POR QUE ELA NÃO FALA?

Minha “babá”, cujo nome, por ter ela nascido na Primavera e sua mãe se chamava Ana, ficou a junção de Rosa e Ana, ‘Roseana’. Menina alegre e ainda nada sabia que pertencia a uma linhagem de escravos e que seus ancestrais vieram de terras bem distantes. Quando ainda bem jovem foi-lhes passado por sua mãe e avó muitos conhecimentos de Ervas ‘magias secretas’, que curavam tanto corpo quanto alma. Eram por assim dizer “bruxas”, mas não no sentido negativo e sim que elas eram ‘Detentoras de Conhecimentos’ antiguíssimos de cura. Isso só era passado de Mãe para Filha. No castelo em que vivia, a Rainha era muito boa, mas o Rei era daqueles que já nascera com índole ruim em todos os aspectos. Todos temiam o Rei Uhter. Em certa ocasião haveria uma grande confraternização entre os reinos e a festa seria de vários dias. Foi quando o Rei viu uma linda jovem e se apaixonou perdidamente.

Ele tinha lá seu harém, mas; mesmo sabendo que ela era noiva não se importou. A paixão falava mais alto. O rei, astuto chamou Roseana para que lhe fizesse uma ‘poção mágica’ assim; pensava ele que a belíssima Constantine iria se apaixonar também. Disse o rei: ela está irredutível e eu a quero nem que seja uma única vez, portanto, ordeno-vos que faça imediatamente a “poção”. Neste dia Roseana selou seu destino, disse humildemente ao rei que mesmo que quisesse não poderia, pois; suas poções eram apenas para a Cura e não para satisfazer a luxúria e, não poderia trair os ‘Juramentos Sagrados’ que foram confiados a ela e à suas “ancestrais”.

Enfureceu-se o rei de tal maneira que mandou matar os pais dela. Ele ainda com esperança prometeu a sua Alforria, mas ela disse em lágrimas: Meu Senhor, mesmo diante da morte não posso atender vosso pedido, pois não tenho permissão; também vós sabeis que seguimos os preceitos da “Deusa de Beltane” e pelos princípios da Deusa um homem nunca deve ter uma mulher à força, pois a ligação espiritual do' ato' se torna maléfica.

O rei tentando convencê-la disse muito bravo, por isso eu recorro a ti; e não sabes que tenho sobre vós o direito de vida ou morte? Roseana resoluta: Com todo respeito meu Senhor, não poderei e tentou justificar suas razões: Meu rei, quando há a junção de dois seres terá que ter desejos mútuos, pois as 'auras' (halo energético) dos dois se expandem luminosamente. Por isso que todos os homens se inclinam diante da mulher ‘Deusa’ em reverência a “Ela e ao Altar” que irá adentrar. O momento de 'Amor' sempre será Sagrado queiram ou não, sem o desejo mútuo haverá apenas volúpia carnal de um. O sentimento amoroso deve ser partilhado entre as partes, de uma maneira suave e terna, em que os parceiros fundem-se em um só sentimento. Roseana dizia tudo isso como se não fosse ela. Sabia apenas que todo ‘Ato’ de Amor era "Mistério Sagrado". O rei de tão furioso não mais a ouvia, chamou a guarda real e esbravejou: corte a língua desta imprestável e depois a jogue na floresta para que sirva de alimento às feras. Os soldados, mesmo compadecidos obedeceram.

Devido aos conhecimentos das ervas Roseana se curou, mas, é claro, nunca mais falou. Graças ao ‘amparo’ dos povos invisíveis da floresta ela foi guiada até uma trilha estreita que levava ao Castelli Di Fiori “Castelo Das Flores”; a Guarnição real a conduziu até meus pais que penalizados a acolheram com carinho e ela para se sentir útil além de ser a “Curandeira” do Castelo ficou sendo a minha babá.

Eu tinha apenas 4 anos de idade quando ela veio para cá e desde então somos como mãe e filha; ela me ‘adotou’ e eu a ensinei escrever, foi assim que ela me passou alguns conhecimentos do poder das plantas, mas por se tratar de sua linhagem de “Detentoras dos Sagrados Conhecimentos das Ervas”; nem tudo ela poderia me ensinar. Por causa dela hoje eu sei que a maioria das plantas servem de remédio.

------ Ela sabe fazer a ‘Poção da Juventude’. As células se renovam sempre, ninguém sabe a idade dela. Esta história/estória, já se conta como lenda e quase está perdida nas brumas do tempo... Mas, eu também continuo ainda aqui... ”MISTÉRIO”.

-------------------------------------------------------------------------

*** (Gratidão ao Poeta e Cronista Santo Bronzato, com seu desprendimento e gentileza me auxiliou neste meu Primeiro Conto.) ***

- SP-Ly -