Os Três Desejos - Reeditado
Rigoleto vivia na Pérsia. Ali passou toda sua infância e adolescência. A Pérsia, onde se dá essa história, é famosa por abrigar pessoas como Rigoleto, acalentadoras de grandes sonhos. Ele queria para si um mundo diferente daquele que se lhe mostrava aos olhos. Conversou sobre isso com seus colegas de escola.
- O que vocês acham da história do gênio da lâmpada que realizou os três desejos? - perguntou Rigoleto no grupo de amigos.
- Não acredito nisto - respondeu um deles.
- Pois eu acredito. E tenho a impressão de que algo parecido está para acontecer comigo.
Nesta mesma noite, Rigoleto teve um estranho sonho, em que uma voz ordenou-lhe que se dirigisse ao deserto, que lá encontraria a resposta ao seu desejo. Mesmo sendo ainda um menino menor de idade e não habituado a se ausentar sozinho do pequeno distrito onde morava com o avô, prometeu a si mesmo que cumpriria o chamado do sonho porque ali estava a oportunidade que tanto vinha buscando. Acordou muito cedo e deixou a casa com algumas frutas, um jarro de água e um pouco de pão em uma sacola. O avô ainda dormia. Andou quilômetros a pé e entrou no deserto.
A areia escaldante queimava-lhe a sola dos pés, criando bolhas que causavam dores atrozes, mas mesmo assim ele não desistia. Segundo o sonho, ouviria uma voz, mas, para isso, precisava de algumas horas de caminhada, o que provaria sua fé e resistência. Suando profusamente, sem água e já a ponto de desmaiar de cansaço, Rigoleto olhou para o céu ao perceber uma imensa nuvem vindo na direção de sua cabeça. A nuvem parou a certa distância e emitiu uma ordem.
- Volte imediatamente para casa e fale com seu avô. Ele tem o segredo que está procurando. Mas corra; você tem pouco tempo.
Ao fim dessas palavras a nuvem desapareceu e Rigoleto ouviu atrás de si algo como uma pequena explosão. Virou-se e viu um cavalo na cor branca, com uma crina muito brilhante e sedosa; e que já estava selado. Sem questionar-se sobre esta aparição repentina ele relacionou-a ao seu desejo. Imediatamente montou e saiu em disparada. Ao entrar em casa viu que o avô agonizava.
- O momento que eu tanto ansiava acaba de chegar, meu querido neto
-O que o senhor está falando, meu avô; Está doente?
- Não se preocupe comigo, filho. Minha hora é chegada. Cuide deste cavalo. Fui eu que o enviei até você; ele será a sua salvação. - Dizendo isto, deu um fraco assobio e em segundos o animal já estava a sua frente. O velho meteu a mão na algibeira da sela e tirou de lá um bastão.
- Tome! - disse, com voz fraca e embargada, entregando a Rigoleto o bastão. - Com isto conquistará o mundo. Aí dentro estão as instruções. Tome cuidado. São três desejos apenas. E um de cada vez. Haja com cautela e prudência; veja bem o que vai pedir. Realizado um desejo e, ao pedir o seguinte, o anterior se anula. Pense, pois a respeito e não se precipite.
Dizendo isto, expirou. Rigoleto examinou o bastão. Dentro, um pergaminho explicava, em detalhes, o que fazer e como usá-lo, além da relação do avô com aquele belo animal que Rigoleto nunca vira na vida, bem como a ancestralidade do velho. Um dos desejos do menino era possuir uma família de verdade, com pai, mãe e irmãos, pois nunca soubera de sua origem e nunca conheceu outro parente além do avô. A tristeza e a solidão fizeram-no chorar, mas lembrou-se das instruções. Instintivamente montou no cavalo e este saiu em disparada. Agarrado ao pescoço do animal e presa do medo e da impotência, Rigoleto gritava de susto e de pavor. Mas a velocidade foi diminuindo. Até que pararam na frente de suntuosa mansão.
A beleza e originalidade da arquitetura impressionaram o menino. Aquilo era digno de um monarca ou de um príncipe. Um grande portão de madeira de ébano se abriu, expondo o interior da mansão. Um caminho de terra, ladeado de roseirais, levava até o interior da casa. O animal conduziu o menino até uma enorme sala onde se reunia uma imponente família. Era a família de Rigoleto; o pai, a mãe e três irmãos, todos mais velhos do que ele. Eram de classe nobre e prestavam serviços ao rei. Viviam, portanto, dentro de um dos mais ricos e luxuosos condados da Pérsia. Esta situação estava descrita no pergaminho, embora não em detalhes, por isso Rigoleto, em parte, não estranhou. Ninguém fazia ideia do poder do menino nem das origens daquele animal até que coisas estranhas começaram a acontecer. Um dos desejos de Rigoleto já havia se concretizado embora ele não tivesse feito nenhum pedido declaradamente. Na verdade, ter uma família era tudo o que ele mais queria.
