A árvore
Teve uma noite conturbada; recheada de pesadelos.
Antes do dia amanhecer já estava acordado, viu através da vidraça os primeiros sinais rosa-avermelhados surgirem antes do sol se erguer. Carla ressonava baixinho, enrolada no cobertor. Levantou-se. Ao chegar à sala – pensou ainda estar sonhando –havia uma árvore. Uma árvore no centro da sala! As raízes grossas haviam arrancado grandes placas do azulejo e empurrado o sofá contra a parede e a mesa de centro contra a estante, a tevê fora esmigalhada e inúmeros objetos minúsculos juntaram-se ao caos no chão. Enquanto isso os galhos muito altos destroçaram o teto lançando cacos de telhas por todo o recinto. Os primeiros raios começavam a surgir timidamente através do grande buraco no telhado e das folhas. Uma seiva amarelada escorria preguiçosamente pelo tronco e alguns insetos quase microscópicos voavam e zumbiam. Respirou fundo algumas vezes temendo perder a sanidade enquanto calculava os prejuízos. Uma árvore realmente nascera na sua sala durante a noite e não ouviram nada sequer? Não ousou tocá-la e nem nos destroços. Voltou ao quarto, deitou-se, abraçou Carla. Ela se mexeu, murmurou algo e continuou dormindo.
Era um sonho, tinha de ser. Adormeceria um pouco e quando acordasse tudo aquilo teria desaparecido. Fechou os olhos, vamos lá, vinte minutos somente.