750-O MENINO QUE TINHA VISÕES

Joel era um garoto diferente. Muito diferente dos irmãos, dos primos e dos amiguinhos. Desde muito cedo, preferia a solidão às brincadeiras com os de sua idade. Era recatado, não conversava muito, não fazia as artes que os outros faziam.

E tinha visões.

Talvez mesmo antes de falar ou de andar, tivesse visões. Ficava horas e horas conversando sozinho e, por vezes, caia num choro desesperado, apontando para locais onde nada se via.

Aos quatro ou cinco anos, tinha um amiguinho invisível, com o quem não só conversava mas também brincava. Armava brinquedos com ele, jogava bolinha de gude com o parceiro invisível. Com lápis de cor e papéis, desenhava e dizia que os desenhos tinham sido feitos pelo tal amiguinho que só ele via.

Em menino, quase não saia da casa grande, apesar dos convites e estímulos de todos para que saísse, fosse correr no pomar ou aprender a montar o pônei que o pai lhe dera. A fazenda era grande, mas dela Joel só conhecia a casa e poucos locais ao derredor.

Quando foi para a escola, complicou-se. Não fazia amigos e suas “conversas” solitárias o separavam de todos. Começou a ser alvo de chacotas e gozações. A professora, atenciosa com seus alunos, tentou estabelecer um contato melhor com Joel. Ganhou-lhe a confiança e Joel passou a contar coisas que jamais tinha revelado a ninguém.

Disse à dona Berenice que via gente que nunca tinha visto antes. Na fazenda onde agora só passava as férias, via muita gente preta.

— Eles me levavam até onde tinha sido a senzala, e ficavam por ali. Nunca me falaram nada, nunca responderam minhas perguntas, nem seus nomes, quando indagava.

— E você não tinha medo deles? Não tem medo das pessoas que ninguém vê?

— De vez em quando aparece uma mulher muito feia, com cara de má. Desta eu não gosto nem vou onde ela me acena prá ir com ela.

Durante os anos em que Joel frequentou o curso primário, a professora foi sua confidente, e pediu a Joel que continuasse não falando nada com ninguém.

Isso é coisa de criança e adolescente, vai passar. Quanto menos pessoas souberem, melhor. — Pensava ela.

Seguiram-se os anos do curso ginasial. Joel fez alguns amigos, com os quais chegou a confidenciar sobre suas visões. A família ficou sabendo. Joel já não queria ir mais à fazenda, pois lá apareciam os negros – homens, mulheres, meninos e principalmente, das mocinhas que agora ele sabia serem aparições de escravos.

O pai, que entendia muito de lavoura e de gado, sem o menor laivo de entendimento das visões do filho, pensava que o menino era meio tantã.

— Deve ser por parte de sua mãe e seus irmãos, Margarida. Tem muita gente desequilibrada entre seus parentes.

— Que é isso, Joaquim. Como é que você pode falar uma coisa dessas do Joel?

Dona Margarida confidenciou suas preocupações com o filho para a amiga Manoela; num dos encontros da congregação “Filhas do Coração de Maria”, sem querer, falou com dona Berenice, ex-professora de Joel.

— Se a senhora não se importa, gostaria de conversar sobre o Joel.

E foi assim que Berenice contou a Margarida o que ouvira de Joel nos tempos de escola primária.

— Então a senhora sabia e não disse nada?

— Pensava que era coisa passageira... A senhora sabe, coisas da adolescência, que desaparece quando eles crescem.

— Mas está piorando. Ele diz que não tem sossego, principalmente quando vai à fazenda. Por isso, deixou de ir lá até nas férias.

— Ele precisa de tratamento.

— Mas ele não é louco, não, dona Berenice.

— Não é loucura. Joel é paranormal, tem um dom que tanto pode atrapalhar sua vida, como pode ajudá-lo.

— Vou é falar com o padre Graziano, ele vai me explicar melhor.

Padre Graziano, italiano de boa cultura, com jeito, aconselhou a mãe aflita.

— Não é caso de loucura nem de fantasmas. Precisa de tratamento psicológico.

— Pissi.. Pissi.. o quê, reverendo?

