Impérios ocultos

Capítulo 1

Um baque surdo “blang” seguido por uma ranhura de ferro contra ferro “reinnnplec”, finalmente o ultimo ruído "clack", uma trava se encaixando.

A criatura humana agora estava sozinha dentro de um quarto pequeno, úmido e frio. O leito era uma prancha de concreto e o banheiro ficava ali mesmo ao lado da cabeceira. A criatura toma um livro nas mãos e não se trata de um livro comum, dentro deste havia outros livros. Abre um deles e o folheia, encontra o capítulo de número 23 narrado sobre uma plataforma poética. A criatura angustiada se identifica com o paragrafo indicado pelo fluxograma 3 e o lê. É chocante. A criatura não suporta.

Uma sensação estranha o invade e a criatura busca amparo em uma parede atrás de si. Não é suficiente, os joelhos parecem se fragmentarem como pedreiras numa explosão. Seu corpo desaba e o espectro humano tomba sobre o próprio rosto. O chão fede a urina, fezes e suor de outros que antes já estiveram ali.

Suas lagrimas projetam-se num fluxo e seus lábios balbuciam palavras que brotam de um coração ferido. Ecoam numa brisa que flui de uma pequena janela no alto da parede, e voam em forma códigos poderosos compreendidos em outra dimensão bem distante daquele lugar. O ser que as recebe tem a supremacia do universo, e mesmo sabendo por antecipação a sua origem, não as despreza. Imediatamente, solicita a presença de um servo a fim de delegar-lhe algo. O pequeno que no mesmo instante se aproxima, o faz de cabeça baixa, um sinal de profunda reverencia. Suas asas se escondem embaixo de um manto glacial e o orla de suas vestes arrastam sobre o mármore de ouro que orna todo o lugar. Seus lábios trêmulos balbuciam citações que aquele que está no trono afogueado aprecia como musica ao coração. No salão, amplo como um grande ginásio revestido de placas de ouro, o servo dobra um dos joelhos e se apresenta:

- Eis me aqui Supremo Lord.

- Pegue os suprimentos sobre a mesa Gabriel - disse aquele ser superior, num tom estrídulo e agradável sentado em um trono de fogo cercado por relâmpagos intermitentes, - ai está seu cajado e o mapa de auxilio para o caminho, ele será longo e enfrentará dificuldades. Contudo, não temas. Seu irmão Miguel se apresentará nos momentos mais difíceis e o ajudará em sua jornada. O cantil de prata está abastecido, mas a água não é para ti, sabe que não precisa dela. Vai entrega-la daqui a vinte anos do calendário humano a um Juiz que ainda cursa o primário. Seu nome está transcrito no pergaminho que se encontra junto a sua bagagem. Agora vai. Os querubins da guarda no portão estão autorizados a deixa-lo partir.

- Sim Supremo Lord - respondeu Gabriel. - Sei que tenho o que preciso e, portanto cumprirei a minha tarefa com satisfação, sentindo-me bem aventurado por ser um escolhido para execução do teu desígnio.

O mensageiro curvou-se mais uma vez, levantou-se e foi até a mesa onde pegou o que estava autorizado. Em seguida, deixou a sala da luz e voou em direção aos portões elevados da Cidade Eterna.

***

Os portões se fecharam atrás do ser de vestes brilhantes. As muralhas altas se distanciavam enquanto suas asas pulsavam com suavidade. Um mar de cobre vibrava lá embaixo e um deserto negro se aproximava. Era preciso descer ali, abrir o mapa, medir o caminho e galgar o solo hostil ao norte do Hades – um lugar de tormento. – Campo de criaturas caídas e amaldiçoadas. O calor das chamas não o molestava, já havia passado ali milhares de vezes rumo a lugares e galáxias diferentes. Dessa vez voltaria a via láctea precisamente ao planeta terra. Sempre teve apreço pelos humanos uma das mais belas obras já criada desde os muitos milhares de anos de sua existência. Perigoso, mas é sempre bom voltar ali. Meditava Gabriel imaginando o quanto o planeta mudara, desde a última mensagem do seu mestre sobre um monte a cerca de dois mil anos.

Antes de pousar, Gabriel fez um rasante sobre uma pequena colina, ao atravessa-la, suas sandálias prateadas finalmente tocaram o solo desértico fazendo saltar pequenas porções de poeira e cinzas. Suas asas se fecharam e o manto glacial as cobriu. Era necessário seguir a pé a partir daquele ponto no deserto e não havia alternativas, Gabriel estava vulnerável aos perigos do caminho.

Após longas horas de caminhada, nenhum evento de natureza sombria o incomodou. Gabriel recostou seu cajado em uma pedra e assentou-se próximo a ela, de onde estava era possível observar uma cadeia de montanhas que se estendia a leste de uma floresta aparentemente densa. Em sua orla abria-se varias entradas que poderia leva-lo a distintos planetas e até mesmo a outras galaxias. Gabriel viajava sempre mas ainda não conhecia tudo, por isso era preciso consultar o mapa mais uma vez. Sem perca de tempo, abriu a bolsa que trazia consigo e o apanhou quase lá no fundo, em seguida estendeu o pergaminho sobre os pedregulhos e consultou o seu destino. Uma tarefa bastante simples, mas Gabriel não parece ter gostado do que viu. As manchas vermelhas ocupavam todo o percurso ao longo do mapa, eram como chamas oscilantes em pequenas fogueiras. Aquilo não eram acampamentos. Eram cidades e vilarejos de criaturas que se elegiam como soldados da tribulação, todos alistados para servir sob o comando de um general conhecido como destruidor. Um antigo ladrão, assassino e desolador. Gabriel ligeiramente olhou para trás, não pretendia desistir, apenas desejava ter um exercito em sua companhia a partir daquele ponto da jornada. Por um instante sentiu medo, mas logo encheu-se de coragem ao recordar as palavras do grande Lord: “não temas”.

Gabriel enrolou o mapa e o devolveu ao seu lugar dentro bolsa pendida na altura do quadril. Pegou o cajado instantes depois e voltou-se para as montanhas mais precisamente olhando fixo para o topo.

- São eles. - murmurou baixinho.

As criaturas negras que voavam como abutres entre as camadas de fumaça não possuíam uma aparência agradável. Eram grandes como Pteranodontes e repulsivos como morcegos vestidos numa aparência humana em sua versão mais horrenda.

(Este um pequeno trecho de um novo projeto literário).

Espero que leiam a narrativa e expressem seus cometários.

Sidel
Enviado por Sidel em 01/07/2015
Reeditado em 03/07/2015
Código do texto: T5295604
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