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VINÍCIUS E O SEU COLAR DE CONTAS
Ysolda Cabral


 
 
 
As coisas não andavam nada boas para Vinicius.  Mais não andavam boas mesmo! Também, quem mandou ir conhecer a Bahia de Todos os Santos, logo no feriado de sete de setembro! 

Namorada nova e coisa e tal... Mal chega à cidade de São Salvador, uma cigana lhe aborda, digo, uma baiana. Ou seria uma cigana baiana? Ou, ainda, uma baiana cigana? - Ah, sei não!... Que confusão!

O que sei é que ele retornou com um colar de contas, verde e branco, pendurado no pescoço, para sua proteção. Mas sem patuá! Contudo, disse não ter desembolsado um só tostão! Talvez, pelos seus belos olhos azuis de encantar, a profetisa tenha desistido de lhe cobrar alguma coisa - quem vai saber? 

O que ela lhe disse, ninguém sabe. Ele jura, de pés juntos, que a adivinhante não falou nada, a não ser que usasse o colar, para sempre. Assim, estaria livre de todos os infortúnios que a vida cismasse lhe proporcionar.

Ao retornar da linda Salvador, santificado e protegido pelo Senhor do Bom Fim, deslumbrado com o Pelourinho, com a Lagoa do Abaeté, e energizado pelo Mar de Itapoã;  tendo passado longe dos abadás do Carlinhos Brown, da Ivete Sangalo e companhia limitada, mas se esbaldado no afoxé, do cantor poeta, Saulo, baiano de coração, aqui chegou um touro ,de tão fortalecido, com a sua bela namorada a tira-colo.

Tudo ia muito bem até que  as coisas começaram a ficar meio esquisitas...

- Ô Vinícius! - alguém chamou. Ele escutou, nitidamente. Correu para a porta para ver quem lhe chamara: não havia ninguém! Ele se arrepiou dos pés à cabeça. Com certeza, era a morte! Sua avó sempre dizia que quando isso acontecia era ela, a ''maledita'', querendo levar a pessoa, a qualquer custo. Porém, se não fosse atendida, iria bater em outra porta. Benzeu-se, mais que depressa, e, agarrando o colar com toda força e fé, rezou para que ela se escafedesse dali, o mais depressa possível.

Tudo parecia normal, apaziguado, com seu "dia D" adiado, e já respirava aliviado quando alguém, ao lhe flagrar roendo as unhas, lhe disse estar cheio de lombrigas.  – Que maldade!

Vinícius já começava a desconfiar que o colar da baiana cigana, ou da cigana baiana, na verdade era pra ferrar com a sua vida.

Pensando em voltar à Bahia, com o intuito de acertar as contas com a dita cuja, tirou a carteira do bolso e quase chorou ao ver o seu parco numerário, que se restringia a poucas moedas. O choro lhe veio aos belos olhos e ele só não chorou porque lembrou que o final do mês estava  próximo, ocasião em que sairia da  penúria.

Respirando sossego, levantou a cabeça e sorriu satisfeito, acariciando o benfazejo colar, quando deu de cara com o chefe do setor de pessoal da empresa onde presta serviços, informando que os salários, por motivos técnicos, não iriam sair no final do mês, como de costume.

Foi a gota d’agua!

Vinicius se levantou, vermelho de raiva, pegou o colar e o rompeu com tanta raiva  que voou contas para todos dos lados!

Juro que não é conto, é a mais pura verdade, que invento neste instante.
 
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Praia de Candeias-PE
Em 25.09.2015
6ª.Feira

Para ouvir a música, acesse:

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