— Psicológico. Medico que entende essas questões. Mas não fique com medo. Sei de um que poderá cuidar de seu filho.

Joel já tinha terminado o ginásio à época dessas conversas. Não havia decidido o que fazer. O pai insistia que fosse para a fazenda, cuidar de lavoura e de gado.

— Na fazenda não vou trabalhar. — disse Joel com firmeza, com receio das visões constantes que tinha quando lá estava. — Quero ficar na nossa casa na cidade.

Foi Padre Graziano quem convenceu a família a deixar que o jovem fosse se tratar com o doutor Aldo Moura, que, ainda que novo na profissão, já tinha fama de “curador de louco”.

— Joel terá que ir morar com o doutor. Ele trata de um cliente de cada vez, em sua casa, dando atenção dia e noite.

Numa tarde de julho, chuvosa e fria, Joel despediu-se dos pais e irmãos, para ir morar em Curitiba. No bolso levava o endereço do médico.

A casa desse doutor deve ser um manicômio ou hospício. Ia pensando Joel, receoso do que iria encontrar. E esse médico, sim, que pode ser um maluco de verdade.

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Aos dezoito anos, Joel confirmava a personalidade tímida, reclusa, que evitava novas amizades e, principalmente, de conhecer novos lugares. Em cada novo local que se situasse, novas visões aconteciam, e ultimamente, não eram muito agradáveis as visitas que recebia.

Consciente de que não era uma pessoa normal, ele se enclausurava cada vez mais. Começou a ler livros que tratavam de pessoas com problemas iguais ao seu, mas não eram muitos, e a maioria, ininteligíveis para seu conhecimento. Tinha medo de que a situação evoluísse para um estado de paranoia ou de ficar louco.

Se por um lado estava com certo receio do que iria encontrar na casa do Dr. Aldo Moura em Curitiba, por outro lado via com esperança a possibilidade de acabar de vez com as visões, que teimavam em aparecer, onde quer que fosse.

O entardecer continuava lúgubre, quando chegou ao endereço indicado. Desceu do carro, pagou a corrida, conferiu a quantidade de malas, e olhou ao redor. À sua frente, um portão gradeado, continuação de uma longa cerca que se perdia, de um lado e de outro, na névoa baixa e densa. Olhou por entre as grades antes de procurar a campainha ou o que quer que fosse usado para anunciar sua presença.

Viu apenas as sombras de uma grande edificação, por entre as árvores do imenso jardim. Achou o botão da campainha, que apertou. Não ouviu nenhum som, mas dentro de alguns minutos, um homem chegou vindo o interior do que parecia um castelo: fortemente agasalhado em roupas escuras, calçando botas e um gorro catalão sobre a cabeça, barba por fazer e olhos escondidos sob espessas sobrancelhas

— Olá, meu jovem! Você deve ser Joel Miranda, que o Doutor Aldo está esperando. — A voz, pelo timbre e pela clareza, e o riso enquanto falava, contrastava totalmente com a figura severa do homem que, enquanto falava, destrancou o portão e foi pegando algumas malas. — Meu nome é Miguel. Pode me chamar de Guéu, que é como todos me chamam.

Entraram. Miguel pegou cinco malas com suas grandes mãos e Joel levou duas.

— Pelo jeito, o jovem vai ficar muito tempo;

— Não... não sei. — A timidez se apossou de Joel, que caminhava atrás, levantando a aba do casado para se abrigar do frio.

Aos poucos, na medida em que se aproximara, a grandeza do edifício foi se revelando. Não era um castelo, como parecia à primeira vista, mas, sim, uma verdadeira mansão. Construída no centro de uma vasta área aberta, toda gramada, destacava-se pela imponência: três pavimentos, dezenas de janelas todas com pequena sacada, e a enorme porta da frente, pela qual poderia passar uma carroça ou automóvel. Isto tudo Joel foi observando, apesar da noite que já descia.

Entraram. A um grande saguão, seguiu-se um salão enorme, bem mobiliado com poltronas e sofás, mesas baixas com abajures acendidos, e a numa lateral, a lareira cujas chamas aumentavam a claridade e enchiam de calor o recinto.

