O Galã Vivaldino de Ialmar Pio Schneider
O TROPEIRO GALÃ VIVALDINO
Ialmar Pio Schneider
Há muitos anos passados, ouvi uma anedota que, a par de ser muito engraçada e trágica, teve o condão de permanecer em minha memória durante todo esse tempo. Tratava-se da história de um pecador, muito mulherengo, que morrera e fora para o inferno. Em lá chegando foi recebido pelo chefe dos demônios que lhe disse:
- Já que não foste lá na terra um dos piores, vou deixar que escolhas aqui teu suplício.
O sujeito vibrou e disse consigo mesmo: “não está tão ruim como eu pensava”. Então saíram os dois por um corredor onde havia diversos quartos com as portas fechadas e chegando ao primeiro, o satanás abriu-o para mostrar ao novel morador o que acontecia lá dentro. A cena era apavorante. Um elemento dependurado num pau-de-arara, levando laço de azorragues com pontas de ferro, e urrando de dor. O cara pensou: “isto é infernal” e falou: - Vamos para o outro, este não me serve.
Voltaram ao corredor, e o demônio abriu outra porta e entraram na sala. O que se viu? Três diabinhos com garfos pontiagudos espetando e atirando contra a parede uma pessoa que escorregava, num abaixamento do piso molhado. Nosso herói também não achou legal esse castigo.
Novamente saíram, agora à procura do terceiro quarto, quando se ouviu uma voz que dizia: “Lá vem ela !” Mais alguns segundos e repetia: “Lá vem ela ! E assim por diante: “Lá vem ela !”
O indivíduo por ter sido muito mulherengo na terra, logo pensou: “É nessa aí que eu vou”. Tendo-o transmitido ao Belzebu este o conduziu à porta de onde vinham aquelas palavras. Abriu-a sorrateiramente e entraram. O que presenciaram era um quadro, por assim dizer, literalmente dantesco, infernal. Dois sujeitos dentro de um tonel repleto de fezes que chegavam até suas bocas, sendo que um era mais baixo que o outro e olhando de soslaio gritava a frase maldita, porque passava rente à abertura do recipiente uma espécie de foice que ameaçava cortar-lhes os pescoços. Então para escapar da degola, tapavam o nariz com os dedos da mão esquerda unidos, indicador e polegar e mergulhavam as cabeças no meio da merda. E o pior de tudo, era que não podiam nem falar, pois não dava tempo e a engenhoca como se fosse um moto-contínuo não parava de funcionar, e continuava eternamente no terrível afã de castigá-los numa tortura psicológica inaudita que fazia arrepiar o mais desumano dos seres.
Então o chefe dos demônios, o Belzebu, dando uma estridente gargalhada que repercutiu em todo o inferno, sentenciou:
- A escolha foi tua; esta é a pena perpétua que deverás cumprir para todo o sempre ! E desapareceu no meio das chamas do fogo eterno.
Diário de Canoas – RS, 07 de junho de 1999.
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EM 04.06.08