EPILOGO (ELE, O MEU AMOR... MEU PEQUENO BEIJA-FLOR.)
VI – EPÍLOGO.
______Vovó, hoje é o final da história sobre Vali Oãs Cricosfan?
______Não querido. Hoje é o final da história que ouvi. Depois começa a história que vocês viverão e contarão aos seus filhos e netos.
______Então, a partir de agora, seremos os contadores de história? Tudo bem vovó... estamos ouvindo.
A vovó continua narrando a história sobre Vali Oãs Cricosfan e seus habitantes. Faltam poucos dias para o inverno chegar e mudar completamente a vida em Vali Oãs Cricosfan. Madrugada, Benjamim e Sulina caminham pela ponte sobre o Rio Abapiar e se dirigem, sem pressa, para os degraus na base da grande cruz que marca a metade da ponte. Sobem até o terceiro degrau e sentam-se, de frente para o Leste. Ainda é cedo. A neblina sobe do rio e das árvores envolvendo o vale, a vila, numa atmosfera de sonhos. Vali Oãs Cricosfan parece um lugar de contos de fadas, nessas manhãs de neblina. Aos poucos as nuvens começam a mudar de cor e um tom levemente rosado se insinua entre as nuvens cinzentas, anunciando a alvorada. O clarão no Leste parece uma explosão e irradia, se espalhando pelo céu. O sol desponta, flamejante, delineando os contornos das serras Atnas Atram e Atnas Airam, iluminado o vale, refletindo-se nas águas tranquilas do rio, formando um quadro de rara beleza! Aos pés da grande cruz, Benjamim e Sulina, abraçados, se entreolham.
______ Custa-me crer que você desistiu de ir embora... desistiu de suas asas... preferiu ficar e cuidar da gente, Sulina!!! Como pode alguém escolher uma vida assim, podendo ter tudo... do bom e do melhor, incluindo a vida eterna?!
_______... cada um de nós, nesse Vale, Benjamim, tem uma escolha... e sempre escolhemos o que mais nos faz bem! Vali Oãs Cricosfan, seus habitantes, especialmente você, são a minha escolha! Jurei cuidar de todos vocês... jurei lhe amar e cuidar de você... dei a minha palavra e não tenho do que me arrepender, muito ao contrário! Você é e sempre será a minha razão de estar aqui!
______ Que eu seja sempre abençoado e por onde passar, possa deixar uma energia fecunda de amizade e justiça!
_______ Assim É!
Sulina encosta a cabeça no ombro de Benjamim e continuam assim, abraçados, olhando o sol se elevar no céu clareando e despertando Vali Oãs Cricosfan... para mais um dia que se prenuncia abençoado! O som de uma sanfona chama a atenção dos dois. Pífanos e tambores acompanham o canto nativo do grupo que se aproxima.
_______ Sulina, olha, as crianças estão na frente do cortejo... olha ali, é o Narciso que vem cantando... meu Deus, ele recuperou a voz... que maravilha!!!
O cortejo anual e festivo, dos moradores da vila, se despede do outono e sauda o inverno que se aproxima. O inverno em Oãs Cricosfan, não é uma estação de tristeza e sim um tempo de reunião familiar e comunitária, ao redor da fogueira, no grande galpão do centro da vila. Tempo de confraternização, de cantos, danças e descanso.
Vali Oãs Cricosfan, no inverno, se torna mais amiga, mais receptiva... como a formiguinha boa, da fabula A FORMIGA E A CIGARRA.
Todos os viajantes que passam por ali, fazem questão de parar e desfrutar daquele Paraíso de Inverno, sendo hóspedes da Pousada Beija-Flor. Durante o dia, se não estiver chovendo, vão, de charrete, até a cachoeira da Pedra Encantada, em frente ao Castelo de T'nom Luza, a gruta onde Benjamim e Sulina ficaram escondidos até ele se recuperar da cegueira.
Quando anoitece, antes da janta, dirigem-se a capela para acompanhar as orações e cantos noturnos, agradecendo a Deus pelo dia que finda.
