A PROMESSA

Era noite alta, e chovia muito, Virgínia ouvia o som da água se espalhando sobre o telhado e escorrendo rumo ao seio da terra. Comparou a chuva com o pranto que fluia farto dos seus olhos.

Fazia um mês que seu marido partira, carregado pelos braços frios da morte.
Virgínia, nem saberia dizer quantos anos dividiu sua vida com o homem que desde sempre amou. O casamento aconteceu, em uma singela capela, que ficava numa vila, bem distante da casinha que depois da cerimônia, lhes serviu de lar.
Não marcou no calendário o dia do enlace, até porque nunca teve um calendário. Mas sua alma registrou a união com amor, e foram dias, anos e décadas da mais pura devoção.
Na verdade, ela e seu marido, nunca souberam ao certo em que ano nasceram, não tinham registros de nascimento, Virgínia acreditava que tinha 90 anos, ou um pouco mais, Antônio seria quem sabe, um ou dois anos mais velho do que ela.

Deitada na cama que sempre foi dos dois, ela passou a mão sobre o travesseiro do marido, ainda não tinha lavado a fronha, em que ele havia depositado pela última vez a cabeça, nessa hora tantas recordações doces, passearam pelos pensamentos de Virgínia. Antônio costumava lhe afagar os cabelos, e dizer a ela, o quanto era feliz por tê-la por companheira, e sempre afirmava que morreria antes dela. Mas, dizia também, que ela não se sentisse só, pois, ele não se afastaria dela, sempre que possível viria visita-la, e de alguma forma daria um sinal da sua presença.

Com o coração cheio de saudade, pela ausência do querido marido, Antes de adormecer, Virgínia fez sua prece, e pediu para que Deus permitisse que ela sonhasse com Antônio, e assim matasse um pouco da imensa saudade.
O dia já ia alto, quando Virgínia despertou, seu corpo alquebrado pelo peso dos anos, e da tristeza, encontrava certa dificuldade em sair do leito, seus olhos que ja não enxergavam com tanta nitidez, de repente pousaram em uma linda rosa, que descansava sobre o travesseiro de Antônio.
Virgínia sacudiu a cabeça, pensando estar vendo coisas, em seguida fechou e abriu novamente os olhos, e lá estava a rosa.
Emocionada, pegou com muito carinho a flor e a levou bem devagar aos lábios. Não, ela não foi atendida em seu pedido. Ela, não sonhou com Antônio. Melhor do que isso, ele veio visita-la, enquanto ela dormia, e lhe deixou uma rosa, com certeza Antônio a colheu da roseira que ele mesmo plantou no pequeno jardim da casa.
De alguma forma, ela sabia, que ele não podia visita-la quando ela estava acordada. Então, seu querido companheiro, veio enquanto ela dormia, e, cumprindo sua promessa, deixou um sinal, mostrando que ele estaria sempre por perto. Ele nunca a deixaria sozinha.



(Imagem: Lenapena)
Obs.: essa história  ouvi de Dona Nair, uma senhora muito idosa, que conheci há anos atrás em um asilo, ela contou-me que o fato aconteceu com sua tia-avó.
Lenapena
Enviado por Lenapena em 29/05/2015
Reeditado em 29/05/2015
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