Ao lado da lareira, como que em pose estudada, estava um homem com um copo na mão. Demorou-se alguns instantes em deixar a pose, colocar o copo na beirada da lareira e dirigir-se a Joel.

—Ah! Aí vem meu amigo Joel!

Abraçou-o com força, como se fossem velhos amigos se reencontrando. Joel, sem querer, num gesto de empatia, abraçou também o desconhecido.

O doutor emanava um suave cheiro de tabaco. Era um homem mediano, bem vestido. Os cabelos brancos rareavam na testa, estavam bem penteados para trás. A face de um rosa forte e saudável; os olhos azuis e límpidos e a boca bem feita não paravam de sorrir.

— Então, fez boa viagem? — E antes que Joel respondesse, continuou: Ah! Sim, deve estar cansado e precisando de um banho, para descansar e esquentar um pouco. O jantar já nos espera.

E dirigindo-se ao serviçal:

— Guéu, leve as malas de Joel para cima, para seu quarto. Joel, acompanhe o Guéu, ele vai lhe mostrar tudo.

O jantar foi simples. Doutor Aldo não parava de falar.

— Mandei preparar uma refeição ligeira, pois não sei de seus gostos, e alem disso, à noite não é bom encher o estômago. Dá pesadelos.

Joel arriscou uma pergunta:

— Onde estão os outros?

— Quem...? os outros?

— Os outros doentes como eu, que o doutor trata.

— Só trato de um paciente de cada vez, aquí em minha casa. São pessoas especiais que precisam de atenção o tempo todo. Não se preocupe. Sinta-se como se estivesse em sua casa.

Após uma pausa:

—Ah! Sei de suas visões, já conversei com o Padre Graziano e com dona Berenice. Não se trata de nada de grave, fique descansado. Mas quero lhe pedir o seguinte: se tiver visões aqui, me comunique imediatamente. Se possível, quero estar presente quando você tiver essas visões.

— Pensei que o senhor iria me curar, acabar com minhas visões.

— Meu caro Joel, o que você tem é um dom, uma capacidade superior, que poucas, raras pessoas têm. Não é o caso de acabar, mas de orientar essa capacidade para beneficio seu e de outras pessoas, para benefício da humanidade!

O entusiasmo do Doutor Aldo não contaminou Joel.

— Não gosto delas.

— Sim, é penoso, pois você ainda não sabe como lidar com as visões. Quando souber, verá que poderá conviver com elas.

A primeira noite de Joel na mansão do doutor Aldo foi insone. As poucas informações e comentários (conversaram, ou melhor, o doutor falou quase o tempo todo) viraram o mundo de Joel de pernas para o ar.

Não sei de aguento ter essas visões a vida inteira. Acho que ficarei louco. — pensou Joel, enquanto o sono não chegava.

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Aos poucos, Joel foi se colocando à vontade na imensa mansão. Seus dias eram vividos na placidez de um local afastado da cidade, sem o burburinho nem as inconveniências do movimento urbano. Tinha liberdade de andar por toda a mansão e pela imensa área ao redor.

O edifício ficava no centro de uma área relvada, sem jardins. Margeando essa área, um bosque ocupava o restante da propriedade, em cujos limites corria um regato. Não se sabia exatamente os limites da propriedade e a mata cerrada, intocada e selvagem, que parecia não ter fim.

Não foi imposto horário a Joel a na ser para as refeições. Não tomava remédios nem tinha qualquer coisa que se pudesse chamar de sessões de terapia.

As recomendações do doutor eram simples, mas claras:

— Quer que você viva como se estivesse em sua casa. Leia, caminhe, entre pela floresta. Não tem perigo. Só quero que me conte quando tiver visões. Quero saber, e se possível, quero estar com você quando tiver visões.

O doutor saia diversas horas durante o dia, de manhã e à tarde, para ir ao seu consultório no centro da cidade, ou para visitar o hospital psiquiátrico. Os únicos moradores da mansão, além do doutor e de Joel, eram Miguel, e sua mulher, Tereza. Miguel contratava, durante a semana, auxiliares para os serviços externos ao redor da casa – limpeza, corte de grama, coisas assim. Tereza também tinha auxiliares que trabalhavam durante o dia, na limpeza e arranjos da mansão. Ela mesma cuidava da cozinha e servir s refeições.

