoas eram seus olhos. Lindos, decifráveis, inquietos na produção de imagens para o pensamento, me perderia fácil naquele olhar. Eram penetrantes e tinham o estranho habito de se prender no imprendível. Quando pus-me em pé ao seu lado também pude estarrecer-me. O vento; quis por um instante ser o vento. Audacioso vento. Acariciava aqueles cabelos ondulados, que por vezes ela tinha que com as pontas dos dedos retirá-los da frente de seus olhos grandes e amendoados. Sim, era um legitimo Renoir, quem sabe Gabrielle Renard, bela, de traços eternos. Sim era um Renoir!
Ao perceber-me levantou a mão pegando em meu braço e sem uma palavra pôs-me sentado ao seu lado. Obedeci. Esperamos o sol...
Quando o sol veio com seus raios como abraços calorosos, como uma flor buscou seu calor. Era a pequena flor de Lis... Pôs-se em pé de braços levantados e abertos para abraça-lo, o sol. Então, somente então, pude reparar que estava com uma saída de praia branca, ligeiramente transparente e curta o suficiente para, ao se pôr em pé com as mãos levantadas para o abraço, deixarem desguarnecidas as nádegas sujas de areia. Não era muito, diria Renoir acostumado a pintar Gabrielle nua, mas era o suficiente para que, de meus intentos aflorassem ligeiras sacanagens. Sim, era linda aquela bunda! Protegida por uma tanga de biquíni discreta, pois minha anfitriã era assim, de uma discrição sem igual, dessas que só os curadores de grandes recepções são capazes de ter. Afinal, é a obra de arte que tem que ganhar destaque: O sol com seus raios cintilando sobre a água do mar esquentando os cristais de areia sob uma tela produzida num céu límpido. É, essa seria a obra que minha anfitriã gostaria que apreciasse. Mas tão teimoso quanto Gustave Courbet, tão libertário, desviei meus olhos à tão "prima" obra que faria de Deus um amador ao pintar o amanhecer como se fosse a origem do mundo. Aquela bunda! Amostra! Na minha frente! Com uma tanga discreta com amarraduras nas laterais! Uma pincelada de gênio! Suja com cristais de areia! Sim, uma pincelada de gênio. Como quis com as mãos limpar aquelas nádegas num gesto de gentileza inocente somente para sentir a firmeza que aqueles glúteos anunciavam diante de mim. Mas como já descobri em outras ocasiões, o mundo se compõem de covardes e dos que se acovardam. Nunca soube bem quem eu era, mas é fato que isso me fez apreciador de arte e poeta.
Quando voltou-se para mim, nova cena se fez. Ela conhecia meus desejos e não queria provoca-los, dizia. Ela conhecia meus desejos! Provoca-los não era uma questão de querer, era no caso dela, uma questão de ser. Num outro momento, sugou-me, arrancou-me todo o ódio nascido da consciência brutal da realidade. Não, isso nunca me fez mal, distribuo-o gratuitamente. Só que essa pequena era insaciável, dessas insaciabilidade insana, e isso me encantou. Então, ao virar-se pegou minhas mãos me levantou e me abraçou e me soltou. Voltou-se para o sol abriu os braços como se o abraçasse de novo e voltou-se para mim novamente. Toda a cena levou segundos. Pegou minha mão direita e colocou sobre o seu coração para que sentisse seu palpitar. Aquele colo! Se fosse corajoso teria tocado seus seios... Mas ao retirar as mãos daquele colo esbarrei nos bicos dos seios e, tive a impressão de que estava excitada. Excitei-me de imediato. Como somos tolos! Ela percebeu.
Voltou-se para o sol novamente e pegou minhas mãos levando para seus ombros como se pedisse um massagem. De imediato comecei. Mexia o pescoço com uma inquietude como se dissesse, é aí que preciso da massagem. Levei as mãos pesadas para aquele pescoço delicado. Então, ela levou uma das mãos até o laço que prendia o biquíni ao pescoço e desatou o nó como se estivesse atrapalhando seu relaxamento. As mãos começaram a suar mas não titubeei. Tive orgulho de mim.
Então, novamente voltou-se para mim. Frente a frente. Ela sabia de minha excitação. Levou sua mão até as costas para desfazer o nó do biquíni que caiu sobre a areia. Com a audácia que somente o feminino tem, pegou minhas duas mãos pôs sobre a saída de praia como se um pedido para que apalpasse levemente seus seios. Obedeci! Então com uma das mãos começou acariciar meu pênis. E, nas pontas dos pés olhado em meus olhos e mordendo os lábios como se dissesse, beije-me! Brincava... Pus-me em direção daquela boca. De depende, com a mão que estava livre, seu dedo indicador, posto na frente de minha boca como se pedisse silêncio, barra meu avanço. E somente então, depois de tudo, ouço pela primeira vez no dia sua voz:
"Acho que preciso de um banho de mar gelado..." E correu em direção a água. No caminho retirou saída de praia jogou sobre a areia e com os seios soltos ao vento - como queria no fundo de meu ser, ser o vento -, a caminho do mar gritou. "E você também!"
Sim, agora entendo seu lugar favorito em todo o mundo. Arranco a roupa que me resta e vou em direção do mar torcendo para que neste dia este seja também meu lugar favorito em todo o mundo.