Certo dia, três deputados precisaram viajar, a fim de inaugurarem uma obra pública, para a qual eles tinham conseguido verbas.
     Um deles era muito honesto, tinha o comprometimento de ajudar o povo e acreditava em um futuro melhor para a nação. O segundo entrara com boas intenções na política, mas se deixou seduzir pela conversa dos companheiros e em pouco tempo já estava especializado no desvio de dinheiro. E o terceiro... Se existisse alguém mais corrupto do que ele, provavelmente ainda não tinha se candidatado para a política.
     No percurso, entretanto, o helicóptero em que voavam sofreu uma pane. E não importou o quão habilidoso era o piloto, a queda foi inevitável e ninguém sobreviveu ao acidente.
     Num piscar de olhos, os três homens públicos se viram sentados em um grande salão. Haviam muitas cadeiras e a maioria já estava ocupada. Tinha uma grande mesa na frente, onde três recepcionistas faziam o atendimento.
     Surpresos os deputados observaram que já seguravam um papel em suas mãos com os seguintes dizeres: "Recepção para os mortos" e embaixo o número da senha. O primeiro pegou o número 100, o segundo o número 500 e o terceiro o número 1003. O painel na parede avisava que o atendimento ainda estava no número 30.
     -Nós morremos! -disse o primeiro, apaticamente, como se ainda não tivesse absorvido a situação.
     -Isso é impossível! -disse o outro, que não se conformava com a própria morte.
     -Vou dar um jeitinho! -disse o deputado corrupto se levantando.
     Empinou o queixo e foi direto à mesa de atendimento, onde uma moça atendia uma velhinha. 
     -Bom dia, Senhorita! Meus amigos e eu somos deputados. Acredito que houve um mal entendido e gostaria de falar com a gerência. Preciso voltar ainda hoje para o meu mundo! Negócios urgentes me esperam.
     A moça deu um sorriso e respondeu:
     -Desculpe-me, senhor! Mas ninguém chega aqui por engano. Nosso Senhor não comete erros. Por favor, veja o número de sua senha e aguarde a sua vez de ser atendido.
     -Mas isso é um absurdo! - redarguiu o deputado erguendo a voz - Na minha terra eu entendo que as coisas sejam demoradas, afinal somos mortais. Mas no céu deveria ter um pouco mais de eficiência. Eu... um homem do POVO, que sempre trabalhei pelo POVO, dei minha vida pelo POVO... vou ter que esperar nessa longa fila?!
     A moça sorriu novamente. 
     -Se o senhor já doou toda a sua vida pelo povo... não se importará, se o POVO for atendido antes de vossa excelência. Agora, por favor, tenha a bondade de voltar ao seu lugar e esperar com paciência.
(continua)
Fran Macedo
Enviado por Fran Macedo em 13/08/2015
Reeditado em 05/09/2015
Código do texto: T5344867
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