Não demorou nem quinze dias e Joel foi visitado. Estava lendo na biblioteca quando chegou um vulto, vindo do corredor principal. Um homem vestido com terno completo, colete e gravata larga, chapéu coco, usado há muito anos atrás. Uma figura grave: idoso, rosto raspado à exceção de um cavanhaque. Joel ficou estático, aguardando. O velho deu uma volta pela biblioteca, com passos curtos. Parou defronte a uma prateleira de livros e olhou para um volume grosso, finamente encadernado em curo vermelho. Aproximou a mão direita, o dedo indicador estendido, como que pretendendo pegar o livro. Virou-se para Joel, que pode ver as profundas cavidades onde deveriam estar os olhos. E desapareceu.

Naquela noite Joel contou ao doutor a visão. O doutor não estranhou, antes, se interessou muito pela narrativa do jovem.

— Vamos à biblioteca ver o livro que interessou ao velho. — disse a Joel.

Na prateleira, o livro de capa vermelha se destacava.

— É um livro com a biografia de Jonas Gonzaga, o homem que construiu esta mansão. — Explicou o doutor, abrindo o livro — Era muito importante, um milionário, dono de terras no norte do estado.

— Então, esta mansão tem história! — Disse Joel, em tom de brincadeira.

— Nada demais. Sente-se aí, vou lhe contar.

E contou.

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“Jonas Gonzaga foi um magnata. Ficou milionário vendendo terras no oeste do Paraná. Terras boas pra café. Tinha mais terras do que alguns países da Europa. Herdara as terras do pai, que herdara do avô... essas heranças fabulosas.

No auge da sua vida, montado em milhões de contos de réis, mandou construir esta mansão. Muita coisa aqui foi importada da Europa. No Sul do Brasil não tinha construção mais luxuosa. E aqui viveu com a família durante alguns anos. Teve dois filhos, Claudio e Edmur.

Dois filhos tão diferentes como água e vinho. Claudio seguia a personalidade do pai, era dinâmico, inteligente, estudioso, trabalhador. Já Edmur... totalmente o contrário, além de uma índole má. E gastador.

Jonas Gonzaga, o famoso Comendador Gonzaga, era um homem austero e de princípios rígidos. Ante as tendências perdulárias do filho caçula, legou todos os bens para Claudio, e só na falta deste é que os bens passariam para Edmur. Para Edmur, assegurou uma pensão vitalícia, pois do contrário o perdulário acabaria com o patrimônio em dois tempos.

Em boa hora o comendador fez o testamento. Ele morreu poucos meses depois do testamento, e a mulher o seguiu sem tardança. Morreram de causa ignorada. Não eram idosos e aparentemente não padeciam de qualquer doença. Claudio residia na Europa, estudando, e para lá voltou, tão logo os pais foram sepultados. A Morte rondava a família e levou Claudio pouco tempo depois. Parece que foi enterrado em Lisboa ou numa vila próxima, conforme documento apresentado por Edmur, para assumir a posse da mansão e de toda a fortuna deixada pelo pai, como herdeiro final e foi enterrado numa remota vila de Portugal.

Edmur morou alguns anos nesta mansão. Entrou para a política, gastou dinheiro adoidado e teve que vendê-la. Comprei-a por bom preço. Depois Edmur foi morar em Brasília, local ideal para exercer a politicagem.”

Enquanto doutor contava a história, Joel folheava o livro. E deparou-se com uma foto de Jonas Gonzaga. Foto de estúdio, posada e naturalmente, quando o fotografado teria seus trinta anos.

— É interessante a semelhança do homem da fotografia com o que me apareceu há dias. Poderia dizer que seria ele, mais velho, ou então, de seu pai.

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Novas visões ocorreram a Joel. Sempre o velho, fosse ele o próprio Jonas ou o pai. Na aparição seguinte, o vulto etéreo acenou para Joel, como que pretendendo ser seguido. Joel o seguiu por todo o segundo andar até a grande escadaria. Guardava uma distância de uns dois metros e o vulto olhava insistentemente para trás, a ver se estava sendo seguido por Joel. De repente, a luz de um relâmpago inundou tudo o ambiente, cegando momentaneamente Joel. Quando voltou a ver, o vulto tinha desaparecido.