Quando chove, dirigem-se ao imenso galpão, no centro da vila, para ouvir as histórias contadas por Sulina, Benjamim e dona Manuelita, ou para assistir as apresentações de teatro, canto e dança, executadas pelo grupo Mambembe - Estranhos Brincadores do Tempo, convidados de honra de Benjamim e Sulina.
Se alguém, por acaso adoece, é atendido no Posto de Saúde Santa Clara de Assis, pela atenciosa médica Dra. Coralia, a esposa de Petrúcio, o dono da farmácia e motorista da ambulância da comunidade.
Vali Oãs Cricosfan é, literalmente, um lugar encantado, e não encontrado no mapa... a meio caminho de Pasárgada.
O dia vai passando e o sol pouco a pouco desaparece na linha do horizonte, espalhando um colorido todo especial nas nuvens do poente. Os últimos retoques da festa de inverno são finalizados. Repentinamente, um barulho já velho conhecido, chama a atenção dos habitantes do povoado. Um helicóptero sobrevoa o povoado, como se estivesse espionando ou algo parecido, visto que plana no ar feito um beija-flor. O piloto comenta.
_______ O radar indica que estamos sobrevoando uma área de grande turbulência... mas a única ocorrência que consigo detectar é essa neblina suave que se eleva das árvores e envolve a aeronave. Você percebeu?
Sem entender a razão da incongruência, o co-piloto retruca.
______ Não há turbulência! A sensação é de que fomos sugados por um vácuo...
_______ Creio que a membrana da realidade foi rompida... olha aquilo!!! Meu Deus!!!
______ Ela existe mesmo!!!
_______Estamos à meio caminho de Pasárgada?!
Quando o helicóptero consegue, finalmente, pousar no centro do vilarejo e seus dois tripulantes descem, uma voz alegre e amistosa os saúda. É Sulina.
_______Forasteiros, sejam bem vindos ao nosso povoado e aos nossos festejos de inverno!!! Povo de Vali Oãs Cricosfan, que a festa comece... ANTENOR, agora é com você!!!
Primeiro, uma escuridão imensa parece engolfar Vali Oãs Cricosfan... aos poucos as luzes da aurora boreal se insinuam entre as Serras Atnas Airam e Atinas Atram. Segue-se uma explosão de luz, colocando no alto, as cores magníficas da Galaxia. Após, como num passe de mágica, parecendo que o Céu desceu para a Terra, Vali Oãs Cricosfan se ilumina inteira. Antenor ri feliz ao ver a alegria das pessoas, extasiadas diante de tanta beleza, aplaudindo!
______ Eu sou, realmente, Antenor Vagalume da Silva Laurindo!!!
Nesse ponto da narrativa, a idosa pára e olha o trabalho terminado. Seu olhar se enche de ternura ao observar a cena que acabara de tecer. As crianças percebem o silencio e se aproximam, respeitosamente. A menina é a primeira a falar.
______ Vovó, você teceu... teceu todos nós, às margens do Rio Abapiar! Olhem, olhem... a vovó sentado... essa sou eu!
_____... e esse é o Rafael!
_____ Esse aqui sou eu!
_____Vejam, no rio, os peixes com a cabeça fora d´água... parecem ouvir a história, vovó!!!
_____Vovó, é verdade que o Rio Abapiar é mágico?
_____... os Antigos contavam que o Rio Abapiar é afluente de um dos Rio do Jardim do Éden. Suas Águas são Sagradas e por isso curam algumas doenças físicas e todas as doenças da Alma. Pela manhã e à noite, as águas são mornas, por essa razão curam sinusite, dores nos ossos ou nas articulações. Já durante o dia, são frias e evaporam essa temperatura, envolvendo o povoado, a atmosfera sobre ele... nos acalmando... curando nossa Alma, nos trazando paz! Os nossos peixes são iguarias muito especiais pois se alimentam única e exclusivamente de plantas aquáticas, e é claro, de outros peixes. Há quem afirme que os nossos animais, todos eles, sem exeções, antigamente se comunicavam com os seres humanos, através da fala.
_____Vovó, e nós, somos parentes de Benjamim e Sulina?
Vovó Deborah olha para Sarah e sorri com a doçura típica das avós.
______É possível meu amor. É possível, pois, todos nós nascemos e fomos criados nesse pedaço do Paraíso!