Talheres
A caminhonete do Buffet Dona Amália, passou em alta velocidade naquela rua movimentada. Tão rápido que acabou caindo uma caixa de talheres e restos da festa do dia anterior. Jefferson e Alencar só queriam chegar rápido para guardar as coisas e ir pra casa naquela manhã de domingo.
Dona Aparecida varria a calçada de sua patroa quando viu um movimento estranho. Bem mais a frente na rua, aqueles meninos que viviam por ali e dormiam debaixo das marquises pareciam fazer a festa.
Foi quando ela chegou mais perto e viu que eles tinham achado os talhares do buffet. Não entendia o porquê daquela felicidade. O que crianças iriam fazer com os talheres? Mas depois pensou que elas queriam vendê-los mas chegando mais perto, viu mesmo que estavam felizes eram com os restos de comida. E tão acostumados a serem invisíveis aos que passavam na rua, nem percebiam Dona Aparecida os olhando.
Eles pegavam os garfos, e colocavam nos bolsos, mas estavam mesmo era numa alegria com aquela farofa derramada, com os salgadinhos... E comiam com uma voracidade incrível. Depois estão admirados com a beleza dos talheres e voltam a pegar do chão a comida.
Nessa hora Dona Aparecida viu Jefferson e Alencar furiosos, xingando um ao outro e procurando a caixa de talheres. Viu que os homens com sua fúria, faria alguma coisa com aqueles meninos.
Mas Dona Aparecida ficou assustada com os gritos de um com o outro e nem teve coragem de falar nada. Então com medo pelas crianças, parou e olhou o céu e pediu a Deus por aquelas crianças.
Foi quando percebeu que os homens passaram direto pelas crianças e pareciam que não as viram. Dona Aparecida ficou admirada pois os dois rapazes tão bravos se acalmaram e eles quando viram as crianças pararam de discutir e conformados voltaram para a caminhonete.
A empregada então chegou mais perto das crianças e em meio aquelas crianças sujas, a maioria negra, estava um menininho loiro, de cabelos cacheados, parecia ter uns quatro anos. Mas ele era diferente, estava cheio de luz, não era como as outras crianças, parecia ser brilhante, mas só aos olhos da mulher, pois o pequeno Menino Jesus aos olhos dos garotos de rua era igual a eles.
Luquinha, o único do tamanho do Menino Jesus e Jéssica, a única garota do grupo, repartiam a comida com o Pequeno Deus enquanto os outros continuavam a sorrir felizes e conversando todos ao mesmo tempo.
E toda aquela criançada, uns sete ou oito, permaneceram sentados com o Menino Jesus na calçada, todos sorrindo felizes, enquanto Dona Aparecida chorava comovida apoiando-se na vassoura.