os uirás
Antes de serem pássaros os uirás foram gente,
a sabedoria era cultivada como mel,
o coração era o tambor da floresta.
Não conheciam doenças ou privações.
Foi então que eles chegaram,
reluzentes em suas naus belicosas.
A alegria era um colar de esmeraldas,
e depois se impuseram sobre o clã,
com o poder do metal e do fogo.
E então as flechas cessaram,
e caíram as flautas do céu.
Os uirás antes eram livres,
e vencidos resistiam na bravura.
Do tempo do voo da borboleta à mariposa,
Portiara meditou Tupãna.
Silenciosa,
amarrada ao tronco de pajurá eiei,
era feroz aos olhos do conquistador.
Era a xamã dos uirás,
dos segredos antropozoomorfos de jenipameé,
dos sons sagrados da natureza.
De onde Portiara fez-se cântico antigo,
que os antepassados ofereciam como libertação.
E assim os uirás bateram asas,
e sendo pássaros ergueram-se ao céu.
(...) Conto-te Anaquiraqueriê,
que a solidão no peito é como um pássaro,
que quando canta longe é ouvido.
Mas no ruflar das asas se aproximando,
existe uma escolha,
entre o isolamento e o fazer parte da sinfonia da vida.
Portiara: portadora da canção sagrada;
Tupãna: oração sagrada do uirás;
Anaquiraqueriê: os uirás cantam dentro de você;
pajurá eiei: arvore frutífera ancestral do pajurá;
Jenipameé: escrita mágica com jenipapo).
(terça-feira, 11 de novembro de 2014)