Numa terceira e quarta vez, sempre na ausência do doutor Aldo, o velho urgia para que Joel o seguisse, e tomou a direção do porão. Mas em ambas às vezes, esvaneceu-se antes de chegar a qualquer lugar que pudesse ser considerado como definitivo.

Numa noite fresca de verão, estando o doutor em casa, e conversando com Joel, eis que aparece a figura etérea.

— Doutor, ele está de volta. Está de pé, bem atrás de sua poltrona.

— Pergunte o que ele deseja.

A pergunta não teve resposta, ou melhor, o velho acenou para Joel, novamente indicando que o seguisse.

— Devo segui-lo. O senhor vem comigo, doutor?

— Claro, Vamos lá.

Desceram as escadas que levavam à grande sala e depois, outra sequência que os levou até o porão. Entraram. A figura etérea do velho sempre à frente.

O velho parou no meio do porão, voltou-se para Joel e o doutor, e exibindo indisfarçável sorriso, desapareceu.

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O doutor mandou Miguel contratar dois homens fortes, para tirarem as pedras do piso do porão, no local onde a visão desaparecera. Os três homens tiraram cm facilidade as pedras do chão e em seguida, sob as ordens do doutor, começaram a cavoucar a terra macia.

Não cavoucaram nem meio metro e deram com ossos humanos e uma caveira.

— Parem! — Ordenou o doutor. — Deixem assim, vou chamar um delegado de polícia.

Cerca de meia hora depois, com a presença do delegado Diaz e de seu escrevente, os trabalhos foram recomeçados. Desenterraram uma ossada humana.

Enquanto manuseava o macabro achado, o Diaz mostrou a caveira ao doutor Aldo, observando:

— Veja esta parte do crânio, está afundada. Sinal de que houve uma pancada, que pode ter sido a causa da morte deste infeliz, seja lá quem for.

Os ossos do esqueleto foram levados pelo policial, para ser submetido aos exames de praxe: arcada dentária, tamanho, e outros.

O delegado comunicou o resultado ao doutor, em uma visita pessoal.

— Temos quase certeza, a ossada é do filho mais velho do Comendador Gonzaga. Claudio era seu nome. Mas ele teria morrido em Portugal.

Joel escutou em silêncio. O doutor divagou:

— É, consta dos registros que ele morreu por lá. Mas como poderia ter sido enterrado aqui, no porão da casa?

E o delegado continuou:

— O crânio afundado na parte de trás, me leva a suspeita de um crime.

Perguntando para si mesmo: Quem seria o maior beneficiário da morte do senhor Claudio?Esta é a primeira pergunta que se faz para iniciar uma investigação.

Puxando um cigarro do maço amassado, prosseguiu:

— A resposta é uma só: Edmur, o irmão mais novo.

O Delegado Diaz, antes de divulgar qualquer notícia ou fazer qualquer movimento que pudesse alertar o suspeito, fez rigorosas investigações. Ao final das quais pode pedir a Juiz uma ordem de prisão contra Edmur Gonzaga.

Preso e cercado por todos os lados das evidências de ter sido o assassino do irmão acabou confessando. Matara o irmão usando uma barra de ferro. E depois, caindo numa profunda depressão, confessou ter envenenado o pai e a mãe. Para ficar com a herança do pai, da qual se julgava injustamente — e, talvez, com certa razão — lesado.

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Joel tinha acompanhado tudo sem mostrar medo ou qualquer outro sentimento patológico.

Terminado o processo legal, o doutor Aldo deu alta a Joel.

— Você ficou comigo por quase um ano. É um jovem completamente normal. E agora que você sabe que pode usar de seus dons para beneficiar pessoas e até esclarecer mistérios, você pode seguir sua vida. Não é uma aberração, mas uma pessoa dotada de um poder extraordinário. Aproveite e siga a vida.

Joel deixou a mansão onde ocorreram tantas mortes, com o espírito aliviado, consciente de que, dalí para frente, suas visões dos mortos só poderiam ser interpretadas em beneficio dos vivos.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 29 de setembro de 2012

Conto # 750 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 08/04/2015
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