Na sua inocência, achava que de nada mais precisava. Assim foi se descuidando do bastão e não dando muita importância ao cavalo. O que mais gostava e, para ele era tudo, era brincar e se divertir junto a seus familiares. Ramadá, seu irmão de vinte e dois anos, achou curioso aquele bastão e, um dia, na ausência de Rigoleto, abriu-o e leu o conteúdo do pergaminho. Levou-o ao pai ao não entender muito bem o que aquilo queria dizer. Raja, o pai, exultou de satisfação por ter, finalmente, encontrado o que tanto vinha procurando. Odiou o velho sogro por lhe ter escondido a verdade. Leu sobre os desejos e sobre os poderes daquele cavalo. Tudo o que Raja queria era a morte do rei para que sua popularidade lhe levasse ao trono. Era um falso conselheiro, que enganava o rei pelas costas e chegou a ter planos para matá-lo.
Em uma noite, quando todos dormiam, ele testou o sinal para chamar o cavalo. Funcionou. Raja montou. Enquanto saia em disparada, gritou, com o rosto colado ao ouvido do animal. “Meu primeiro desejo é comparecer, invisível, ao lado do leito de sua majestade”. Segundos mais tarde, encontrou-se, Raja, ao lado do rei e o assassinou com uma punhalada no coração. Raja assumiu o trono e começou a governar. Mas seu instinto de maldade transformou a vida do País e causou infelicidade a quase todos os cidadãos comuns que não tinham cobertura ou privilégios. Raja passou a ter amantes e tudo se transformou para pior dentro de sua família.
Rigoleto passou a ser tremendamente infeliz. Então se lembrou do bastão. Viu que o pergaminho tinha desaparecido. Mas como tinha ótima memória não se preocupou. Montou em seu cavalo e disparou para o deserto. Durante a frenética corrida clamou em pensamento para que a mesma nuvem de novo o orientasse, pois o sumiço do pergaminho o estava deixando totalmente confuso. A mesma cena se passou. E a voz da nuvem novamente falou com Rigoleto:
- Vá. Mas já não precisa de pressa.
A nuvem desapareceu sem dizer mais uma única palavra. Rigoleto desesperou-se e jogou-se ao chão, desanimado, pois se sentia profundamente infeliz. Amargou de arrependimento por não ter tomado os devidos cuidados com o que era crucialmente importante para a sua felicidade. Em prantos, soluçava, implorando, aos gritos, o perdão ao espírito de seu avô. Nesse momento, a mesma explosão que antes havia ouvido, repetiu-se atrás de si, assustando-o de verdade. Ele virou-se e qual não foi a sua surpresa. O cavalo, o belo e imponente animal, não mais ali se encontrava. Para sua surpresa, o que havia em seu lugar era um enorme e belo camelo. “O que vou fazer com um camelo?” pensou. “Não conseguirei chegar a minha casa ainda hoje. Todos vão ficar preocupados”.
Sem ter outro jeito, com muita dificuldade, montou no animal. A impaciência começou a tomar conta do espírito de Rigoleto. Mas, à medida que as horas transcorriam ele ia adquirindo uma calma e uma tolerância cada vez maiores e então entendeu as palavras que saíram da nuvem: “Você agora não precisa de pressa”. Seus pensamentos se tornavam mais e mais claros e as ideias lhe iam surgindo com incrível facilidade. Rigoleto já era maior de idade e estava um belo e garboso rapaz. Compreendeu que a pressa é a destruição de muitos planos, pois anuvia a mente e anula as chances de ter sucesso. E que a felicidade está mesmo nas coisas mais simples da vida. Raciocinou que a mudança para pior fora o mau uso do pergaminho. Que a felicidade que conseguira fora anulada pelo pedido de Raja que, egoísta, só trouxe tortura e sofrimento. E que bastaria, agora, como terceiro pedido, pedir de volta a felicidade, anulando a infelicidade existente até ali. E foi o que aconteceu.
Chegando à casa, após três dias de viagem, soube da morte de Raja por envenenamento e do restabelecimento do reinado anterior de paz e de harmonia. Pouco tempo depois foi indicado conselheiro do rei e futuro candidato ao trono da Pérsia, conquistando assim felicidade e prosperidade sem limites. Enfim, o mundo com que sempre sonhou.