Fortaleza do silêncio
Ela agarrava um monte de cascalhos com a mão e observava as gotas de sangue escorrerem. Quando qualquer uma das gotas chegava ao chão e caia na poeira, o simples toque do sangue na terra era como um trovão ecoando em sua cabeça.
A mulher não dizia nada. Parecia uma uma rocha, firme, intacta, poderosa. Ninguém entendia como uma mulher tão frágil, dócil, amorosa, podia ser tão forte.
Por dentro ela estava dilacerada. A dor era tão grande, tão intensa, tão fora do comum, não havia no mundo uma dor tão absurda quanto aquela, mas ela não abaixava a cabeça. Ela não deixava se debater.
Claro, a força dela vinha de cima, era algo sobrenatural, mas o que ninguém que estava perto entendia era que o que fazia a força ficar inabalável era o silêncio.
Todos tinham consciência da dor dela, mas ninguém entendia força. Até que João, compadecido da dor se sua nova mãe pergunta:
- Não entendo mãe, está nítido que sua dor é imensa, acho que até maior que a nossa e a senhora é mais forte que todos nós juntos...
A mulher limpou as lágrimas com as costas da mão, e esboçou um sorriso, abraçou aquele jovem como se fosse um menino e respondeu baixinho.
- O silêncio dá força, aplaca a dor... Reclamar, praguejar... Isso só aumenta a revolta.
E João entendeu o que a mulher dissera e não disse mais nada. Ficaram ali juntos até o fim da crucificação. E o discípulo aprendeu com Maria, naquela hora de dor, que o silêncio fortalece até a alma mais destruída.