A filha de Terpsícora
O poder discursivo da beleza a acaricia. Talvez tenha sido esculpida por mãos sobrenaturais. Talvez seja fruto de alguma musa: Terpsícora, talvez seja essa a progenitora. Aquela musa de doces movimentos ao vento. Roubando a subjetividade de Machado de Assis: "movimentos lépidos, graciosos, sensuais, mistura de cisne e de cabrita". Sim, com certeza és filha dessa musa, pois possuís os mesmos encantos quando desafiava o ar em provocações. Sim, o ar calmo, tranquilo, em leves brisas, enfureces ao veres os movimentos das mãos, pernas, pés, quadris, seios jogados contra si. Imaginar a mudança repentina de leves brisas à suntuosos vendavais é imaginar a filha de Terpsícora bailando aos ventos.
Talvez seja uma sereia, pois é sabido que Terpsícora é mãe desses seres que levam muitos a ruínas. E se for, ainda no campo do talvez, todos os mortais numa loucura de desejo sonham em ter a coragem de Ulises, só para desafiar o ciúmes dos ventos que tornarão tempestades, e assim, pôr tal admirador diante de seu maior declive, a morte. Talvez, senão a do corpo, a da impossibilidade de sentir tal sensação. Sensações, um mundo à parte que criastes, um mundo em que és rainha, deusa e mulher. És rainha porque és dona. És deusa porque és única. És mulher porque és desejada.
A filha de Terpsícora dança! Faz ouvir as batidas do coração num ritmo forte e intenso. Música vibrante da alma. Sentidos provocam sensações e as sensações mexem com os sentidos. A linguagem do corpo que fala sem voz, diz prazer, o espectador entende sexo. Ora o corpo diz homens, ora o corpo diz mulheres, ora transita entre os dois; o espectador adora, abomina, deseja! Saudade é o que fica no espectador.
A filha de Terpsícora dança! A humanidade chora, ri, se assusta e se surpreende. Dança dando sentido aos sentimentos, provocando sensações aos momentos. A filha de Terpsícora dança sem explicação. A filha de Terpsícora simplesmente dança e o espectador assiste sem ação...